Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Setor de mídia atrai investimento privado nos EUA

A internet é vista, geralmente, como uma ameaça às outras mídias, em especial aos jornais, e, portanto, uma melhor opção de investimento. Por isso, à primeira vista pode parecer estranho que, no dia 23/10, pelo menos três empresas de private equity (companhias de capital privado que compram participações em empresas de capital aberto) tenham feito ofertas para comprar o Tribune Group.


O grupo, com uma capitalização de mercado (valor total das ações de uma empresa com base na sua cotação de mercado) de US$ 8 bilhões, é proprietário dos três dos jornais mais importantes dos EUA – Los Angeles Times, Baltimore Sun e Chicago Tribune – de diversas emissoras de TV e do time de beisebol Chicago Cubs. Este caso confirma que as empresas de private equity também estão se mostrando interessadas na grande mídia, e não só na rede, noticia a Economist [2/11/06].


Nos EUA, a família Dolan, maior acionista da rede de TV a cabo Cablevision, fez uma oferta para comprar as ações da empresa que estão no mercado para torná-la capital privado. Jack Welch, ex-chefe da GE, anunciou diversas vezes sua intenção de comprar o Boston Globe do grupo New York Times Company. Recentes boatos sobre a venda do serviço de notícias e informações Bloomberg fizeram com que o proprietário Michael Bloomberg emitisse uma declaração negando a intenção de venda. Especula-se que a Time Warner e a Viacom, dois conglomerados de mídia, sejam os próximos alvos de investimento privado. A Univision Communications Inc., maior grupo de rádio e televisão em língua espanhola dos EUA, foi vendida por US$ 13,7 bilhões para um grupo de empresas de private equity liderado pelo bilionário americano-israelense Haim Saban.


Na Europa, a empresa de mídia holandesa VNU foi comprada por US$ 11,6 bilhões no começo do ano por duas empresas americanas de private equity, Carlyle Group e Kohlberg Kravis Roberts (KKR). No Reino Unido, especula-se que foram feitas ofertas para a rede ITV, para a empresa de TV a cabo NTL e para o grupo de mídia Pearson, proprietário do Financial Times e co-proprietário da Economist.


Na Austrália, onde as novas legislações permitem propriedade estrangeira, a família Packer juntou seu braço de mídia, a PBL Media, à empresa de private equity CVC Ásia Pacific.


Sem pressão


Administradores e acionistas de empresas de comunicação de capital aberto gostam de acordos com empresas de private equity porque, quando o valor de suas ações é muito baixo, ficam frustrados com a avaliação de seus negócios pelo mercado aberto. A família Mays cansou-se de ver o valor das ações da Clear Channel estagnado, assim como o clã Chandler, que detém 12% do Tribune.


As companhias de private equity apreciam fluxos de caixa, ou seja, um planejamento de entrada e saída de capital na empresa em um determinado período de tempo. Já os mercados abertos preferem um histórico de crescimento contínuo. Para Colin Blaydon, do Centro de Estudos de Private Equity e Empreendedorismo da Escola de Economia Tuck, o grande risco é que as empresas de private equity descubram que o modelo de fluxo de caixa é menos previsível do que pensam.