Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Pesquisa e a momentânea realidade

Numa semana praticamente pautada pelo noticiário econômico – devido às suscetibilidades do senhor mercado – o resultado da pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial, apontando a vantagem de Lula, parece ter jogado, novamente, um balde de água fria nos opinionistas empenhados em fustigar o presidente e suas pretensões sucessórias.

Algo parece fora de foco – e por mais que muitos colunistas se esforcem em criticar duramente o governo (e todas as falcatruas), o presidente paira acima dessas críticas – ou porque não se consegue realmente provar nada contra ele, ou porque as percepções revelem realidades distintas, não distinguidas pelos clarividentes analistas.

Talvez não seja nem uma coisa nem outra – o Brasil é um país demasiado complexo para caber nas explicações reduzidas (ou reducionistas?) ao espaço gráfico das colunas jornalísticas e dos comentários televisivos. A realidade é múltipla – e o panorama eleitoral parece não oferecer outras perspectivas, como se uma ‘mudança’ pudesse ser ainda pior – eis o grau de descrédito político, e o imenso fosso social que se aprofundou numa verdadeira luta (velada?) de classes. Talvez não esteja tão errada (como se quis fazer parecer em alguns meios) a declaração do governador de São Paulo Cláudio Lembo sobre a responsabilidade da ‘elite branca’ (nos episódios de violência das últimas semanas em São Paulo) por anos de descaso com os mais pobres.

‘Elite branca’

Essa mesma elite política (inconformada e perplexa) paga o preço da ‘despolitização’ social gestada durante anos de poder – embora todos (e principalmente os menos favorecidos) tenham de pagar o preço do atraso e das desigualdades.

É hora de ajustar o foco – e em se acreditando no tom amenizador da abertura do Jornal da Globo de quinta-feira, a tal ‘elite branca’ ainda pode dormir tranqüila (protegida, é claro, pelos aparatos de segurança), pois estas pesquisas refletem ‘apenas’ o momento atual. Isto quer dizer que o jogo pode virar.

Afinal, o ‘populacho’, uma hora ou outra, tem de aprender a votar. Certamente a campanha presidencial promete, e muito.

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Funcionário público, Jaú, SP