Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Renan apresenta defesa
contra denúncia de Veja


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 29 de maio de 2007


VEJA vs. RENAN
Fernanda Krakovics Ranier Bragon


Renan discursa, mas não prova que dinheiro era seu


‘EM DISCURSO EM PLENÁRIO , o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu-se da suspeita de ter usado dinheiro do lobista Cláudio Gontijo, da construtora Mendes Júnior, para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha em 2004. Disse que todos os recursos eram seus, mas não há prova disso nos papéis que distribuiu. O advogado da jornalista negou que havia um fundo de R$ 100 mil para a educação da criança, como informou o senador.


Renan não mencionou seu papel na liberação de verbas para obras da Gautama; a ministra Dilma Rousseff negou ter tratado do assunto com ele. Gravação registra conversa do senador com executivo da Caixa Econômica preso pela Polícia Federal.


Diante de um plenário lotado em plena segunda-feira, o senador Renan Calheiros fez um discurso de 23 minutos para se defender. Afirmou aos colegas previamente convocados para a sessão que o lobista Cláudio Gontijo, da Mendes Júnior, intermediou alguns pagamentos por ser seu amigo ‘há mais de 20 anos’, mas negou que tenha usado dinheiro que não o seu para repassar à mãe da criança.


‘Todos os recursos pagos foram meus, recursos próprios, para os quais tenho condições’, afirmou o presidente do Senado, que recebe salário bruto mensal de R$ 12.720.


‘Não tenho nenhuma relação com a construtora Mendes Júnior. Essa ilação que foi feita não indica nenhuma conduta minha que implicasse benefício, apoio ou qualquer outra forma de favorecimento.’


Reportagem da ‘Veja’ afirma que Gontijo repassou desde 2004 a Mônica Veloso, a pedido de Renan, R$ 16,5 mil mensais, o que representaria R$ 12 mil de pensão mais R$ 4.500 de aluguel de imóvel. Pedro Calmon, advogado de Mônica, disse que os fatos narrados pela revista são corretos, mas corrigiu o valor de R$ 16,5 mil para R$ 12,5 mil: R$ 8.000 de pensão e R$ 4.500 de aluguel.


Renan não se referiu aos valores da revista. Entregou aos senadores e à imprensa cheques e contracheques onde há registro de que pagou do seu bolso cerca de R$ 3.000 à jornalista a partir de 25 de dezembro de 2005, quando reconheceu a paternidade da filha, hoje com 2 anos e 10 meses de idade.


Antes dessa data, Renan pagaria à mãe da criança, a título de ‘assistência à gestante’, R$ 8.000 mensais, mais o valor do aluguel (que ele não especificou) de sua moradia entre março de 2004 e novembro de 2005. Para esses gastos, não apresentou comprovantes. Sua assessoria argumentou que isso violaria o seu sigilo bancário e disse que Renan entrega anualmente sua declaração de renda ao Senado -lá estariam registrados esses pagamentos.


De acordo com a assessoria de Renan, o pagamento foi feito ‘algumas vezes’ em dinheiro e na maioria das vezes depositado na conta da jornalista. O senador disse ainda que constituiu um fundo de R$ 100 mil para custear despesas futuras com a educação da criança.


Sobre Gontijo, Renan disse que recorreu a ele para buscar discrição. ‘Ele era a pessoa para fazer a interlocução entre as partes, uma vez que tinha amizade com a mãe da criança. Poucas pessoas de minha estrita relação pessoal compartilhavam dessas agruras.’


Com a mulher, Verônica Calheiros, presente no plenário -a quem pediu ‘perdão’- e com voz embargada, Renan tentou limitar o caso a uma questão pessoal. ‘Confesso que tive uma relação que me deu uma filha. Episódios como esse geram contendas que muitas vezes terminam nas Varas de Família. Não fugi a esse calvário. Assumi, como pai, minhas responsabilidades.’


O discurso não foi interrompido por nenhum senador, o que é raro. Entre os presentes estavam o ministro Hélio Costa (Comunicações), o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), o líder do partido na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), e o líder do governo na Câmara, deputado José Múcio (PTB-PE).


Renan não explicou sua relação com o dono da construtora Gautama, Zuleido Veras, preso na Operação Navalha acusado de fraudar obras públicas. Mostrou trecho da declaração do Imposto de Renda de 2005 para provar que é dono da fazenda Novo Largo, em Alagoas, e rebater a acusação de que ela estaria em nome de laranjas.


A sessão foi suspensa após o discurso. A mulher de Renan foi à Mesa beijá-lo, e senadores foram cumprimentá-lo. ‘Só quero que a minha família não seja prejudicada. Quero que seja preservada’, disse Verônica.’


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Senador se diz vítima; defesa é marcada por tom de indignação


‘Em um discurso de 23 minutos, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) usou exatas 19 palavras e expressões para definir o que ele classificou como ‘pseudo-escândalo’, ‘destruição do Estado de Direito’, ‘ignomínia’, ‘insídia’ e ‘teatro do absurdo’, entre outros.


Dizendo ser vítima de invasão de sua vida privada e da ‘ação avassaladora de parte da mídia’, recorreu ao ocaso do Império Romano para ilustrar a situação que o país atravessa.


‘Regredimos. Há 2.000 anos, a política era feita de casos pessoais. Não existia o Estado moderno. A violência e o primarismo tomavam conta dos homens’, disse Renan.


Para um plenário com cerca de 70 senadores (são 81), deputados federais e até um ministro, Hélio Costa (Comunicações), Renan usou o tom de indignação por ter que dar detalhes de sua vida privada.


‘Indignação, porque ninguém teria outro sentimento senão esse, ao ver-se constrangido a violar sua privacidade com risco de atingir os entes que lhe são mais caros e confessar pecado que somente se deveria falar no confessionário, para pedir perdão e receber penitência’, disse ele.


‘Lamento, meus eminentes colegas, que a vida pública brasileira tenha se amesquinhado a tal nível que eu tenha que descer a estas minúcias perante o Senado Federal, onde sempre tratamos de temas mais elevados e de interesse público’.


Em nenhum momento Renan se referiu ao valor específico apresentado pela reportagem da revista ‘Veja’ de R$ 16,5 mil repassados a Mônica Veloso. Pedro Calmon, advogado de Mônica, disse que os valores apontados pela revista não são corretos. Segundo ele, os repasses foram de R$ 8.000 de pensão e R$ 4.500 de aluguel.


Renan chegou ao Senado pouco antes de fazer o discurso. Abordado por repórteres, não respondeu se cogitava se afastar da presidência. No discurso, disse que responderá às acusações ‘uma a uma’. ‘Vossas Excelências não terão em mim nenhuma surpresa. (…) Quaisquer que sejam os novos ataques, exporei as informações uma a uma até que esses ataques especulativos sejam vencidos.’


Leia a íntegra do discurso www.folha.com.br/071482′


Letícia Sander, Ranier Bragon e Fernanda Krakovics


Governistas falam em caso encerrado; oposição é cautelosa


‘Satisfeitos com o discurso de Renan Calheiros, integrantes de partidos aliados já falavam em ‘caso encerrado’, enquanto a oposição, cautelosa, mas sem criticá-lo diretamente, apontava a necessidade de análise da documentação entregue pelo senador. As denúncias serão analisadas pelo corregedor da Casa, Romeu Tuma (DEM-SP).


O impacto positivo do discurso, entretanto, corre o risco de ser minimizado, já que ele deixou de entregar os comprovantes de parte dos recursos repassados a Mônica Veloso. É em relação à origem desses recursos que pairam as principais suspeições sobre Renan.


‘O Senado esperará a palavra do corregedor. Vou aguardar que ele se manifeste’, disse o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN), ontem à noite. À tarde, ele havia dito que não tinha o direito de duvidar das palavras de Renan.


