Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Quando a emenda sai pior que o soneto

O tema da coluna de domingo [9/12/07] da ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, foi a divulgação de rumores sobre o pré-candidato à presidência Barack Obama e a polêmica gerada por eles. ‘Matérias sobre rumores são fáceis de ser mal-escritas’, diz ela. Um artigo de 29/11 sobre as ‘conexões’ de Obama com o ‘mundo muçulmano’ e boatos de que ele seria muçulmano gerou críticas de blogueiros, leitores e de funcionários do próprio jornal.

A matéria, escrita pelo repórter Perry Bacon Jr., tinha como título ‘Inimigos usam os laços de Obama com muçulmanos para aumentar rumores sobre ele’. Como observa Deborah, os rumores são antigos – a notícia foi divulgada pela primeira vez em janeiro na revista Insight, e alegava que membros da campanha da rival Hillary Clinton haviam espalhado informações de que Obama teria estudado em uma escola tradicional islâmica em Jacarta, quando garoto. Ao discutir o rumor, a reportagem do Post não forneceu evidências suficientes para provar que ele era falso – o que já havia sido feito por outros veículos de comunicação, como a CNN. A matéria de Bacon informava que Obama é membro de uma congregação cristã em Chicago, mas para alguns sítios liberais e para membros da campanha do senador este dado não foi considerado suficiente. Robert Gibbs, diretor de comunicações do pré-candidato, acredita que o artigo foi um meio de perpetuar um boato, pelo simples fato de não negá-lo. Segundo ele, o repórter deveria ter informado claramente que Obama é cristão. ‘Este é um fato que é conhecido e irrefutável’, alegou.

Fato jornalístico

Já o Post defende-se. ‘Este é um tema legítimo explorado jornalisticamente por um de nossos mais bem preparados repórteres políticos’, declarou o chefe de redação, Philip Bennett. ‘O título deveria, no entanto, ter sido mais claro sobre o que a matéria iria tratar’. ‘Lamento que a matéria tenha sido mal interpretada. Obviamente, isto me faz pensar no modo como eu a editei. Para mim, ficou claro no artigo que Obama não é muçulmano, mas a campanha estava tendo problemas com pessoas espalhando este boato. Eu achei que dizer que era um rumor significaria que a informação era falsa, mas as pessoas não entenderam assim. O Post tem a responsabilidade de confrontar rumores considerados como verdadeiros, e esta foi a intenção do artigo’, explicou Bill Hamilton, que chefia a seção de política e editou o artigo.

A matéria estava na capa do diário e, para Deborah, isto só deveria ter sido feito se houvesse algum fato novo na pauta – o que não ocorreu. Ninguém de Iowa ou New Hampshire, onde Obama está em campanha, foi citado. Segundo o livro de Obama, Sonhos do meu pai, o pai do político, de nacionalidade queniana, era ateu. Seu avô queniano, que ele nunca conheceu, era muçulmano. Seu padrasto era cético, mas ocasionalmente ia à mesquita enquanto morava com Obama e sua mãe na Indonésia, país de maioria muçulmana.

Bacon teve a idéia para a pauta no mês passado após ouvir um eleitor de Iowa insistir que Obama era muçulmano, de saber que o senador tinha uma carta de líderes cristãos atestando sua fé e de ouvi-lo citar que viveu ‘na maior comunidade muçulmana do mundo’.