Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Por que prestigiar um notório candidato?

Jornalismo ou marketing político? Na coluna de opinião da página 2 do jornal Folha de S.Paulo, antes ocupada pelo historiador Boris Fausto, José Serra (PSDB) desferiu críticas voluptuosas ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e ao PT. Isso já era esperado, devido ao tucano ser do partido de oposição e ter sido derrotado à eleição presidencial de 2002. Em seu último texto, ‘Da coluna às urnas’, Serra se despedia dos leitores, rumo à disputa da Prefeitura de São Paulo, sua terra natal.

O estranho, e cabe reflexão dos leitores, é: por que Serra foi prestigiado como articulista de um jornal com sede em São Paulo, sabendo-se que 2004 era ano de eleição para a prefeitura da capital paulista? Como candidato forte e de influência nacional, o ex-ministro da Saúde da gestão FHC viu-se presenteado com um espaço no jornal. E, percebendo isso, sua candidatura foi valorizada – e priorizada – por filiados e aliados do PSDB.

De primeira instância

A pergunta que fica no ar é: até que ponto a Folha terá contribuído para uma eventual eleição de Serra, já que nos bastidores do poder sua candidatura à prefeitura era cogitada antes do convite ao colunista? O papel do jornal e do jornalismo é manter-se isento em questões cruciais, isto é, seu envolvimento com assuntos de interesse público não deveria passar da esfera informativa, reflexiva e construtiva à formação de opinião. Para isso ocorrer, a impressa deveria manter-se apartidária em relação às eleições. Serra nunca deveria ter sido chamado para assinar uma coluna num importante veículo de comunicação, e principalmente em São Paulo.

Essa pequena experiência do candidato leva os mais antenados a crer que essa atitude foi puro marketing político para alavancar a candidatura de Serra. Lembremos a cobertura da Folha nas eleições presidenciais em que, assumidamente, apoiou o candidato tucano. Sem contar a afinidade que Serra tem com a família Frias. Discute-se aqui não a índole da candidatura de Serra, e sim a participação nela de um dos jornais mais importante do Brasil na acirrada disputa à Prefeitura da maior e mais rica capital do país. A manipulação de forma inteligente e sutil enganará a muitos, mas não aos mais informados e conscientes de que, para se ganhar uma eleição, o marketing político tem papel preponderante, ainda mais com um veículo de comunicação fazendo o meio-campo.

Seja quem for o prefeito da capital paulista após as eleições – pouco importa sua vitória propriamente dita –, o que se espera é uma preocupação com a cidade em seus aspectos mais prioritários, já que a violência, o desemprego, os problemas habitacionais, o caos no trânsito, o transporte e outros fatores de primeira instância estão tão necessitados como a imprensa de um modo geral.

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Estudante, São Paulo