Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Resposta ao artigo “Demissões na rádio geram polêmica”

Ao contrário do que diz o título do artigo do professor Wilson Alves-Bezerra (“Demissões na rádio geram polêmica”), as demissões de dois jornalistas na Rádio UFSCar não geraram nenhuma polêmica! Nem dentro da rádio, nem fora. E, a propósito, nem pode ser considerada uma demissão em massa, como o texto do professor Wilson sugere. O que acontece é que com a mudança de gestão dentro de uma instituição, mudam-se as visões.

Alguns preferem conduzir uma rádio sem locutores (antiga gestão), outros (atual gestão) têm a visão que uma rádio com locutores melhora a interação com o público e aumenta a audiência. E é importante salientar que a Rádio UFSCar é uma concessão para a Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico da UFSCar, uma instituição privada e sem fins lucrativos. A Fundação financia integralmente a Rádio e, ao contrário do que informa o artigo do professor Wilson, precisa estar atenta às questões financeiras. Antes, 7 profissionais de comunicação trabalhavam isoladamente na produção de pautas.

Hoje, a Fundação tem uma equipe de 5 profissionais de comunicação trabalhando de forma integrada (isso mesmo, o professor Wilson esqueceu-se de mencionar que a FAI.UFSCar ainda mantém 5 profissionais de comunicação – além das locutoras – em seu quadro de funcionários). Essa equipe trabalha para produzir conteúdo para o site da Fundação, para as redes sociais da Fundação, para a Rádio e a TV UFSCar. Além disso, combinando esforços com a equipe de comunicação da UFSCar, a equipe da FAI.UFSCar auxiliou na produção da Revista UFSCar (recém lançada). Desta forma, além da equipe de jornalistas trabalhar mais integrada e produzir muito mais, a Rádio ganhou mais vida com as novas locutoras.

O professor Wilson deixou de mencionar que, além da contratação de duas locutoras, também foi contratado um novo profissional para elaborar a programação da Rádio e atuar como interlocutor qualificado nas entrevistas que a Rádio continua fazendo com políticos, profissionais ou pesquisadores. O profissional em questão é bacharel em Direito e tem mestrado e doutorado em Educação pela UFSCar. Além disso, está, atualmente, cursando um segundo doutorado em Ciências Sociais na UNESP/Araraquara. O professor Wilson também esqueceu de mencionar que na gestão anterior (que ele apoiava), a Rádio demitiu 8 estagiários, 1 técnico de áudio, 1 produtor e 1 programador. Mas, naquele momento não se preocupou em escrever algo a respeito. Também deixou de mencionar que a Rádio tinha em seu quadro de funcionários um motorista que trabalhava em Brasília para simples conveniência do ex-reitor. Esse escândalo nem sequer foi mencionado pelo professor Wilson em seu artigo.

Sobre o princípio da heterogeneidade e diversidade mencionado no artigo do professor Wilson, cabe ressaltar que, na contabilidade dos programas que foram ao ar desde 2015 até o primeiro semestre de 2017 (primeiro semestre da atual gestão), entre programas próprios, independentes e coproduzidos, a Rádio UFSCar está veiculando 61 programas, contra 37 em 2015, 49 no primeiro semestre de 2016 e 30 no segundo semestre de 2016, segundo dados informados pelo gerente da Rádio, o Sr. Diego Doimo.

E, como destaque positivo, a Rádio veicula 16 programas próprios no atual semestre, contra 12 no ano de 2015. Comparando-se com o segundo semestre de 2016, quando eram apenas 6, aí torna-se até covardia uma comparação, visto que houve um acréscimo de mais de 150% em programas próprios. Portanto, contra dados objetivos não há argumentação!