Tuma afirmou que pretende reunir o que surgiu até agora e ouvir citados na denúncia para apresentar um parecer sobre o caso à Mesa Diretora. ‘Senti que ele tem documentos que comprovam que falou a verdade’, disse, antes de analisar os papéis, acrescentando ver um lado positivo: ‘Ao menos ele [Renan] não a forçou a fazer um aborto’, disse, em referência à filha de Renan com a jornalista.


Nos bastidores, a avaliação foi a de que a situação de Renan dependeria de serem encontradas ‘brechas’ na versão e documentação apresentadas ontem, ou então novas denúncias.


Hoje, a presidente do PSOL, a ex-senadora Heloísa Helena, deve chegar a Brasília e reunir sua bancada, quando será discutida a possibilidade de o partido entrar com uma representação contra Renan. ‘[Ele] levou a coisa para a esfera privada e não é disso que se trata. No meu juízo, os esclarecimentos foram insuficientes. Ele tinha que ter concedido apartes e uma entrevista coletiva. Não vamos entrar em espírito de confraria’, afirmou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).


Presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) avaliou que Renan fez um bom discurso, mas defendeu que é prudente a análise dos papéis pelo Conselho de Ética. O órgão se reúne amanhã para a posse de seus membros, mas só abre processo caso algum partido ou a Mesa protocole um pedido.


À tarde, logo após o pronunciamento, ninguém criticou diretamente Renan, que encerrou o discurso sob aplausos. Senadores fizeram fila para cumprimentá-lo. Àquela altura, nenhum dos parlamentares tinha tido acesso à documentação.


‘Na minha visão, o assunto está encerrado. Os fatos foram explicados à exaustão’, disse Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo, minutos após o pronunciamento de Renan.


‘O discurso foi bom e os documentos precisam ser analisados’, afirmou o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), que depois acrescentou: ‘Encerrado [o caso] não vou dizer que está. Mas o assunto ficou amortecido’.


Os peemedebistas saíram satisfeitos com as palavras do senador. Segundo o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), ‘se depender da bancada, o assunto está encerrado’.’


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Referências: Renan cita Cícero para dizer que política brasileira regrediu


‘O senador citou o político romano e filósofo Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) para dizer que a política brasileira regrediu com o fato de ele ter de comentar ‘a privacidade de sua vida pessoal’. Renan ainda fez referências diretas ao jurista e político Rui Barbosa (1849-1923) e ao ex-deputado e filósofo brasileiro Roland Corbisier (1914-2005). ‘Há 2.000 anos, a política era feita de casos pessoais. (…) A violência e o primarismo tomavam conta dos homens. Era só vida pessoal. Ressuscitamos, infelizmente, esses tempos.’’



Vera Magalhães


Pagamento era na construtora, diz advogado


‘O advogado de Mônica Veloso, Pedro Calmon, sustentou que os pagamentos feitos à jornalista, mãe de uma filha do senador Renan Calheiros, eram feitos por Cláudio Gontijo em dinheiro, no escritório da Mendes Júnior, até dezembro de 2005, quando houve o reconhecimento de paternidade. Disse que os fatos narrados pela revista ‘Veja’ são corretos, mas corrigiu o valor de R$ 16,5 mil que seriam repassados. Segundo ele, o valor integral era de R$ 12,5 mil: R$ 8.000 de pensão e R$ 4.500 de aluguel.


FOLHA – O sr. confirma as afirmações feitas por Renan Calheiros, a respeito do pagamento de pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso?


PEDRO CALMON – O senador Renan confirmou a matéria da ‘Veja’, mas deixou uma série de coisas sem esclarecer. Quem levou a questão a público, em cadeia nacional, foi o presidente. Como usou a cadeira da presidência do Senado e fez um pronunciamento truncado, minha cliente se sentiu na obrigação de esclarecer os fatos.


FOLHA – Após março de 2005, como eram os pagamentos?


CALMON – Quando ela foi para o apartamento, ele passou a dar o dinheiro do aluguel junto com o da pensão. Então eram os R$ 8.000 e mais R$ 4.000 do aluguel do apartamento da Asa Norte. Nessa época o Cláudio é que fazia todos os pagamentos.


FOLHA – E os cheques nominais do Banco do Brasil a que o senador se referiu?


CALMON – Esses cheques foram bem depois, em dezembro de 2005, quando ele já havia feito o reconhecimento. De abril de 2005 a dezembro de 2005 os valores eram repassados a ela integralmente. Em dezembro ele reconheceu a filha e teve de formalizar tudo. Fez uma oferta de alimentos de R$ 3.000, porque só podia fazer dentro das condições oficiais dele. Aguardou-se para que ele pudesse se organizar e depois foram feitos dois pagamentos em dinheiro, pelos advogados dele, de R$ 50 mil cada um, em maio e em junho de 2006, para recompor a pensão do período em que ele só pagou R$ 3.000.


FOLHA – O senador diz que esses R$ 100 mil seriam para constituir um fundo para custear a educação da filha.


CALMON – Isso não existe. Na época foram feitos dois recibos para justificar os pagamentos, e a fórmula que se encontrou foi essa. Um pai que quer criar um fundo para o filho vai a um banco e o faz. Não posso aceitar, porque essa versão atinge a minha cliente, já que esse dinheiro não existe mais, foi usado como o que é: uma complementação de pensão alimentícia.


FOLHA – Após esses pagamentos, quanto foi repassado?


CALMON – A partir de junho foi feito um acordo segundo o qual haveria o valor oficial de R$ 3.000 e uma complementação. Ele não pagou a complementação, por isso minha cliente pediu a audiência que houve agora.


FOLHA – Ficou claro para sua cliente por que Cláudio Gontijo fazia os pagamentos? Eles eram amigos, como sustentou o presidente do Senado?


CALMON – Isso nunca ficou claro para ela. Não é verdade. Minha cliente conheceu Cláudio Gontijo por intermédio do senador.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Pecado’


‘Ao vivo por TV Senado, Globo News, Band News, UOL, G1 e a RedeTV!, Renan Calheiros, na chamada da Globo, declarou-se ‘indignado e constrangido’ por ‘tratar em público de um assunto pessoal’. Na Folha Online, ‘Renan pede perdão à família’. No Terra, ele ‘reconhece ‘pecado’. Já na Rede TV!, logo depois, ‘Polêmica: Gretchen encontra a filha e a namorada!’.


Fernando Rodrigues, no UOL, e Josias de Souza, na Folha Online, avaliam que Renan deixou ‘lacunas’ e ‘interrogações’. Já o blog de Ancelmo Góis no Globo Online foi indireto, postando o diálogo de Clodovil e Arthur Virgílio na JBTV: ‘É verdade que o sr. é um vulcão sexual?’ ‘Sou, e minha mulher também’. Para o blog, ‘o Senado da República não é mais o mesmo’.


É POSSÍVEL


O blog http://ocupacaousp.noblogs.org/ na USP já tem ‘Jornal da Ocupação’ em vídeo. Entre piadas sobre ‘José Aristodemo Pinóquio’, um manifesto:


– A atual ocupação da reitoria reacendeu o movimento estudantil. Sua força está baseada na construção de movimento apartidário, do qual os partidos fazem parte, mas não carregam e sim também participam. De organização horizontal, através de democracia direta, em que todos têm direito a voz e voto, tem se fortalecido através da participação de estudantes que normalmente não atuam… Um novo movimento estudantil é possível.


DE CARA NOVA


Ecoa pela blogosfera um novo YouTube, em testes. Lembra o Joost, a TV dos criadores do Skype, com menu para outros vídeos, entre diversos avanços para enfrentar a ameaçadora concorrência.


