Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Rui Araújo

‘Esta notícia de 16 linhas publicada (27 de Fevereiro) na secção ‘Sociedade’ não passou despercebida: ‘A polícia espanhola anunciou na sexta-feira a prisão, em Madrid e em Valência, de 36 romenos suspeitos de estarem por detrás de uma rede de prostituição particularmente violenta. Os detidos forçariam as jovens órfãs da Roménia a prostituir-se em Espanha. As jovens seriam obrigadas a desnudar-se parcialmente em pleno Inverno, não podiam recusar a utilização de preservativo nos actos sexuais, trabalhavam 12 horas por dia sem interrupção. Na sequência da operação policial, 25 prostitutas foram ‘libertadas’. (…)’

Uma leitora de Lisboa ficou indignada com esta ‘breve’ e escreveu ao provedor: Trabalham? Ser violada sistematicamente é trabalho? Ou uma mulher obrigada a prostituir-se não pode ser considerada como uma mulher violada? Porque a prostituição é uma profissão?!!!!

Que falta de cuidado com as palavras!

Que falta de cuidado com a vida e sofrimento alheios!!!, diz a leitora que pede o anonimato.

De facto, a notícia (não assinada) do Público contém alguns erros. E suscitou-me o seguinte comentário:

1. A polícia espanhola anunciou na sexta-feira a prisão – escreve o/a jornalista. E os factos relevantes (a essência da própria notícia) ocorreram quando? – pergunto, mas lemos o texto e ficamos sem saber.

2. A polícia espanhola anunciou na sexta-feira a prisão. A Polícia não prende, detém. Só a autoridade judicial pode transformar uma detenção em prisão. O rigor é importante.

3. Não podiam recusar a utilização de preservativo. Os criminosos estavam preocupados com a SIDA (sic)… ou seria precisamente o contrário?

4. Trabalhavam 12 horas por dia. Jovens órfãs obrigadas a prostituir-se (com recurso à violência) não ‘trabalhavam’…

5. 25 prostitutas foram ‘libertadas’. Afinal, foram libertadas ou não? As aspas não fazem, aqui, sentido.

Estou cá, de novo. Desta feita, não por via das vírgulas, assunto a que V. Ex.ª. se referiu na intervenção semanal, na edição do passado Domingo, dando-me razão, o que, desde já, agradeço.

É comum ler-se no Público a expressão ‘cerca de’, quanto se expressa determinada quantidade. Ora, aquela expressão deverá ser usada quando a dita quantidade não está, concreta e objectivamente, determinada.

Todavia, nem sempre assim acontece. Atente-se na notícia da pág. 3 da edição de 15 de Março de 2006 ‘Fusão exige corte de mais de 2000 postos de trabalho’.

No final da 1ª. coluna lê-se: ‘O BCP tem actualmente cerca de 909 balcões…’. Então, terá para aí 908,5; 909,5 (!!!). Não sendo um número ‘redondo’, nunca poderá ser empregue a expressão referida. E já agora, também a palavra ‘actualmente’ deveria estar entre vírgulas…, escreve José Rito. As críticas do leitor são pertinentes. É desnecessário complementar os reparos formulados.

Chamou-me a atenção pelo desleixo e aparente ausência de qualquer revisão um texto (publicado no passado Domingo) sobre a visita a Lisboa do dirigente da Aliança Patriótica Iraquiana, Abdul Jaber Al-Kubasi – julgo que seja este o nome.

A dúvida sobre o nome do visitante justifica-se porque ele aparece escrito no artigo de três formas diferentes:

– Abdul Jaber Al-Kubasy (uma vez apenas);

– Abdul Jaber Al-Bukasy (duas vezes, incluindo na legenda da fotografia);

– Abdul Jaber Al-Busaky (três vezes).

Também de uma das entidades promotoras da visita, o Tribunal Mundial sobre o Iraque, se diz que foi representada por Manuel Barroso, quando o seu representante era, na verdade, Manuel Raposo.

O conteúdo do artigo é, em termos gerais, correcto e é pena que não tenha merecido uma edição mais atenta por parte do Público, diz Elsa Silva.

O provedor reconhece que os reparos da leitora são importantes.

