Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Por que retirei o artigo

Antes de mais nada, é preciso esclarecer que, diferentemente do que diz o título que encima este texto, quem retirou meu artigo do ar foi o Observatório da Imprensa e não eu, pois não tenho a prerrogativa de influir no que o site publica ou deixa de publicar. Contudo, até em benefício do OI, informo que a retirada do artigo ‘Para entender um observador’, publicado na edição nº 416 do site até sábado (20/1), foi feita a meu pedido por razões que explicarei mais adiante.


Uma explicação que julgo extremante pertinente dar é sobre a razão que me levou a escrever este texto. O que acontece é que colaboro com o OI (através de meus artigos) já faz uns três anos. Assim, estas palavras constituem, antes de tudo, uma manifestação de respeito pelos leitores do Observatório, pois alguns deles têm me enviado e-mails ou postado comentários em meu blog perguntando a razão da retirada de meu artigo do ar.


O texto de minha autoria supra mencionado foi escrito como uma espécie de homenagem a uma conduta do OI que, em minha opinião, contrabalançava a mutação sofrida pelo observador mor da imprensa Alberto Dines, que passou a observar prioritariamente o governo Lula, seu titular e seu partido. Tal conduta, vale explicar, deveria ser debitada na conta desse observador, pois é dele, em última instância, a prerrogativa de adotá-la. E a conduta a que me refiro é a de o OI ter voltado a permitir o contraditório em sua plenitude, depois de um período de meses em que eu, pelo menos, fui ‘inexplicavelmente’ barrado no veículo como articulista.


Entretanto, no decorrer da semana passada, surgiu uma polêmica que achei que valeria a pena aprofundar, porque tinha potencial de revelar quão espúria era uma argumentação que vinha ganhando corpo no Observatório. Leitores alinhados com a linha pró-tucana-pefelê-oposicionista e antilulista-petista de Alberto Dines, junto deste e de outros observadores da imprensa, passaram a fazer acusações de que a expressiva maioria de leitores do OI que vinha criticando Dines e o próprio OI às centenas era constituída de ‘petistas’. Tal argumentação visava claramente desqualificar a ‘legião’ de leitores discordantes, colocando-os num só balaio de partidários petistas engajados, possivelmente atuando a soldo do PT.


Apesar de minhas reiteradas declarações de que não tenho, nunca tive e pretendo nunca ter relações de qualquer espécie com a classe política – declarações feitas no mesmo sentido por muitos outros leitores ‘petistas’ –, continuamos, a maioria dos leitores do OI que se manifesta, sendo acusados de atuar de forma orquestrada naquele espaço.


Alguns pouquíssimos personagens (leitores-comentaristas das matérias do Observatório) alinhados com o pensamento político de Dines vêm se destacando por força da participação furiosa que têm apresentado, chegando ao ponto de conseguirem equilibrar o debate em número de comentários.


Outra característica desses personagens tem sido a acusação reiterada de que os leitores que se opõem a Dines seriam ‘petistas’. Assim, uma descoberta que fiz casualmente sobre um dos mais ativos ‘caçadores de petistas’, a transportei para os comentários de um dos artigos anti-PT de Dines que mais indignação causou à maioria do leitorado do OI.


A ‘polêmica Clerton’


Descobri que um dos leitores alinhados com Dines (chamado Clerton) que mais acusações tem feito de que os que pensam diferente dele seriam ‘petistas’, mantém relações, digamos, intensas com ao menos um político da oposição a Lula. Um leitor meu, indignado com as acusações jocosas de que seus contrários seriam ‘petistas’, postou comentário em meu blog relatando que havia pesquisado o nome completo de Clerton no Google e que havia encontrado a informação de que ele havia doado milhares de reais a um político do PPS (partido aliado do PSDB e do PFL) que responde a processo criminal e que chegou a ter sua candidatura nas eleições do ano passado cassada por esse motivo, mas que conseguiu reverter a cassação liminarmente porque o processo a que responde ainda está tramitando.