Sobre o slogan, ele continua sendo “Escute diferente!”. Mas, na comunicação as coisas são dinâmicas e uma borboleta que bate as asas na China pode mudar algo aqui. Desta forma, por uma feliz coincidência, o meme que arrebatou milhões de corações na internet (“diferentona”) tem a ver com o slogan da rádio. Resolveu-se, então, “pegar uma carona” para mostrar que a Rádio está acompanhando os acontecimentos.

Sobre as considerações relacionadas a gestão, o professor Wilson destaca que “um dos pilares do funcionamento da Rádio UFSCar” era seu “Conselho Editorial e de Gestão”, aprovado em 2016”. Entretanto, não menciona claramente (por que será?) que o referido Conselho foi criado pela gestão anterior (pró-reitoria de extensão) no apagar das luzes da administração, já tendo conhecimento que uma outra equipe iria assumir a UFSCar. E também não menciona que a pró-reitoria não detinha e não detém a concessão da Rádio (é sempre bom relembrar que a concessão da Rádio UFSCar é da FAI.UFSCar e que ela foi recentemente renovada até 2026). Mais ainda, esqueceu o professor Wilson de mencionar, que a rádio ficou sem conselho por 10 anos! Sim, ficou sem pilar por 10 anos! Também não mencionou que o Decreto 2.615 de 1998 em seu artigo 40 deixa claro que é infração punível com multa a transferência a terceiros dos direitos ou procedimentos de execução do Serviço.

E, dado o fato que a concessão da Rádio UFSCar é para a FAI.UFSCar, é interessante constatar que a antiga gestão tenha nomeado uma coordenadora de rádio (basta imaginar, por analogia, que o ex-reitor tivesse nomeado uma coordenadora para assuntos relacionados a submarinos recebendo função gratificada para tal sem a universidade ter submarinos). Bom, mas para quem contratava motorista em Brasília lotado na Radio em São Carlos, tudo era possível. E o professor Wilson nem se preocupou com isso!

Sobre a divulgação das notícias produzidas pelos jornalistas da UFSCar, acredito que o professor Wilson desconheça a estrutura organizacional de empresas de comunicação. Os repórteres estão subordinados aos chefes de reportagem e as matérias são avaliadas por um editor. Além disso, existe o editor-executivo e o editor-chefe. Os repórteres não saem publicando suas matérias sem passar por análises de pessoas mais experientes. Para o caso em tela, existe um Diretor de Comunicação da UFSCar – João Eduardo Justi – que está desempenhando um trabalho sério e responsável e motivando a equipe para novos desafios (como a recém lançada Revista UFSCar). É impressionante que a UFSCar – uma das melhores universidades do país – não tivesse até o momento publicado uma revista própria mostrando a vida universitária e divulgando conhecimento para a sociedade. Também é impressionante que as “fontes de informação” do professor Wilson, que delataram a conspiração maquiavélica de seleção de matérias através de “critérios obscuros”, não tivessem mencionado que estavam trabalhando para a produção de uma revista para a UFSCar!

Sobre a TV UFSCar, cabe mencionar que a sua implantação foi discutida no Conselho de Extensão no começo do século e sua implantação foi aprovada pelo Conselho Universitário em 2003 através da resolução 332. Equipamentos foram comprados (câmeras, monitores, microfones,…), um prédio foi construído para abrigar a Rádio e TV da instituição e um estúdio, com isolamento acústico e iluminação foi montado em 2006-2007.

Mais, ainda, o Plano de Desenvolvimento Institucional, aprovado pelo Conselho Universitário em 20/12/2013 (o que em vigor) explicita que a instituição deve “investir em um modelo inovador de produção e difusão para TV, que priorize a produção de conteúdo para veiculação em múltiplos canais internos e externos à Universidade (teledifusão aberta, cabo e Internet), superando a necessidade de instalação e manutenção de um canal de teledifusão próprio”. Portanto, a TV foi sim amplamente discutida pela universidade e as ações para sua implantação foram tomadas e respaldadas pelo órgão colegiado superior da universidade. E o Plano de Desenvolvimento Institucional deixou bem claro que dever-se-ia investir em um modelo inovador de produção e difusão de TV. Previsto, aprovado, feito!