PERFIL GENÉTICO


Não se deve esperar coisa assim do ‘Jornal ‘não somos racistas’ Nacional’, que prossegue em seu esforço contra o movimento quilombola. Mas ecoou por todo lado a reportagem da BBC com ‘o perfil genético de nove negros famosos’ do Brasil -como o que fez um professor de Harvard com Oprah Winfrey e outros americanos. Ontem o primeiro perfil foi da ginasta Daiane dos Santos, descrita como ‘o protótipo da brasileira’ pela ancestralidade africana, européia e ameríndia. Até a sexta tem Neguinho da Beija-Flor, Milton Nascimento e Obina.


RCTV E A OMISSÃO


No ‘Universal’ de Caracas, ‘Brasil evita opinar sobre a decisão de Chávez’. Mas ‘fontes do governo brasileiro recordaram que os sócios do Mercosul rechaçaram petição venezuelana para dar apoio’.


EVO DO PARAGUAI


O paraguaio ‘ABC Color’ voltou a atacar o Brasil em editorial. Mas a novidade foi o ‘favorito’ para presidente no ano que vem, o esquerdista Fernando Lugo, avisar na BBC Brasil que, eleito, vai ‘dar todos os passos jurídicos, locais e internacionais’, para mudar o Tratado de Itaipu.


BIODIESEL EM NY


O ‘New York Times’ deu ontem o plano de duas usinas de biodiesel em plena Nova York, no Brooklyn. É ligado ao esforço do prefeito Michael Bloomberg de ‘futuro menos dependente de petróleo’.


A PRÓXIMA INTERNET?


O mesmo ‘NYT’, domingo, publicou uma longa análise sobre o ‘boom’ do álcool, perguntando no título se, ‘Com ajuda, o etanol poderia ser a próxima internet?’. Já o ‘Financial Times’ avisou da alta nos ‘preços de comida’, tipo milho, café e até cacau, por conta de biocombustíveis.’


OPERAÇÃO NAVALHA
Andréa Michael e Andreza Matais


PF diz a Justiça que dados do STJ estão no Google


‘A Polícia Federal vai informar ao Ministério da Justiça que dados sigilosos relativos a investigações policiais disponíveis na rede interna e reservada de computadores do Superior Tribunal de Justiça (STJ) teriam sido consultados por visitantes não credenciados para esse tipo de acesso por meio do site de pesquisa Google.


Essa informação consta de ofício em que a PF, em resposta a questionamento do ministério, apresenta o possível canal por meio dos qual poderiam ter chegado à imprensa informações da Operação Navalha.


Segundo a assessoria da PF, o ofício seria encaminhado ao ministério ainda hoje.


A Folha apurou que um dos documentos reservados com acesso pelo site de pesquisa foi a decisão judicial em que a ministra do STJ Eliana Calmon, que conduz o inquérito relacionado à Navalha, autoriza o desmembramento do caso, do qual foi destacada a investigação batizada de Octopus.


Até o fechamento desta edição, a assessoria do STJ não havia se posicionado. O alvo da Octopus são fraudes a licitações que teriam sido conduzidas principalmente pelo grupo do empresário Clemilton de Andrade Rezende. Entre as práticas ilícitas atribuídas pela PF aos investigados está a compra de certidões negativas de débito emitidas pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e pela Receita Federal.


Tarja preta


Para garantir o sigilo das informações e evitar prejuízo aos trabalhos da PF, a ministra mandou colocar uma tarja preta sobre as partes do seu despacho relativas à Octopus. Mas, possivelmente pelo acesso via internet, a reserva das informações acabou comprometida.


O acesso indevido foi detectado na semana passada, e logo corrigido. Mas a Folha apurou que o vazamento de informações prejudicou a fase ostensiva da operação Octopus, na qual haveria prisões, além de busca e apreensão de documentos.’


VENEZUELA
Fabiano Maisonnave


Sem licença, RCTV quer virar canal a cabo


‘Fora do ar desde a 0h de ontem, a emissora RCTV pretende voltar a transmitir por cabo ‘em breve’ caso o governo não imponha entraves, disse o diretor-geral da TV Globovisión, Alberto Federico Ravell.


Ontem os protestos contra o fim da concessão entraram no terceiro dia. Houve novos confrontos, com um saldo de pelo menos seis feridos. Dois estudantes foram baleados e estão em estado grave. ‘Se o governo não impedir, não impuser travas, a RCTV sairá por todos os serviços de TV a cabo em breve’, disse Ravell à Folha.


O empresário disse que a Globovisión, que transmite apenas por cabo na maior parte do país, ajudará a RCTV a voltar ao ar com apoio técnico. ‘A primeira ajuda que estamos dando é espaço para tudo que tem acontecido, mas na área da empresa podemos colaborar com a transmissão.’


O governo tem dito que o fim da concessão é apenas para o sinal livre e que não se oporá à transmissão por cabo. ‘Não estamos fechando o canal, estamos deixando de renovar uma concessão do Estado’, segundo o ministro das Comunicações, Willian Lara. Já o presidente do grupo empresarial 1BC, que controla a RCTV, Marcel Granier, disse anteontem que, ‘apesar de o governo sugerir que podemos usar cabo ou satélite, pressiona as empresas de cabo para nos tirar do ar’.


Desde as 0h19 de ontem o canal 2 é ocupado pelo novo canal estatal Tves. Criada no improviso, a Tves passou quase todo o dia de ontem transmitindo ‘enlatados’, como programa de ginástica e desenhos infantis com problemas de dublagem. Seu noticiário deve estrear hoje. Para as 21h estava prevista a estréia da novela argentina ‘Padre Corage’, que substituirá o maior sucesso da RCTV, o folhetim ‘Mi Prima Ciela’. Já a RCTV, que encerrou as transmissões com o hino nacional cantado por funcionários, transmitiu ontem de manhã seu tradicional programa informativo ‘O Observador’ por sites da internet, enfatizando a onda de protestos registrada anteontem em Caracas.


Estudantes universitários saíram ontem às ruas de Caracas e de outras cidades do país para protestar contra o governo Chávez. Houve confrontos com forças de segurança e com supostos militantes chavistas. O incidente mais grave ocorreu em Valencia (noroeste). Segundo o ministro do Interior, Pedro Carreño, quatro pessoas foram baleadas em dois centros universitários.


Segundo a imprensa local, foram seis feridos, dos quais dois estudantes baleados que correm risco de morte. Os relatos atribuem os disparos a supostos militantes chavistas.


Em Caracas, estudantes de três universidades realizaram protestos. A Polícia Metropolitana tentou dispersar com gás lacrimogêneo ao menos duas manifestações, sob a alegação de que não havia autorização.


Na maior manifestação na capital estudantes universitários comandaram um protesto que chegou a reunir alguns milhares no final da tarde. Também houve confrontos com a Polícia Metropolitana no local. Quatro jornalistas da emissora Venevisíon, do magnata Gustavo Cisneros, se uniaram ao protestos dos estudantes. A Folha apurou que um grupo de funcionários convocou reunião ontem com os diretores para protestar contra a linha editorial do canal, que vem dando pouco destaque aos protestos.


A Procuradoria venezuelana disse ontem que levará ao tribunal 15 pessoas detidas no domingo durante manifestações.


Brasil


O governo brasileiro considerou a decisão uma questão interna da Venezuela, evitando se pronunciar oficialmente a respeito do tema. Procurado ontem, o Itamaraty informou apenas que o governo brasileiro não deveria se manifestar sobre o assunto. O Palácio do Planalto recusou-se ontem a comentar a decisão de Chávez. Segundo a Secretaria de Imprensa da Presidência do Brasil, ‘trata-se de assunto de política interna do governo da Venezuela’.’