O texto, escrito por uma jornalista estagiária, foi revisto por um responsável da Redacção.

Paulo Ferreira, o subdirector responsável da revisão do texto em causa, explica: ‘Há, de facto, dúvidas sobre a forma correcta de escrever o nome do dirigente dessa organização, que são reforçadas quando se pretende esclarecê-las cruzando várias fontes. A leitora sugere Abdul Jaber Al-Kubasi. Mas o e-mail do Tribunal Iraque enviado para as redacções a anunciar a sessão escrevia Abdel Jaber Al-Kubaysi, tal como o próprio site da organização. Ainda em português, o Avante tem preferido Abdul Jabbar al-Kubaysi. Mau é, de facto, que versões diferentes apareçam no mesmo texto.

No trabalho de edição, feito por mim, falhou a uniformização gráfica quando parece existir, pelo menos, uma relativa unanimidade em ‘Kubaysi’. Quanto ao nome do representante do Tribunal Iraque, ele foi escrito na convicção de o termos ouvido correctamente, quando os intervenientes foram publicamente apresentados no início da sessão.

Sabemos agora que houve confusão entre Barroso e Raposo. De resto, já depois de ter chegado à redacção, a autora da notícia telefonou a Domingos Lopes, da CGTP-IN e envolvido na organização, com o objectivo de confirmar alguns dados, nomes de intervenientes incluídos. E se não sentiu necessidade de confirmar esse nome é porque, infelizmente, não teve dúvidas do que ouviu. A proximidade sonora entre as duas palavras é uma boa pista para explicar o erro’, responde Paulo Ferreira.

O provedor considera que a explicação do subdirector é aceitável.

O provedor considera que este incidente sublinha a importância que reveste o enquadramento dos jornalistas estagiários. E a revisão dos textos por copydesks.

Perguntei, portanto, ao chefe de Redacção António Granado qual era a política do jornal em matéria de estágios.

‘O Público recebe como estagiários alunos do último ano das principais licenciaturas de Comunicação e Jornalismo do país e também formandos do curso geral do Cenjor.

Estes estágios resultam de protocolos assinados entre o jornal e as instituições de onde provêm os alunos ao longo dos últimos 15 anos. A selecção dos estagiários é feita pelas instituições, à excepção dos estagiários da fotografia, que são escolhidos após análise de portfolio feita pelo editor da secção.

Durante o tempo que passam no jornal, os estagiários trabalham sob a supervisão de um editor e produzem textos de tamanho e responsabilidade variável, assinando-os com o seu nome. Os estagiários da fotografia assinam também os seus próprios trabalhos. Como se trata de um estágio curricular, os alunos recebem, durante o período que estão no jornal, um subsídio de alimentação e de transporte.

No Público, os estágios curriculares duram três meses e nunca são prolongados. No final, os estagiários produzem normalmente um relatório de estágio que é avaliado pela instituição de onde provêm. Algumas licenciaturas solicitam ao editor responsável pelo estágio uma avaliação do trabalho do seu aluno, o que é feito através de um formulário enviado pelas instituições, onde constam diferentes parâmetros.

A experiência do Público com os estagiários que recebe das instituições com quem tem protocolos tem sido bastante positiva. A grande maioria mostra dominar as técnicas básicas de escrita, conhecer os preceitos deontológicos que norteiam a profissão e ter vontade de abraçar a profissão.

Como é evidente, o Público não integra nos seus quadros a grande maioria dos alunos que aqui fazem estágio curricular. De qualquer forma, são muitos os nossos actuais jornalistas que aqui começaram por fazer um estágio curricular’, explicou ao provedor o responsável dos estágios.

O provedor constata que inúmeros estágios de jornalismo, por esse país fora, se resumem à exploração dos jovens. É uma vergonha. Há estagiários a trabalhar sem qualquer enquadramento e, por vezes, sem auferir um tostão.

Não é agora o caso do Público, mas é o que sucede ainda hoje em muitas empresas portuguesas (incluindo algumas de dimensão nacional), salvo raras e honrosas excepções.

As empresas podem aproveitar o trabalho dos jornalistas estagiários (detentores de carteira profissional), mas têm a obrigação de os pagar.

É uma questão de justiça e de credibilidade.’