Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Qual é a de vocês?

O primeiro baile que o Brasil levou na Copa veio das crônicas futebolísticas. Sem substância, pachorrentas, repetitivas e quase sempre tendendo ao senso comum. Com centrais luxuosas, links ao vivo, artistas dando palpite e jornalistas-blogueiros-enviando-de-laptops-velocíssimos-textos-apressados-e-sem-conteúdo, formam uma dos primeiros sinais de nossa decadência.

Palpiteiros, berravam: ‘Ronaldo acabou’! Ronaldo faz dois gols e todos se esquecem do que disseram: ‘É, não se pode subestimar um craque, ainda mais um Fenômeno’, repetiam, lambendo suas feridas de vira-latas. Depois diziam: ‘Coloca o Juninho’. Juninho entrou, chorou no hino francês e nada mais fez! ‘Coloca Ronaldinho na frente, como ele joga no Barça’. Colocaram, também nada fez. Aí eu pergunto, qual é a de vocês?

Agora que perdemos, os tais blogueiros-palpiteiros se arvoram em acusar o Parreira, porque o culpado é sempre o outro. Acusam um de gagá, outro de mascarado, o outro é gordo, um omisso, outro leniente etc. Só os repórteres acertaram em seus prognósticos de pitonisas bêbadas! Porém, eu os acuso. Farei como Zola no caso Dreyfus. As provas que vocês têm são falsas, seus argumentos são pura retórica.

Primeiro chegaram deslumbrados à terra do chucrute e nos venderam a Alemanha de Goethe, porque não queriam ver a Alemanha de Schumacher e Klinsmann. A Alemanha agora é uma só, disse o patriota Klinsmann, que vive nos Esteites e por lá quer ficar, nas ensolaradas praias da Califórnia. E para os jornalistas brasileiros a Alemanha não é mais aquele país frio e distante: agora, com a Copa, eles são alegres, receptivos e hospitaleiros. Amam os povos de todas as raças e todos os mundos. E nessa divagação tola, nesse deslumbramento débil e estéril, eles perderam o jogo, a preparação, a falta de treino tático. Agora são acusadores.

E tudo é um samba-do-crioulo-doido. Parreira diz que é preferível jogar feio e ganhar. Jogou feio e perdeu. Agora os jornalistas, adeptos do futebol-arte, dizem que é preferível jogar bonito, embora ninguém aceite perder; não faz sentido. Temos é que jogar bonito e vencer! Mas os jornalistas querem como técnico o Felipão, ele seria a garantia de um futebol bonito e vencedor. Bunito? Aqueles times alemães que o Felipão treina, guerreiros ferozes, homens espumando, raivosos? Esse futebol-força do Felipão é que seria o futebol arte? Sei não, hein!

Luxemburgo? Mas o Luxa perdeu para um time africano com dois jogadores a menos! Pegou o galáctico Real Madri e o converteu a um timeco sem vida, sem alma. O que nos falta é vergonha na cara e motivo, para termos motivação para vencer. Os hinos dos países frios eram entoados com paixão, e quase todos diziam: ‘Vamos cortar as cabeças de nossos inimigos, derramemos o nosso sangue por nossa pátria, juntos conquistaremos a liberdade e pisaremos em nossos algozes…’ Assim foram formadas as nações do mundo, com guerras, sangue e com orgulho e sentimento de nação e patriotismo. Nós somos filhos de ladrões degredados, genocidas, etnocidas, estupradores despudorados; nunca fizemos uma única revolução, nunca fomos bravos e valentes. Somos uma nação pálida em termos de substância, com mulheres pintando os cabelos de amarelo para camuflar sua origem índia, temos vergonha de nós mesmos. Temos um hino parnasiano que de tão lindo ninguém sabe a letra.

A França, desde 1998, quando nos abateu, é um time de descendentes de imigrantes negros e árabes, frutos da terceira geração que construiu a Europa, são os nordestinos-cabeças-chatas dos franceses. Bixente, Lizarazu, Henry, Djörkaef, Zidane, Barthez etc, são frutos dos guetos sujos e pobres da França. Estão em busca de identidade nacional, lutam pela França, pela nova pátria, pelo sentimento de nacionalidade, por serem aceitos como franceses; vejam como Zidane simbolicamente beija a camisa francesa! Os alemães não têm mais Hitler, Nietszche, Goethe e Schiller, os italianos não têm Michelangelos, Da vincis, Césares nem Mussolines, têm um capo Berlusconi. Alemanha, França, Portugal e Itália, são antigos impérios políticos, econômicos e culturais. Há muita coisa envolvida nessas batalhas campais, coisas todas alheias a nós: malabaristas, acrobatas, artistas da bola.

E não me venham com essa ladainha de que nossos craques ficaram milionários e por isso não querem mais jogar, e por serem mercenários são apátridas. A Suíça foi formada por mercenários e nem por isso são apátridas. Os jogadores africanos, europeus e asiáticos também estão milionários e correm feito loucos atrás da bola e da vitória. O basquete estadunidense forma estrelas multimilionárias e todos suam e lutam pela vitória; essa de dinheiro não tem fundamento algum, o pior é que virou um mantra! Acordem toupeiras. Perdemos todos, todos levamos um chapéu no meio do campo.

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Jornalista, Brasília