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‘Chávez quer um blecaute informativo’


‘Depois da RCTV, as atenções do governo Hugo Chávez se concentram no único canal independente que restou na Venezuela, a emissora de notícias Globovisión. Para o ministro das Comunicações, Willian Lara, a Globovisión incitou o assassinato de Chávez ao mostrar a tentativa de assassinato do papa João Paulo 2º com a música ‘Isto não termina aqui’, de Rubén Blades. Já a diretora de Responsabilidade em Rádio e Televisão do Ministério das Comunicações, María Eugenia Díaz, acusou a Globovisión de ‘incitar o ódio’ e ameaçou tirá-la do ar por 72 horas por ter transmitido uma entrevista com um diretor da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), na qual ele chama Chávez de ‘tirânico’.


À Folha, o diretor-geral da Globovisión, Alberto Federico Ravell, acusou o governo Chávez de tentar um ‘blecaute informativo’. Com cerca de 450 funcionários, a emissora só funciona em sinal aberto em duas cidades no país -no restante da Venezuela, chega por cabo.


Ontem, as ameaças do governo Chávez contra a Globovisión provocaram um ato de apoio com milhares de pessoas diante dos portões da emissora. Leia trechos da entrevista, concedida na sede do canal, resguardado por dez militares da Guarda Nacional. (FM)


FOLHA – A Globovisión incitou o magnicídio e violou a lei?


ALBERTO FEDERICO RAVELL – No tema do magnicídio, é por transmitirmos umas imagens do papa. É como ser acusado de incitar o sexo por transmitir um concurso de beleza. A segunda acusação é pelas declarações dadas por um diretor da SIP. Nós estávamos ao vivo e não sabíamos o que ele ia dizer, nesse caso. Em terceiro, as imagens de violência não são para alarmar, mas para alertar os cidadãos. O governo quer um blecaute informativo no país. Sabemos que estamos na mira, e isso não implica que vamos mudar. Talvez o governo já tenha tomado uma decisão e já estejamos nas últimas horas. Mas nós não vamos nos ajoelhar.


FOLHA – O que houve com a Venevisión, que praticamente ignorou o fechamento da RCTV?


RAVELL – Talvez o encarregado de informação tenha considerado que a notícia do fechamento da RCTV não era importante e, por isso, não transmitiram nada.


FOLHA – Como está o país hoje?


RAVELL – Numa tensa calma, muitos distúrbios nas universidades, ameaças pelo ministro Lara aos meios. Ele acredita que nos vai silenciar. E a única forma de nos silenciar é como fizeram com a RCTV, fechando-nos e tomando as instalações.


FOLHA – Sem a RCTV, a Globovisión terá como crescer?


RAVELL – Não há espaço; o governo não nos dá nenhum tipo de possibilidade de ter mais microondas, mais estações, mais cobertura.


FOLHA – Apesar de manifestações do mundo inteiro, os governos da região pouco falaram. Deveria haver mais envolvimento?


RAVELL – Agora o mundo está se dando conta sobre o que ocorre na Venezuela. Mando uma mensagem ao presidente Lula: aconselhe Chávez, diga a ele que não saia do caminho democrático.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Ratinho lança emissora de TV no Paraná


‘Decadente como apresentador e como produtor, Carlos Massa, o Ratinho, vai tentar a sorte agora como radiodifusor. Colocará no ar em julho uma emissora de TV no Paraná.


A nova emissora cobrirá a cidade de Paranaguá, pelo canal 7, e consumirá um investimento inicial de cerca de R$ 15 milhões. Sua programação terá jornalismo local, mas extrapolará os limites do litoral paranaense: seu sinal ficará aberto em satélite, atingindo os cerca de 15 milhões de domicílios do país que possuem parabólicas.


Na campanha de 2006, Ratinho usou a TV como trunfo. Acompanhado do filho Ratinho Júnior, então candidato a deputado federal, anunciou a novidade em evento para empresários e políticos de Paranaguá.


A emissora é uma concessão nova, uma licitação vencida pela empresa TVCI. Com dificuldades para colocá-la no ar, seus donos a venderam para Ratinho. Pela lei, a transferência de mais de 49% de concessionária só pode ocorrer cinco anos após o início das transmissões. No Ministério das Comunicações, a TVCI está registrada em nome de Ubaldo de Siqueira e de João Carlos Peters.


A Folha tenta ouvir Ratinho há um mês, sem sucesso.


Programa da produtora de Ratinho, o ‘Onde Está Você?’ sai do ar nesta sexta. O programa, que estreou na Band em 26 de março, dá só 0,7 ponto.


BOMBARDEIOA nova novela das sete, ‘Sete Pecados’, só estréia daqui a três semanas, mas a Globo já bombardeia chamadas em sua programação, algo que não conseguiu fazer com ‘Pé na Jaca’, porque suas gravações já começaram atrasadas. Agora que tem boa frente de gravações, fará o possível para ‘Sete Pecados’ estrear em alta no Ibope.


COPA E COZINHAAs secretárias de ‘Paraíso Tropical’ ganharão mais espaço na trama. ‘Elas terão problemas de moradia e resolvem dividir um apartamento. A partir disso, ganharão cenário próprio’, adianta Ricardo Linhares, co-autor da novela. Linhares e Gilberto Braga já cogitam, mais para o final, a formação de um casal negro entre Yvone (Ildi Silva) e o promoter Cláudio (Jonathan Haagensen).


NAVALHADAO ‘Pânico na TV’ deu picos de 16 pontos no domingo, exibindo entrevista com Silvio Santos, em torno da ‘renovação’ de autorização para Wellington Muniz continuar imitando o apresentador (o que não passa de marketing). O humorístico ficou 19 minutos em segundo lugar, batendo o SBT.


SERTANEJOA Band teve problemas com a Fórmula Indy. No domingo, demorou para reiniciar as transmissões, numa relargada, porque exibia programa de Raul Gil em que duas meninas cantavam uma música cujo refrão era ‘bebo pra carai…’.


PANCAKE Glória Maria apresentou o ‘Fantástico’ com um caroço na testa, disfarçado pela maquiagem e pelo penteado.’


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‘On the Lot’ busca novo Spielberg


‘Os números da disputa são vultosos: 12 mil candidatos de 33 países. Também, pudera: o vencedor leva um contrato de US$ 1 milhão com a Dreamworks, estúdio que tem entre seus sócios-fundadores um certo Steven Spielberg. Deixa para mais um ‘reality show’, o processo de seleção do sortudo tem sua primeira etapa exibida hoje à noite, no People & Arts.


Da multidão de inscritos, 50 aspirantes a Spielberg foram escolhidos para uma semifinal.


Para que a banca de jurados aponte os 18 finalistas, canadenses, sul-africanos, ingleses e, sim, texanos terão que ‘vender’ um filme (apresentar um roteiro básico) a partir de um mote fornecido pela produção (ex.: um rato é capturado por uma empresa farmacêutica e planeja sua fuga), rodar e editar um curta-metragem em um prazo de 24 horas etc.


A fase decisiva começa na semana que vem. As terças ficarão reservadas para a exibição dos curtas realizados pelos finalistas. No dia seguinte, o júri (composto pelo diretor Garry Marshall, de ‘Uma Linda Mulher’, pela atriz Carrie Fischer, a princesa Léa de ‘Guerra nas Estrelas’, entre outros) comentará os títulos e eliminará um concorrente.


Nos EUA, a audiência da estréia, na segunda passada, foi pífia. O programa recebeu 25 milhões de espectadores de ‘American Idol’ e caiu para 6 milhões na meia hora final.


ON THE LOT


Quando: hoje, às 21h


Onde: People & Arts’


ROSINHA NO DIÁRIO
Folha de S. Paulo


Rosinha assume posto em jornal


‘A ex-governadora do Rio Rosinha Matheus (PMDB) assume na sexta a diretoria comercial do ‘Diário do Norte Fluminense’, em Campos dos Goytacazes.


Ela vai trabalhar na captação de novos anunciantes.’


