Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Primeira Página

PORTUGAL
Deonísio da Silva

A língua deles não é a nossa, 24/5

‘ Que gostoso é ouvir o português de Portugal! Quantos saberes e sabores diferentes dos nossos! A transmissão dos jogos de futebol é deliciosa. ‘O guarda-valas afogou o peixe e o avançado da camisola nove, um caga-na-saquinha, está todo arreganhado’, isto é, o goleiro fez confusão e o atacante da camisa nove, um medroso, está com muito frio.

E esta notícia comentada, vejam que maravilha: ‘a gaja, um borrachinho, estava às aranhas, meteu o pé na argola, a motorizada estampou no breque de rabo de peixe cheio de meninas e de putos, conduzido por um cabeça de turco de três boates que agora está a pedir chuvas ‘.

Tradução: a moça, uma gata, estava distraída, cometeu uma imprudência e a moto bateu na traseira de uma limusine cheia de meninas e meninos, dirigida pelo testa-de-ferro de três boates, que estava precisando de castigos.

Borrachinho é filhote de pombo. Virou mulher jovem e bonita. Borrachinho lá, gata aqui! Eles adoram pombinhos. Nós, gatinhas.

A mesma notícia dizia que ela era uma possidônia, morava onde o Diabo perdeu as botifarras, recebia piropos de todo mundo e era pirisca de um criador de pintadas. Isto é, ela era vulgar, aparentava o que não era, morava onde o Diabo perdeu as botas, recebia cantadas de todo mundo e era amante de um criador de galinhas d´angola.

Tenho paixão por descobrir a origem de palavras e expressões de nossa língua portuguesa. Mas certas expressões vigentes em Portugal e nas nações africanas de língua portuguesa são de difícil rastreamento. Daí a porca torce o rabo.

Aliás, está é uma expressão obscena, pois ela torce o rabo quando o cachaço está em cima dela. E cachaço em português não é o porco reprodutor, mas nuca, pescoço. Talvez o garanhão da porcada tenha recebido este nome no Brasil porque ele se apóia no cachaço da porca, onde fica fungando enquanto a insemina.

Em Portugal, caipira não se aplica ao roceiro. Caipira significa pão-duro, que nada a ver com pão, mas que designa o sovina, aquele que guarda as coisas em vez de desfrutá-las. Nasceu do costume daqueles que não comiam o pão, guardavam para o dia seguinte, e ele ficava duro, difícil de mastigar, ainda mais que antigamente Portugal tinha poucos estomatistas, isto é, dentistas. Comer pão duro sem dentes…

Os portugueses afiam, não apontam o lápis. Eles são mais lógicos do que nós. E se apontássemos o dedo como apontamos o lápis?

Em Portugal, como vimos, estampar não é imprimir, é colidir no trânsito. Deve ter sido influência do francês estamper, bater, esmagar. E para nós a origem foi outra, o frâncico stampôn, pilar, degrau, onde gravavam efígies e figuras de pessoas importantes, como os poderosos da ocasião, que botavam a cara deles em tudo.

Outro dia vi a estampa de um rei que se chamava Ninguém Primeiro. Genial! Sutil ironia de quem fez aquele selo, mostrando como o poder é passageiro.

O Uruguai anunciou que a segunda língua a ser ensinada nas escolas públicas será o português. Mas qual? Tomara que seja o do Brasil.(xx)’

 

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