Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sobrinha de Benazir critica cobertura ocidental

Fatima Bhutto, sobrinha da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, assassinada em dezembro, acusa a mídia ocidental de irresponsabilidade na cobertura do Paquistão, alegando que os veículos de comunicação não consideraram a forte possibilidade de fraudes nas eleições legislativas realizadas no mês passado – que envolve até mesmo o partido de Benazir. A ex-primeira-ministra foi morta em um ataque com tiros e bombas quando participava de um comício; o crime acentuou a crise política no Paquistão.


Fatima, que é jornalista, disse ter testemunhado sinais de fraude quando visitou locais de votação na província de Sindh, com resultados que mostravam a derrota da Liga Democrática do Paquistão, partido do presidente Pervez Musharraf. ‘Vimos a BBC e a CNN e soubemos que Musharraf havia perdido, o que seria um sinal de democracia e de que ele tinha aceitado muito bem a derrota’, afirma. Para ela, era como se a mídia ocidental dissesse: ‘vocês tiveram suas eleições, bom trabalho, correu tudo bem porque o presidente não venceu’. ‘Mas, no Paquistão, a situação era diferente’, completa. ‘Não houve apenas manipulação [nos votos], houve fraude declarada. Não foi nada por baixo dos panos’. Segundo a jornalista, o Partido Popular do Paquistão (PPP), que era liderado por sua tia, também se envolveu em fraude para vencer a disputa eleitoral. Em discurso no Clube de Correspondentes Estrangeiros, esta semana, Fatima criticou tanto a fraude quanto a atuação da imprensa estrangeira, que praticamente a ignorou.


Relações rompidas


Originalmente, as eleições legislativas estavam previstas para acontecer em janeiro, mas foram adiadas após o assassinato de Benazir, no dia 27/12. Fatima alega que, antes mesmo da morte da tia, a mídia ocidental apresentava uma visão distorcida de Benazir e do Paquistão em geral. ‘Quando ela voltou ao Paquistão [após um período de exílio], a mídia ocidental nem ao menos se incomodou em perguntar aos paquistaneses o que pensavam dela’, diz Fatima, que escreveu diversos artigos críticos à tia no ano passado.


O pai de Fatima, Murtaza Ali Bhutto, foi assassinado em circunstâncias misteriosas em 1996, depois de romper relações com Benazir e se tornar seu rival político. Na época, Benazir era primeira-ministra. Fatima acredita que sua tia foi ‘moralmente responsável’ pela morte do pai. Ela também critica o regime político paquistanês, dominado por dinastias. ‘Em um país de 165 milhões de habitantes, temos três opções: as famílias Bhutto, Sharif e Musharraf’, reclama. Informações da AFP [3/3/08].