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 29 de maio de 2007


VEJA vs. RENAN
Ricardo Brandt e Marcelo de Moares


Renan nega ter recebido de empreiteira, mas corregedor mantém investigação


‘Apresentando-se como vítima de um ‘falso escândalo que a Nação estarrecida acompanha’, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), tomou ontem o plenário do Senado para admitir publicamente uma relação extraconjugal com a jornalista Mônica Veloso que lhe deu uma filha, hoje com 3 anos. Apesar de abrir a questão da ‘paternidade não programada’, de mostrar documentos e negar a revelação feita pela revista Veja – de que as despesas pessoais com a pensão e a moradia da filha e da jornalista seriam bancadas pelo lobista Cláudio Gontijo, da Construtora Mendes Júnior -, o senador deixou um ‘buraco’ nas explicações para o período anterior ao reconhecimento da paternidade, que ocorreu em dezembro de 2005.


Para o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP ), as explicações não encerraram o assunto. ‘Preliminarmente, estou convencido. Mas vou fazer uma investigação nos documentos e apresentar um relatório que será encaminhado à Mesa do Senado e ao Conselho de Ética’, disse Tuma.


Acompanhado da mulher, Verônica, dos filhos e do irmão Renildo Calheiros, Renan discursou por 24 minutos. Verônica sentou-se na primeira fila da tribuna de honra, ouviu o discurso e levantou-se, ao final, para aplaudir o marido senador. Entrou na fila dos cumprimentos e, quando subiu à Mesa Diretora para abraçá-lo, foi aplaudida pelo plenário.


CONTRADIÇÕES


Apesar do apoio, os dados dos documentos do presidente do Congresso não batem com os que foram apresentados pela reportagem da revista. E ainda deixam em aberto outras questões envolvendo sua relação com alguns dos presos no escândalo da máfia das obras. A reportagem de Veja informa que Gontijo pagava para Renan uma pensão mensal de R$ 12 mil para a filha fora do casamento e o aluguel do apartamento onde ela vivia com a mãe, no valor de R$ 4,5 mil – totalizando gastos mensais de R$ 16,5 mil. Nos documentos apresentados pelo presidente do Senado, nenhum valor diz respeito ao período pré-reconhecimento da filha – do início de 2004 até novembro de 2005. Ele não entregou nenhum documento que garanta que os valores repassados à jornalista nesse período tenham sido, de fato, pagos com recursos próprios.


No período pré-reconhecimento, Renan diz ter pago também um fundo especial para a educação da filha, num total de R$ 100 mil. Segundo sua assessoria, esses valores foram repassados em duas parcelas de R$ 50 mil cada (uma em março de 2006 e outra em julho). Também não foram entregues comprovantes dessas operações.


Os demonstrativos referentes aos aluguéis pagos pelo senador igualmente não foram apresentados por ele. ‘Todos os recursos foram pagos por mim. São recursos meus para os quais eu tenho condições de arcar, de acordo com minhas declarações de Imposto de Renda que estão à disposição’, afirmou. ‘É uma prova irrefutável, uma prova documental.’ Em sua confissão carregada de indignação, ele afirmou que, quando soube da gravidez de Mônica, passou a ajudá-la financeiramente.


‘Não fugi a esse calvário’, disse. ‘Logo que tive conhecimento da gravidez, impossibilitado de fazê-lo pessoalmente, em virtude da circunstância que se impunha, pedi a um amigo que intermediasse o meu apoio’, explicou, numa referência ao lobista Cláudio Gontijo. Afirmou que a partir daí passou a pagar uma pensão de R$ 3 mil mensais.


‘Nos dois primeiros meses, o pagamento se deu por cheques nominais do Banco do Brasil, ambos compensados na conta (…) do Unibanco, cuja titular é mãe. A partir de fevereiro de 2006, o pagamento passou a ser deduzido dos meus subsídios de senador’, sustentou. ‘Esses documentos, por si sós, desmentem que terceiros teriam pagado a pensão por mim até dezembro de 2006.’


VALORES


Os valores, no entanto, são inferiores aos apresentados pela reportagem de Veja. Segundo a revista, o aluguel era de R$ 4,5 mil mensais, além de R$ 12 mil de pensão. Considerando os dados apresentados por ele, os valores mensais não ultrapassavam R$ 12 mil.


Renan disse ainda que antes do reconhecimento da paternidade ‘prestou assistência à gestante em valor maior, em torno de R$ 8 mil’. ‘Além disso, honrei, com meus próprios recursos, o aluguel de uma casa entre 15 de março de 2004 e 14 de março de 2005. Posteriormente, arquei com o aluguel de um apartamento entre março e novembro de 2005 para a gestante’, afirmou, mas sem detalhar valores.


O presidente do Senado afirmou que Gontijo fazia os pagamentos em seu nome por ser seu velho conhecido e também amigo da mãe da criança. ‘Poucas pessoas de minha estrita relação pessoal, além do advogado, compartilhavam dessas agruras. Uma delas era Cláudio Gontijo, de quem sou amigo há mais de 20 anos, quando nem sequer cogitava trabalhar na empresa em que trabalha.’


‘Ele era a pessoa para fazer a interlocução entre as partes, uma vez, que tinha amizade com a mãe da criança. Não nego e não renego minhas amizades’, disse Renan, que chegou a pedir desculpas ao lobista por envolvê-lo no caso.


Mas negou qualquer relação com a Mendes Júnior. ‘Não tenho nenhuma relação com a Construtora Mendes Júnior, e essa ilação que foi feita não indica nenhuma conduta minha que implicasse benefício, apoio ou qualquer outra forma de favorecimento’, ressaltou.


FRASES


Renan Calheiros


Presidente do Senado


‘São recursos meus para os quais eu tenho condições de arcar, de acordo com minhas declarações de Imposto de Renda. É uma prova irrefutável’


‘Documentos, por si só, desmentem que terceiros teriam pagado a pensão por mim até dezembro de 2006’


‘Honrei, com meus próprios recursos, o aluguel de uma casa entre 15 de março de 2004 e 14 de março de 2005. Posteriormente, arquei com o aluguel de um apartamento entre março e novembro de 2005’


‘Pessoas de minha estrita relação pessoal, além do advogado, compartilhavam dessas agruras. Uma delas era Cláudio Gontijo, de quem sou amigo há mais de 20 anos, quando nem sequer cogitava trabalhar na empresa. (…) O fato dele trabalhar para a Mendes Júnior não tem relação com o assunto’


‘Não tenho nenhuma relação com a construtora Mendes Júnior, e essa ilação que foi feita não indica nenhuma conduta minha que implicasse em benefício, apoio ou qualquer outra forma de favorecimento’ COLABOROU CHRISTIANE SAMARCO’


Gabriel Manzano Filho


Senador usa Cícero em sua defesa


‘Na sua defesa de 24 minutos, o presidente do Senado, Renan Calheiros recorreu por quatro vezes à eficiente estratégia de citar gente de prestígio para valorizar sua causa. Pela ordem, ele mencionou o jurista Afonso Arinos (1905-1990), o filósofo e deputado Roland Corbusier (1914-2005), o orador e senador romano Marco Túlio Cícero (103 a.-43 a.C.) e o jamais esquecido Ruy Barbosa (1849 -1923).


No primeiro e no último caso, Renan aplaudiu duas unanimidades. A de Arinos foi a precisão do seu texto para o inciso X do art. 5º da Constituição, que considera ‘invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas’. A de Ruy Barbosa foi uma de suas máximas: ‘Se alguma coisa divina existe entre os homens, é a justiça’, que podia ser dita por qualquer dos presentes no plenário.


Na segunda citação, Renan foi buscar um adversário de Arinos para jogar contra a imprensa. Roland Corbusier foi um trabalhista vigoroso nos anos 50 e 60, que combateu Arinos e outros liberais no Congresso.


