Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Publicações de oposição são fechadas no país

Dois jornais de oposição foram fechados no Irã, na segunda-feira (11/9), em uma clara demonstração da determinação das autoridades em silenciar vozes dissonantes sobre questões relacionadas ao programa nuclear do país.


O mais importante diário reformista iraniano, Shargh, publicou, na semana passada, cartum que supostamente gozava do presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad e do modo como seu governo debateu questões nucleares com o Ocidente. No desenho, um cavalo e um burro se encaram em um tabuleiro de xadrez. O burro – na cultura iraniana, símbolo da ignorância – tem sua boca aberta e aparece iluminado; o cavalo não expressa nenhuma emoção. Aparentemente, o judiciário do país entendeu o burro como o Irã nas negociações nucleares com representantes ocidentais. Ahmadinejad teria dito, em discurso na Assembléia Geral da ONU no ano passado, que sentia que havia uma luz a sua volta.


‘Nós recebemos uma ligação do Conselho Superintendente de Imprensa dizendo que não temos o direito de publicar nosso jornal a partir de hoje’, contou o editor do Shargh Mohammad Ghouchani. A agência de notícias oficial do Irã divulgou que o diário havia sido fechado por ‘dezenas de violações’, incluindo a publicação do cartum e ‘publicação de material contra as determinações do Conselho Supremo de Segurança Nacional [responsável pelas negociações nucleares com o Ocidente]’.


Poema


A publicação política mensal Nameh também foi proibida de funcionar. Segundo o editor Majid Tavallaei, o estopim para o fechamento foi um poema da poeta dissidente Simin Behbahani. ‘A publicação do poema parece ter sido a razão principal. Eles [o judiciário] o tomaram como um insulto’, afirmou.


A imprensa no Irã sofreu durante os confrontos entre o governo do presidente reformista Mohammad Khatami (1997-2005) e o judiciário linha-dura, que fechou mais de 100 jornais pró-reforma e aprisionou dezenas de jornalistas sob acusações vagas de insulto às autoridades. Segundo o legislador reformista Esmaeil Gerami Moghadam, a nova onda de repressão significa tolerância zero aos profissionais e veículos de imprensa no país. ‘É uma mensagem clara de que eles não vão tolerar vozes da oposição’, afirma. Informações de Ali Akbar Dareini [AP, 11/9/06].