E não é verdade que foi o novo Estatuto da Fundação que delegou a si mesma o papel de gerir a TV UFSCar. Em geral, as TVs são alocadas em fundações, por serem mais ágeis e dinâmicas. Alguns exemplos: Fundação Padre Anchieta (TV Cultura), Fundação de Difusão Educativa e Cultural Jerônimo Coelho (TV Cultura SC), FURBTV (Fundação Universidade Regional de Blumenau), UNISUL TV (Fundação Universidade do Sul de SC) de Tubarão/SC, Fundação Rádio e Televisão Educativa de Uberlândia (Universidade Federal de Uberlândia), Fundação Rádio e Televisão Educativa e Cultural (Universidade Federal de Goiás), Fundação TV Educativa da Universidade Católica de Santos e tantas outras.

Em São Carlos mesmo há a FESC (Fundação Educacional de São Carlos) que controla a TV Educativa do município. A UFSCar, desde 2002, traçou o plano de ter a Rádio e a TV UFSCar gerenciadas por sua Fundação de Apoio e registrou tal disposição já na versão de 2002 do Estatuto da FAI.UFSCar. E essa disposição se manteve em todas as outras atualizações do referido Estatuto. Assim, os documentos internos comprovam, e os vários exemplos de Rádios e TVs Educativas que existem pelo país ratificam, que não há inversão de papeis.

O que parece haver é uma visão obscurecida pela intolerância ideológica! Não consegue suportar ver na gestão qualquer pessoa que pense diferente dele! Como pode-se verificar através da leitura do artigo do professor Wilson (que, diga-se de passagem, não detém exclusividade de tal sentimento dentro da instituição), tudo que a gestão faz é visto de modo negativo.

A TV UFSCar tem veiculado diversas reportagens de interesse da comunidade e vem construindo uma audiência cativa que quer ver as notícias da UFSCar alcançarem os diversos cantos do Brasil, como o caso das reportagens “Projeto MoMA“ (Mostra Musical dos Alunos do Curso de Música) ou “Mostra Linguagem Viva” (evento feito por alunos da linguística) que juntas tiveram quase 15 mil visualizações em redes sociais. Outra reportagem muito interessante foi sobre uma descoberta científica, “Pegada Fóssil Saltador”, que teve mais de 3 mil visualizações. Ou, ainda, a reportagem “UFSCar entre as 10 melhores do país” que atingiu quase 40 mil visualizações. Existem vários outros exemplos que comprovam que o jornalismo que a nova gestão da UFSCar está construindo é público, plural e de interesse da comunidade!

Sobre a participação da comunidade, é importante mencionar que o Conselho Deliberativo da FAI aprovou, recentemente, o Regimento Interno da diretoria de Comunicação e Cultura que estabelece a criação de duas comissões assessoras formadas por membros da comunidade que serão responsáveis pela elaboração da política editorial dos órgãos de comunicação da Fundação. Além disso, a TV UFSCar – que nesta gestão está sendo efetivamente implantada – está com chamada pública aberta para receber propostas de programas.
Por fim, a atual gestão está em busca da audiência sim! Um veículo de comunicação só se caracteriza como tal se conseguir atingir seu público e transmitir suas mensagens! Talvez o professor

Wilson não queira uma rádio que seja ouvida e nem uma TV que seja vista. Talvez nem queira uma TV!
Tudo leva a crer que, com a atual equipe no comando da UFSCar e da FAI.UFSCar, nem se a comunicação fosse feita apenas com sinais de fumaça, o professor Wilson iria gostar. Aí o diálogo fica difícil!!

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Ednaldo Brigante Pizzolato é professor associado da UFSCar, membro titular do Conselho Universitário e diretor institucional da FAI.UFSCar