Nos anos 60, juntou-se a um grupo de intelectuais que criou o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), para defender o nacional-desenvolvimentismo contra a UDN e Carlos Lacerda. ‘Essa mania de denunciar, de acusar, essa obsessão do inquérito, da devassa (…) essa impaciência em fazer justiça com as próprias mãos, a longo prazo se revela nociva à formação política e mesmo moral do País’, disse Corbusier num momento de crise da política brasileira, depois da morte de Getúlio Vargas. O acusador a que ele se referia era Lacerda.


A citação de Cícero foi um exagero: Renan comparou as acusações que lhe fez a Veja no fim de semana com as que eram dirigidas ao célebre tribuno e ao Senado, nos dramáticos anos finais da República romana. Cícero lutou e morreu pela causa republicana, que morreu em 27 a. C., quando Otávio Augusto foi coroado imperador. ‘Há dois mil anos a política era feita de casos pessoais (…) Cícero já condenava essa prática… Agora se vê a sórdida tentativa de restaurar esses tempos no Brasil.’ A menção equivale a dizer que, ao criticá-lo, a imprensa quer enfraquecer o Congresso e acabar com a democracia no País.’


Mariângela Gallucci


Mônica desmente Renan e diz que recebia dinheiro vivo


‘A jornalista Mônica Veloso contestou ontem as declarações feita em plenário pelo presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), com quem teve uma filha que está com três anos de idade. Por meio de seu advogado, Pedro Calmon, a jornalista disse ao Estado que, antes do reconhecimento da paternidade por Renan, em dezembro de 2005, recebeu o valor da pensão e do aluguel em dinheiro. ‘Ela sempre recebeu em dinheiro vivo, entregue pelo Cláudio Gontijo’, disse Calmon, referindo-se ao lobista da Construtora Mendes Júnior, em Brasília.


De acordo com a reportagem da revista Veja desta semana, o dinheiro entregue por Gontijo, no valor total de R$ 16,5 mil, era separado para Mônica, que passava no escritório da Mendes Júnior e levava um envelope identificado com as iniciais dela, ‘MV’. Na documentação distribuída ontem pelo presidente do Senado, os cheques do Banco do Brasil são realmente de 22 de dezembro de 2005 e de 22 de janeiro de 2006, posteriores, portanto, à data do reconhecimento da paternidade, 21 de dezembro de 2005.


Por meio de Calmon, a jornalista também disse que o funcionário da empreiteira não era seu conhecido, como afirmou Renan. ‘Foi o senador Calheiros quem apresentou o Gontijo a Mônica. Antes, ela nunca tinha visto o senhor Gontijo’, sustentou. A ex-namorada do senador também negou que tenha recebido R$ 100 mil como se fossem um fundo para a educação da filha.


‘Essa história dos R$ 100 mil não é assim’, afirmou o advogado da jornalista. ‘Foram dois depósitos de R$ 50 mil cada um, em maio e junho de 2006, por conta das pensões que ele deixara de pagar. Os R$ 100 mil foram para cobrir esses atrasados, e não tem nada que ver com um fundo de educação.’


O advogado disse que ‘a reportagem de Veja está correta’ e tinha apenas uma correção a fazer: ‘O tempo todo, o acertado eram R$ 8 mil de pensão e mais o aluguel, em torno de R$ 4 mil.’ O total era de R$ 12 mil, e não de R$ 16,5 mil, como informou a revista, disse Calmon.


Segundo o advogado, Mônica resolveu fazer essas declarações por meio dele porque o senador ‘decidiu abrir a intimidade’ no plenário da Casa.


ACM


Por conhecer Mônica Veloso, o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), avaliou assim a situação política de Renan: ‘Eu até poderia ser benévolo com ela (a jornalista) porque foi minha nora, mas também não podemos achar que ela é a dona da verdade. Ele (Renan) teve coragem de trazer isso tudo ao plenário.’ Ao falar da ‘nora’, ACM referia-se ao tempo em que a jornalista namorou seu filho, o deputado Luís Eduardo Magalhães, morto de enfarte em 21 de abril de 1998.


FRASES


Pedro Calmon


Advogado


‘Ela sempre recebeu em dinheiro vivo, entregue pelo Gontijo’


‘Foi o senador Calheiros quem apresentou o Gontijo a Mônica. Antes, ela nunca tinha visto o senhor Gontijo’


‘Essa história dos R$ 100 mil não é assim’


COLABOROU CHRISTIANE SAMARCO’


Arnaldo Jabor


O escândalo está desmoralizado


‘Minhas mãos estão trêmulas. Não sei por onde começar, diante da gigantesca tragédia vagabunda do País. Vou pelo ódio? Pela denúncia, pelo clamor à razão? Vou pela indignação, que já me faz mal à saúde (me diz o médico)? Vou pelo nojo, vendo o Romero Jucá articulando a defesa do Renan, à frente de suas sete fazendas imaginárias, de que ninguém mais falou? Ou do Sarney, fazendo um ensaio na Folha, em que ousa dizer que as denúncias existem porque os políticos se invejam e se odeiam, como se ele fosse um Montesquieu, um Cícero, ele, bem no meio do olho do furacão…? Vou por onde? Estamos diante do corpo aberto da Pátria, nua na mesa de dissecação e nada podemos fazer. A tragédia é que estamos vendo o retrato nítido da história do País, e ele vai escorrer para o ralo. Que podemos fazer, nós, cidadãos desesperados de impotência?


Pois é. Creio que seria melhor tentar, leitor, ‘meu semelhante e meu irmão’, engolir o escândalo e refletir sobre tudo isso.


Antes de mais nada, temos de entender ‘macro-historicamente’ (se é que isso existe…) o que está acontecendo com o Brasil. Graças à estabilidade econômica, herança bendita de FHC, e graças ao mundo atulhado de grana para investir em países como o nosso, graças à democracia em que ainda vivemos, estamos descobrindo que o patrimonialismo ibérico, sujo, a tradição corrupta, oligárquica, clientelista não é um ‘defeito’ do sistema, mas sua estrutura básica. Diante do mundo se modernizando, há uma pressão difusa contra esse anacronismo, que até os computadores já se recusam a contabilizar. Mas, acontece que este velho ‘atraso’ reage à modernização capitalista – único caminho para o progresso – exatamente como, nos países teocráticos do Oriente, a democracia é odiada.


Um grande risco que corremos, na maré da lama, é sermos engolidos pela ilusão de que tudo é invencível, caindo num niilismo político burro, da época, digamos, do Ademar, da ‘beira do abismo’. Este é o grande desejo dos corruptos: que nos acostumemos à zorra geral e que nos dediquemos ou a plantar nosso jardim ou a meter a mão também na cumbuca mais próxima. Eles querem que achemos que não há saída, que ‘tanta gente tem culpa, que ninguém tem culpa’.


No entanto, nas enxurradas de bosta, algumas doenças são lavadas. Por exemplo, durante o mensalão, graças ao Jefferson, traidor dos traidores, houve o extermínio do bolchevismo-dirceuzista, esse sim, que nos levaria ao caos econômico. Foi um acaso muito bom. Claro que ficou, no lugar dele, o ‘lulismo’, a grande aliança entre sindicalismo pelego e conservadorismo corrupto, agora responsável por este caos, que é menos nefasto (oh… Deus, que escolha…) do que a revolução ridícula que se planejava antes. Pequenas vitórias imperceptíveis devem estar se sedimentando na consciência da população.


Mas as doenças nos rondam, como a dengue. Um perigo patológico é o ódio à democracia. Quantos de nós já não fantasiamos milícias de extermínio aos corruptos impunes? ‘Tem mais é que matar!’, pensamos. Quantos já fizeram a fantasia de fechar o Congresso? Quantos se encantam com um chavismo cordial?


‘Então – pergunta o leitor, de pijama, tomando um Lexotan -: então, de quem é a culpa?’


O governo do Lula é hoje o grande culpado. Me explico. Não acho o Lula um canalha. Seu grande defeito é o deslumbramento ignorante e a preguiça de fazer marolas. Mas, o governo Lula é, sim, o grande culpado.


