Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Pessimismo econômico coloca jornais em alerta

A onda de pessimismo econômico que começa a se espalhar sobre a Europa, como uma nuvem vulcânica, coincide com a disseminação de rumores cadavez mais fortes sobre o agravamento das dificuldades financeiras de alguns dos mais tradicionais grupos jornalísticos do Velho Mundo.

A preocupação já vinha de antes, mas se agravou quando o The Guardian, um dos lideres da imprensa britânica admitiu um prejuízo recorde equivalentea cerca de 50 milhões de dólares, só no ano passado. As perdas acumuladas no jornal, que é considerado um dos mais bem diagramados da Europa, estariam chegando perto dos 70 milhões de dólares, colocando um difícil dilema para seus controladores.  

The Guardianapostou na qualidade informativa, sendo um dos raros jornais mundiais que evitaram cortes drásticos na redaçãoda versão impressa para manter os padrões de noticiário que o tornaram famoso no mundo inteiro. The Guardian tem hoje cerca de 630 jornalistas na redação, enquanto os demais jornais britânicos do mesmo porte têm menos de um terço deste efetivo.

Mudanças gerenciais

O corte na carne parece agora inevitável na redação que resistiu à política de enxugamento das redações adotada pela esmagadora maioria da imprensa mundial. Fala-se também que o jornal mudaria radicalmente a sua versão impressa paratransformá-la num veiculo analítico, em vez de noticioso. Outra consequência da crise seria o aprofundamento da opção pela via digital, na qual o Guardian Online é considerado um paradigma jornalístico embora ainda não seja auto-sustentável financeiramente.

O acúmulo de perdas anuais resultantes da queda da publicidade na versão impressa parece tornar irreversível a necessidade de uma opção editorial,antes que seja demasiado tarde. O Guardian já havia feito uma aposta pesada na informação digitalizada, há cinco anos, quando a maioria dos demais jornais ainda estava em cima do muro. Mas seu projeto estava, e ainda está, muito dependente do faturamento da edição em papel.

A dificuldade em recuperar a lucratividade está levando vários outros jornais europeus, especialmente os da Grécia, Inglaterra  e das antigas repúblicas da União Soviética, a vender seu patrimônio para investidores, definidos pelo critico da mídia do The Guardian, Dan Sabah, como os “novos plutocratas” da imprensa.

Entre eles estão o magnata russo Alexander Lebedev e os donos do banco Barclays, respectivamente os novos proprietários dos jornais Evening Standard e News International.O mesmo Sabah, depois de analisar a crise no seu próprio jornal, admite que a imprensa britânica está a um passo de perder o seu caráter nacional,dada a irreversibilidade de mudanças gerenciais para transformar os grupos jornalísticos em conglomerados multinacionais.