Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Reconhecimento à coragem

Foram anunciados os vencedores de 2003 do Polk Award, prêmio concedido pela Universidade de Long Island, e uma homenagem a George W. Polk, correspondente da CBS que morreu em guerra civil na Grécia, em 1948. Entre os vencedores, profissionais de imprensa que enfrentaram o perigo na apuração de suas reportagens.

Dois destaques são Somini Sengupta, que se embrenhou na África Ocidental para reportar ao New York Times sobre as guerras civis na região, e Anne Garrels, da National Public Radio, que cobriu a invasão do Iraque pelos EUA desde o começo, apesar dos bombardeios, falta de suprimentos e intimidação pela polícia secreta de Saddam Hussein. Carolyn Cole, do Los Angeles Times, foi a vencedora na categoria de fotojornalismo, por produzir um retrato ‘épico e intimista’ das guerras no Iraque e na Libéria.

Nancy Cleeland, Abigail Fgoldman e Evelyn, também do Los Angeles Times, ganharam a categoria de jornalismo econômico com uma série sobre como a poderosa rede Wal-Mart molda culturas e economias ao redor do mundo. Peter Engardio, Aaron Berstein e Manjeet Kripalani, da Business Week, levaram na categoria de negócios, com reportagem que mostra a transferência de vagas de trabalho intelectual dos EUA para países em desenvolvimento. Cam Simpson, Flynn Mc Roberts e Liz Sly, da Chicago Tribune, foram premiados na editoria nacional, por trabalho sobre fichamento e deportação em massa, pelo governo dos EUA, de muçulmanos que não representam risco de segurança.

Como informa The New York Times [17/2/04], pela primeira vez há um prêmio Polk para reportagens de internet. Ele será dado a Charles Lewis, diretor executivo da organização Center for Public Integrity, que produziu matérias de ampla repercussão sobre as empresas americanas contratadas para a reconstrução do Iraque e do Afeganistão. A entrega será no dia 2/4.



RÚSSIA
Domínio de Putin sobre televisão é entrave à democracia

A União Soviética acabou há mais de uma década, mas a televisão russa continua sendo uma máquina de propaganda do governo. Em reportagem para The New York Times [17/2/04], Steven Lee Myers mostra que Vladimir Putin tem controle total sobre ela e faz uso disso para conseguir sua provável reeleição, em março.

Os dois maiores canais da Rússia são estatais e, mesmo nas emissoras privadas, não há crítica a Putin, que regularmente é personagem de matérias pouco interessantes e viés sempre positivo. ‘Se não há um a notícia obviamente prioritária, começamos pelo presidente’, conta Mikhail Antonov, âncora de telejornal de canal estatal. No dia em que deu entrevista a Myers, por exemplo, Antonov abriu o programa com duas reportagens sobre encontros de Putin com o presidente do banco central e com o ministro das Relações Exteriores italiano.

‘É tudo propaganda’, reclama Irina Khakamada, candidata à presidência. Ela e os outros cinco concorrentes de oposição não têm vez na TV. As redes nacionais são todas ligadas ao Kremlin. Por isso, a televisão é tida por muitos russos como um obstáculo à democracia no país. O vice-ministro de Imprensa Vladimir Grigoryev alega que o papel do governo na mídia se justifica pela transição caótica ao capitalismo. Ele acrescenta que uma das redes estatais deve ser privatizada. A companhia de gás estatal Gazprom também estaria estudando a possibilidade de vender a NTV, emissora que criticava Putin duramente até ser tirada de seu proprietário, em 2001.



ÁUSTRIA
Programa de TV é acusado de incitar racismo

O primeiro canal de TV privado da Áustria surgiu há pouco tempo, mas já conseguiu criar polêmica em nível nacional. O ATV-Plus foi inaugurado em junho de 2003, depois que a União Européia forçou o país a acabar com o monopólio da TV estatal. Paradoxalmente, o programa de maior sucesso do canal é o que está lhe causando um enorme problema.

O reality show Family Swap mistura membros de uma família de imigrantes turcos com pessoas austríacas assumidamente racistas. Segundo reportagem do Guardian [17/2/04], a audiência é a maior do canal, com 154 mil telespectadores sintonizados todas as terças-feiras à noite. Mas comentários racistas de alguns dos participantes causaram uma revolta nacional, com críticos acusando o programa de apresentar estereótipos e encorajar comportamentos racistas.

Em um dos episódios, Gerda, mãe de uma família austríaca partidária do líder de extrema direita Jorg Haider, humilhou ferozmente Dursun Salman, um imigrante turco. Nas semanas seguintes, centenas de austríacos apareceram no restaurante dele para pedir desculpas pela atitude de Gerda.

Mesmo com toda a comoção popular, o sucesso do programa continua crescendo. Produtores do ATV-Plus anunciaram que pretendem aumentar a duração dos episódios para uma hora e estender o período de exibição, que estava previsto para ser de seis meses. O racismo pode causar revolta, mas também dá ibope.



EDDIE CLONTZ
Morre o mestre do sensacionalismo

Os EUA perderam, no dia 26/1, um ‘gênio’ do sensacionalismo, o editor-chefe do semanário Weekly World News, Eddie Clontz. Em 1981, ele foi contratado pela publicação, criada somente para aproveitar uma velha impressora preto-e-branco que sobrara depois que o tablóide National Enquirer passou a ser colorido. Clontz, que se autodenominava um ‘apresentador de circo’, assumiu o controle e logo substituiu as fofocas de celebridades por revelações bombásticas sobre alienígenas, dinossauros e vegetais gigantes, entre outros seres bizarros.

Sem nunca admitir que o Weekly News publicava somente lorotas, Clontz elevou a arte de inventar notícias a um patamar sem precedentes. Entre os ‘furos’ mais famosos criados por ele estão a manchete ‘Elvis está vivo’ e a história do menino-morcego encontrado numa caverna de Virgínia Ocidental. Essas pérolas ainda tiveram inúmeras continuações. Elvis, que estaria morando em Kalamazoo, no estado de Michigan, morreria alguns anos depois (manchete: ‘Elvis morre aos 56!’) para, posteriormente, ser ‘ressuscitado’ pelo semanário. O menino-morcego, que comia seu próprio peso em insetos diariamente, viria a escapar e ser recapturado pelo FBI. Depois se apaixonaria e, finalmente, declararia, com exclusividade, seu apoio ao candidato democrata Al Gore na eleição presidencial.

Clontz tinha várias técnicas para dar fundamento às notícias mais absurdas. As informações comumente vinham de ‘correspondentes free-lance’ Se a matéria fosse de teor científico, certamente os pesquisadores seriam de algum país distante, como a Bulgária. Quando davam a palavra a alguma testemunha, os repórteres do Weekly News já sabiam que era necessário checar a lista telefônica da localidade em que o acontecimento teria ocorrido para se certificar de que uma pessoa com o mesmo nome não existia de verdade. O jornal, mesmo com sua má impressão, hoje chega a vender 1 milhão de cópias nos supermercados dos EUA, segundo informações da Economist [19/2/04].