Por quê? Porque está conivente com o Brasil do atraso. Acho que o Lula até se regozija intimamente com as ações da PF, que o beneficiam indiretamente, para ele poder dizer um dia: ‘Nunca antes… a PF prendeu tanto…’ Mas, vejam se ele lutaria por uma reforma do Judiciário…


O governo Lula é o grande culpado, sim. O primeiro governo do Lula desmoralizou a esperança. O segundo governo está desmoralizando o medo. No primeiro mandato, o Lula teve sorte de se livrar do Dirceu. Mas no segundo mandato, o lulismo, como uma grande lula, um grande polvo querendo ampliar com todos, beijando a mão dos barbalhos, no grande ecumenismo de coalizão, está desmoralizando o medo, o pudor dos ladrões, que agem olimpicamente, se sabendo impunes. O Silas Rondeau nomeou seu sucessor, com Renan e Sarney (sempre esse homem fatal…) O governo Lula está preso numa rede de corruptos.


Assim manietado, Lula elaborou sua ideologia:


‘Bem… eu manobro com todo mundo, que eu sou bom de vaselina, tenho maioria no Congresso, a economia vai bem (que sorte hein, Marisa…), faço gastos populistas para manter meu prestígio junto aos idiotas que não entendem de política, graças ao meu enorme talento de ator simpático, fico acima da política, como um pai da pátria (muita gente acredita até que eu fiz o Plano Real, que eu dominei a inflação), não mexo em nada que eu não sou besta de brigar com sindicatos e banqueiros e, assim, sem mexer em nada, farei uma espécie de desenvolvimentismo conservador, um baixo juscelinismo, sem verbas, claro, para realizar o famoso crescimento, que (cá entre nós, Marisa), acho difícil… Privatizar estatais corruptas, estradas, aeroportos? Nem pensar, que os sindicalistas me xingam… e, assim, não faço reforma nenhuma e passo à história como o operário que brilha, o presidente do povo. Meu sucessor que se dane para pagar o estouro das contas públicas, principalmente se houver uma crise…’


Por isso é que o Lula é culpado. Faz um governo conservador com jargão reformista, falsamente desenvolvimentista, e fica conivente com o crime geral do País, perpetuando estruturas secularmente arcaicas.


E a espantosa, maravilhosa chance que os ventos econômicos internacionais nos trazem será desperdiçada para o Lula não se aporrinhar.


E, por último, a única coisa importante que mudaria a corrupção seria mexer, mudar as regras da Comissão do Orçamento, pois lá estão todas as doenças que infectam o País. E também é essencial fazer transparentes as normas de licitação para obras públicas.


Mas, a coalizão da lama não deixa, ora…


Assim, as únicas coisas de que precisamos são as únicas que não se farão.’


VENEZUELA
Ruth Costas


Protestos se alastram na Venezuela


‘Milhares de estudantes que protestavam contra o fim das transmissões da Rádio Caracas de Televisão (RCTV) entraram ontem em choque com a polícia pelo segundo dia seguido em Caracas, Valencia e outras cidades. Como no domingo – quando venceu a concessão da emissora, não renovada pelo governo de Hugo Chávez, o que a obrigou a sair do ar às 23h59 -, a polícia usou gás lacrimogêneo e jatos d’água para conter os protestos. Dezenas de pessoas ficaram feridas, incluindo quatro estudantes baleados em Valencia, a 100 km de Caracas. Um deles teve uma bala alojada num pulmão.


Os conflitos começaram de manhã, quando os jovens se reuniram em universidades da capital para protestar, e se intensificaram depois das 15 horas. Alguns dos piores enfrentamentos ocorreram na Praça Brión, no bairro de Chacaito, onde estudantes se reuniram para fazer uma passeata até representações da União Européia e da Organização dos Estados Americanos. Os policiais usaram balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo lançadas de motos e blindados, enquanto alguns estudantes atacavam com garrafas e pedras. A versão oficial diz que havia alunos armados.


No ar havia 53 anos, a RCTV era a televisão de maior audiência no país e a única de alcance nacional que ainda fazia oposição ao governo. Chávez usou várias justificativas para cancelar a concessão. Primeiro, acusou a TV de ter apoiado o golpe que o afastou do poder por 48 horas em 2002. Depois, acusou-a de evasão fiscal e, por fim, aderiu a argumentos de cunho moralista.


‘Quem ganhou com o fim das transmissões da RCTV foram as outras emissoras privadas – como a Venevisión, de Gustavo Cisneros -, que agora ficarão com a maior parte da verba publicitária’, disse ao Estado Marcelino Bisbal, diretor de pós-graduação em Comunicação da Universidade Católica Andrés Bello.’O custo político para Chávez é maior porque os países que ainda tinham dúvida de que esse governo é autoritário agora se convenceram.’ Várias entidades, como a Sociedade Interamericana de Imprensa, denunciaram o fechamento da TV como um atentado à liberdade de expressão.


O sinal da RCTV foi interrompido após um vídeo emocionado, em que atores e apresentadores se despediram e cantaram o hino nacional. Em seguida, entrou no ar o logotipo da Televisão Venezuelana Social (TVES), criada pelo governo para substituir a RCTV e definida como ‘rede de serviço público independente’, embora seja financiada pelo Estado e 5 de seus 7 diretores sejam indicados pelo Executivo. A TVES começou a transmitir à 0h20, com um show folclórico.


‘Não produziremos os programas, mas os compraremos de terceiros, o que garantirá a independência de seu conteúdo’, disse ao Estado Maria Alejandra Díaz, diretora de Responsabilidade Social do Ministério de Comunicações e, simultaneamente, diretora da TVES. Questionada se a simples escolha do material a ser transmitido não permitiria direcionar a programação, ela disse que ‘o bom senso, currículo e ética’ dos diretores são a garantia de que isso não ocorrerá.


Todo o espaço reservado publicitário da TVES é preenchido com propaganda dos projetos de Chávez. A emissora transmitiu ontem, entre outros, documentários sobre corais e viagens ao Alasca. Num programa, um animador com fantoches de coelho e tigre apresentava os personagens: ‘Esse é o tigre do neoliberalismo.’ ‘Com essa programação moralizante, eles não têm a menor chance de atrair o público que via séries e novelas na RCTV’, opinou Bisbal.


O Ministério de Comunicações pediu ontem à procuradoria que investigue a TV Globovisión (também de oposição, mas de alcance limitado) e a rede americana CNN por, respectivamente, incitar ao assassinato de Chávez e conduzir uma campanha de difamação contra a Venezuela.


FRASES


Marcelino Bisbal


Diretor da Universidade Andrés Bello


‘O custo político para Chávez é muito alto porque aqueles países que ainda tinham dúvida de que esse governo é autoritário agora se convenceram’


María Alejandra Díaz


Diretora da TVES


‘Não produziremos os programas, mas os compraremos de terceiros, o que garantirá a independência do conteúdo’’


Denise Chrispin Marin e Leonencio Nossa


Planalto evita comentar decisão


‘Alegando respeito à soberania, o Palácio do Planalto não se manifestou oficialmente sobre o fechamento da Rádio Caracas de Televisão (RCTV). Não é a primeira vez que o governo brasileiro evita entrar no assunto. Recentemente, o Brasil não aceitou assinar uma moção apresentada por Hugo Chávez contra a emissora no âmbito do Mercosul. ‘A verdade é que os dois lados (imprensa e governo da Venezuela) foram longe demais’, disse uma pessoa próxima do presidente Lula.’ A direção nacional do PT e o PSOL assinaram um manifesto de apoio ao fechamento da RCTV, entregue no domingo à Embaixada da Venezuela em Brasília.


O ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP), fez uma intervenção sobre a RCTV e criticou Chávez. ‘A democracia é uma palavra, mas sobretudo é um estado de espírito. Quando ela começa a ser adjetivada começa a decompor-se. Quando falam em democracia popular, quando se fala em democracia de qualquer natureza, nesse momento ela deixa de ser democracia para começar a decompor-se’, disse Sarney.


Funcionários de TV temem não arrumar empregos


Com seu futuro profissional incerto, boa parte dos 3 mil funcionários da RCTV teme passar pelas mesmas dificuldades que atingiram os 20 mil empregados demitidos em 2002 da estatal petrolífera PDVSA. ‘Há rumores de que entraremos numa lista negra e não conseguiremos mais trabalho em nenhuma empresa pública ou que preste serviço para o governo’, disse ao Estado Miguel Rivero, editor e produtor do departamento de variedade e dramaturgia da emissora.


Alguns empregados da PDVSA dispensados por participar de uma greve cujo objetivo era desestabilizar o governo Chávez tiveram dificuldade para encontrar novo trabalho. Segundo denúncias, eles eram sumariamente excluídos de concursos públicos e a iniciativa privada resistia em contratá-los temendo represálias do governo.


‘Dado o grau de arbitrariedade desse governo não há como negar que uma nova situação como essa de fato é possível’, disse Shirley Reyes Marquez, de 27 anos, que trabalha no setor financeiro da RCTV.


Desde ontem de manhã, os diretores da emissora estão analisando estratégias para ‘voltar a chegar aos lares venezuelanos’. Há basicamente duas opções. A primeira é seguir operando apenas como uma produtora de programas, que seriam vendidos para outras emissoras. A segunda, fazer um novo acordo com as operadoras de TV a cabo para continuar a transmitir por esse sistema. A RCTV já possuía um canal de TV a cabo, mas ele foi cedido ao governo junto com a freqüência do canal 2 para a rede aberta.


A emissora também considera a possibilidade de voltar a apostar na via judicial, apesar de essa opção não ter impedido o fim das suas transmissões, e o seu diretor, Marcel Granier, continuará com a campanha internacional para conseguir apoio para a sua causa. Até agora, ele se recusou a dizer se haverá demissões. Os empregados da RCTV foram trabalhar normalmente ontem (apesar do clima de comoção) para terminar a gravação das novelas e humorísticos vendidos para outras redes de TV na América Latina.’


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


SS autoriza imitação


‘Silvio Santos caiu na dança do siri anteontem no Pânico. E a RedeTV! comemorou os 16 pontos de pico que o programa obteve com o encontro do homem do baú com Vesgo e Ceará, em frente do Hyatt, em Los Angeles. A média de audiência do programa foi de 9 pontos.


Os humoristas foram pedir a Silvio, mais uma vez, permissão para que Ceará o imite, uma vez que o contrato assinado em 2005 já venceu. Especula-se que Silvio não queria autorizar a imitação, porque há boatos de que a Record pretende contratar o Pânico, que tem contrato até dezembro com a RedeTV!. A dupla chegou a propor a SS um termo de autorização somente até o fim do ano, mas não teve sucesso.


Silvio Santos foi espetacular. Driblou a situação e condicionou sua assinatura a uma gincana social. A autorização será dada semanalmente, se a dupla conseguir cinco donativos de cinco doadores diferentes para o Retiro dos Artistas. Assim, Silvio evitou assinar o contrato de dois anos que estava nas mãos de Vesgo e Ceará e ainda saiu bonito na fita.


Para quem não viu a dança do siri, vale checar no blog do Vesgo.


HDTV faz crescer busca por plásticas


Em entrevista ao Estado, Robert Rey, cirurgião plástico de Beverly Hills, em Los Angeles, afirmou que a HDTV tem mudado os hábitos de atores e apresentadores americanos. O brasileiro que comanda o reality show Dr. 90210, em cartaz no canal E!, contou que a procura por tratamentos estéticos e cirurgias plásticas fez crescer o movimento em sua clínica. O médico também disse que, além dos cirurgiões, outros profissionais foram valorizados com a entrada das imagens em alta definição: os maquiadores e os técnicos de iluminação.’


INTERNET
Editorial


Crimes cibernéticos


‘Seis meses após ter sido retirado da pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, sob a alegação de que feria direitos fundamentais, o projeto do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) que tipifica os crimes praticados na internet ganhou nova versão e poderá ser votado na quinta-feira. O texto funde três propostas que foram apresentadas há mais de seis anos pelo deputado Luiz Piauhylino (PDT-PE) e pelos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Leomar Quintanilha (PC do B-TO).


O ponto mais criticado da primeira versão do projeto era a obrigatoriedade de identificação prévia dos usuários da internet. Para entrar na rede, eles teriam de preencher um cadastro eletrônico. O acesso sem identificação prévia seria punido com pena de até quatro anos de reclusão. Outro ponto criticado era o que tornava os provedores de correio eletrônico responsáveis pela veracidade dos dados cadastrais dos usuários, sob pena de multas de até R$ 100 mil e até quatro anos de prisão, e ainda os obrigava a manter por três anos um banco de dados com a data e hora de cada e-mail transmitido por seus clientes.


Essa medida representava uma perigosa investida contra os direitos individuais assegurados pela Constituição. Sob a justificativa de propiciar ‘informações cadastradas’ que permitam identificar autores de delitos, a primeira versão do substitutivo permitia ao poder público invadir a privacidade de todo usuário de computador. Com o controle da comunicação eletrônica pelo Estado sem autorização judicial, as autoridades policiais teriam acesso desde a uma simples troca de mensagens entre namorados até a correspondência entre grandes empresas. Ao analisar a primeira versão do projeto, nestas colunas, comparamos essas medidas ao ‘Big Brother’ – o controle absoluto da sociedade por parte do Grande Irmão onipresente, que George Orwell descreve no livro 1984.


A nova versão do projeto eliminou algumas dessas exigências, mas é tão polêmica quanto a anterior. Ela define 600 tipos de delitos cibernéticos, revoga o direito à privacidade dos usuários da internet e cria um conceito de ‘defesa digital’ que permite a qualquer técnico de informática invadir comunicações de terceiros, a pretexto de combater ataques de hackers.


Além disso, a nova versão consagra o ‘grampo digital’ sem prévia autorização judicial. Pela legislação em vigor, para realizar uma interceptação telefônica a polícia e o Ministério Público precisam recorrer à Justiça, que só a autoriza se não houver outro meio de obtenção de provas. Pela proposta de Azeredo, qualquer profissional do setor de informática que suspeitar de um cybercrime poderá, quando bem entender, invadir as redes da internet e fazer intercepção digital.


Outra inovação polêmica da nova versão do projeto é o dispositivo que obriga os provedores de acesso à internet a denunciar à polícia, de forma sigilosa, usuários suspeitos de divulgação de pedofilia e de apologia à discriminação racial, sexual e religiosa. Azeredo alega que essa medida foi inspirada num acordo entre provedores e o Ministério Público firmado em São Paulo. Os especialistas em informática alegam que o substitutivo foi muito além dos termos desse acordo, possibilitando a apresentação de denúncias infundadas e irresponsáveis, que podem comprometer a imagem pública de pessoas inocentes.


Diante de tantos pontos polêmicos e de inovações que ferem direitos assegurados pela Constituição, é no mínimo estranha a pressa com que Azeredo quer que o presidente da CCJ, senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) ponha em votação a nova versão de seu projeto. Além das contundentes críticas emitidas por ONGs e entidades que defendem os interesses dos provedores, o próprio consultor jurídico do Ministério das Comunicações reconhece que, embora a segunda versão do projeto seja melhor do que a primeira, ela ainda contém ‘exageros’. Na realidade, parece não haver dúvida de que algumas das inovações propostas pelo parlamentar mineiro colidem com a Constituição. Por isso, o que a CCJ deve fazer é rejeitar sumariamente o projeto.’


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