Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Pelo direito de ser contra

Amigo torcedor, amigo secador, a essa altura da saga copeira, o ufanismo já suplanta a descrença e a pachequização é inevitável. Não tem jeito, quase me rendo.


O corvo Edgar, porém, não desiste nunca, embora o seu agouro tenha funcionado, até ontem, só para eternos favoritos como Itália e França, campeã e vice da última Copa. É, nem sempre a doce vida acaba em pizza e escargot. Que maravilha!


O que nos interessa, todavia, é a cruzada explícita anti-Dunga, sem a enganação dos sonsos que torcem contra, disfarçados de imparciais na mídia. Pelo direito de não torcer pelo Brasil, ora pois. Pelo direito sagrado e anárquico de anular o palpite e o voto em todos os bolões e eleições.


Sim, contra a ideia de uma pátria em chuteiras, tio Nelson, afinal de contas, nos Tristes Trópicos, nem todo mundo calça 40.


‘Enquanto houver o dunguismo, há desesperança’, grasna, injusto e trocadilhesco, o meu estimado bicho, feliz com a efeméride dos 20 anos da derrota do Brasil para a Argentina, em junho de 1990, marco histórico da era Dunga. Seu companheiro de Copa, safári e boleros, Chico Bacon, admoesta, com a azeitona filosófica dançando no céu do palato: ‘O cara está no caminho certo. E, quer saber, azarildo, comigo não tem `perhaps´, é pá e bola: já que não tem tu, vai tu mesmo, chega de pensamento negativo’.


Caças e caçadores


Dito isso, os cravos obsessivos foram consolar as dinamarquesas, as loiras injustamente eliminadas do torneio caça-níquel da Fifa. Devotos do cancioneiro brega, a trilha sonora dos vagabundos não poderia ser outra. ‘Encosta tua cabecinha no meu ombro e chora / e conta logo tuas mágoas todas para mim’. De quinta.


É, quanto mais fracassam, no flerte e na alcova, mais pensam naquilo. Ao contrário do que imagina Alecko Eskandarian, ex-parceiro de time do herói americano Donovan, um gol ou um triunfo ludopédico jamais serão melhores do que sexo, como disse o gringo. Ficamos com o clássico grafite de banheiro: ‘Sexo e pizza são sempre muito bons, mesmo quando são muito ruins’.


Líricos no último, Edgar e Bacon, sempre crentes no safári da vida e nos ditos populares de caças e caçadores, foram vistos ontem nos braços de duas princesas de ébano. Deu zebra também no amor.