O que me parece importante extrair desse fato é que alguém que doa milhares de reais a um político da oposição a Lula e freqüenta sites variados sobre política para defender a oposição anti-Lula e PT e atacar a estes, pode fazer qualquer acusação a quem quer que seja, porém nunca a de que alguém atua sob motivações políticas. Assim, o discurso acusatório de alguns observadores da imprensa e de leitores como Clerton perdeu, no mínimo, a credibilidade.


Em meio à polêmica que o próprio Observatório classificou como ‘polêmica Clerton’, o dito-cujo, após insultar-me de todas as formas por conta da revelação sobre ele que fiz, reclamou de que eu alegava que ele teria doado ‘milhares de reais’, mas que eu não dizia quanto era isso. Em comentário postado no OI, dei a informação que o leitor reclamava. Até para mostrar que ninguém ‘investe’ uma quantia daquela na campanha de um político indiciado criminalmente se não tiver relações políticas muito bem consolidadas, e que, portanto, acusar os outros por manter tais relações não era correto.


Um testemunho


Apesar de minha atuação na ‘polêmica Clerton’ vir se pautando pela boa educação, conforme atestou o próprio Observatório (o que demonstrarei adiante), para minha surpresa meu comentário respondendo ao comentário de Clerton foi censurado. Perplexo, enviei mensagem ao OI pedindo explicações sobre tal absurdo. Vejam a resposta do veículo que me foi enviada por e-mail:




‘Caro Eduardo, seu comentário anterior sobre a `polêmica Clerton´ não foi publicado junto com alguns outros comentários feitos por outros leitores sobre este mesmo tema. Por mais que os seus comentários sejam educados, a maioria dos outros não é. As ofensas começaram a ficar pesadas e, para evitar que este espaço democrático se transforme em um bate-boca contínuo, resolvemos encerrar o assunto por aqui. Afinal, somos o Observatório da Imprensa, não o Xingatório dos Leitores. Espero que possamos contar com a sua compreensão. Cordialmente, a equipe do OI’


Respondi à ‘equipe do OI’ que não poderia contar com minha ‘compreensão’ porque era injusto porque alguém de quem julgo que a máscara caiu (o Clerton) havia dado a última palavra do debate insinuando que eu aludia a ‘milhares de reais’ que ele doou ao tal político da oposição a Lula porque o valor doado seria irrisório. Detalhe: o valor doado (ao menos o registrado) é de R$ 6 mil, quantia que estou certo de que raríssimos cidadãos brasileiros, mesmo que dela dispusessem, doariam a um político ‘desinteressadamente’ e com vistas a ‘participar da vida política da nação’. E, como se não bastasse, além de justo eu ser o censurado, Clerton continuou com suas acusações de que outros leitores eram ‘petistas’.


Em vista disso, do que considerei manipulação de um debate em que o cavalo de batalha de Alberto Dines e de uns poucos comentaristas havia sido derrubado fragorosamente, achei que o artigo em que homenageei o apoio à liberdade de expressão que Dines vem imprimindo ao OI havia sido irremediavelmente comprometido, o que tornava meu artigo sem sentido.


Concluo reiterando a informação de que este artigo foi escrito em respeito aos que me lêem no Observatório há alguns anos e, também, na forma de um testemunho de que se o OI censurou algo meu, não foi o artigo ‘Para entender um observador’, retirado do ar extemporaneamente.


***


N. do E.: O articulista demonstra não conhecer a história do Observatório, nem seu caráter plural de origem, quando afirma ter este veículo ‘voltado a permitir o contraditório em sua plenitude’. O contraditório sempre teve espaço no OI, já faz mais de dez anos. Considera-se ‘`inexplicavelmente´ barrado no veículo como articulista’, o que não é verdade: uma busca no site mostrará quantas vezes assinou matérias aqui. Talvez pretendesse que o OI reproduzisse tudo o que envia para nossa caixa postal, ou que habitualmente distribuiu em suas listas de e-mail, ou que publica em seu blog. Não foi, não é e nem será o caso. (Luiz Egypto)