Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Terra Magazine

COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
Paulo Nassar

Ou se liga ou desaparece, 3/02/07

‘A Fundamento, uma agência de comunicação de São Paulo, produziu em fevereiro um documento, em vídeo e texto, sobre a atualidade e os destinos da comunicação empresarial brasileira, cujo objetivo é refletir, a partir de depoimentos de 10 especialistas em comunicação, sobre esse campo de conhecimentos, suas práticas em qualquer empresa, independentemente de porte e ramo de negócio.

O trabalho ‘Comunicação em dois tempos: uma visão de futuro’ conta com depoimentos de comunicadores como Allan Finkel, Carlos Roberto Hohl, Fernanda de Carvalho, Heródoto Barbeiro, José Marques de Melo, Marta Dourado, Ricardo Gandour, Sérgio Lapastina, Sidney Basile e deste colunista. Deles, se extrai um panorama atualizado da comunicação empresarial.

Carlos Roberto Hohl, diretor de Relações Institucionais da ABB, destaca que as empresas devem sustentar sua comunicação de marketing numa imagem corporativa forte. ‘Já não bastam mais os atributos de produtos, o consumidor tem que ter identificação com os atributos institucionais da marca’. Ou seja, as pessoas se interessam por quem faz o produto, como faz e em que condições o produz.

O professor José Marques de Melo afirma que é preciso preservar as diferenças entre informação e persuasão, entre informação e opinião e entre interpretação e diversão e aponta os problemas éticos advindos do cotidiano profissional da comunicação empresarial entre jornalismo, relações públicas e publicidade. Marta Dourado, jornalista e presidente da Fundamento, explica que a atividade de comunicação empresarial deixou de estar apenas voltada para a produção de meios para a difusão de informações.

Sua abrangência se ampliou exponencialmente ao conviver com outras disciplinas, entre elas a antropologia e as ciências sociais. Isso exige um comunicador mais preparado, com experiência de vida e boa visão de mundo. O jornalista Sidnei Basile, diretor de Relações Institucionais da Editora Abril, ressalta a mudança de status da comunicação corporativa ao superar seu complexo de inferioridade, que nutria principalmente em relação à publicidade.

Os depoimentos em ‘Comunicação em dois tempos: uma visão de futuro’ reforçam a percepção de que o comunicador empresarial saiu da pré-história, de um tempo em que apenas era mercador de imagem, maquiava rostos e defendia práticas empresariais indefensáveis. Quem ainda não se deu conta disso, da complexidade das relações humanas no ambiente empresarial com suas particularidades políticas, comportamentais e tecnológicas, que se ligam aos aspectos sociais, econômicos e ambientais das sociedades em que vivem e atuam tem sentença de morte por extinção decretada.

Paulo Nassar é professor da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE). Autor de inúmeros livros, entre eles O que é Comunicação Empresarial, A Comunicação da Pequena Empresa, e Tudo é Comunicação.’



REVISTAS / ANÁLISE
Murilo César Ramos

Era um garoto que como eu…!, 30/01/07

‘Semana passada ocupei este espaço com a excelente reflexão do meu amigo e colega de docência e pesquisa na Faculdade de Comunicação da UnB, Paulo José Cunha, sobre a mesmice dos conteúdos dos principais jornais brasileiros: Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de S.Paulo e, embora não tão ´nacional` quanto aqueles, o Correio Braziliense (leia aqui).

Com a vênia do Paulo, prossigo hoje a reflexão inaugurada por ele.

Escrevo na segunda, dia de ler as principais revistas semanais de informação geral:Veja, IstoÉ, Época.

Mas ler por quê, se ontem assisti ao Fantástico, a vibrante revista semanal eletrônica, televisiva, da Rede Globo?

Fantástico, Veja, IstoÉ, Época nos dão hoje primordialmente histórias de comportamento, com muita ênfase em psicologia e saúde, com ares de ciência e objetivos de auto-ajuda. Nessa linha, Dráuzio Varela tornou-se o principal repórter do Fantástico.

Sua reconhecida autoridade de médico o tornou um eficiente divulgador científico, eventualmente também um mal-disfarçado guru de auto-ajuda. No último domingo, por exemplo, com a profundidade que a televisão permite, Dráuzio nos ensinou sobre paixão e sexo depois dos 60 anos. Como estou prestes a me tornar sexagenário, prestei mais atenção do que normalmente presto no Fantástico, sem ficar só ligado na expectativa da voz do Léo Batista e suas narrações dos gols das rodadas dos campeonatos, neste momento, estaduais.

Ora é bulimia, ora é anorexia, ora é a próstata, ou menopausas e andropausas, acne e câncer, e muita nova técnica de cirurgia plástica. É jornalismo de serviço, me dizem, quando reclamo dessas matérias de capa que escondem, e ainda bem que escondem, as poucas e superficiais matérias de política e economia. Infelizmente nem sequer chegam a esconder, porque jamais a fazem, uma boa, porque custosa e bem pensada, reportagem sobre a economia política da indústria de cosméticos – grandes anunciantes, diga-se de passagem – e sua quase irrelevância diante de nossos graves problemas de prestação de serviço de saúde pública.

Viro a página.

Afinal, o cenário das revistas de informação geral no Brasil, semanais ou mensais, não se resume a Veja, IstoÉ, e Época (deixo de fora a CartaCapital porque, além de ser muito pequenininha de circulação, não é dada ao jornalismo de butique que aquelas outras praticam).

Quero falar hoje da edição brasileira da, lá fora, cultuadíssima, Rolling Stone, que chegou sem alarde, em outubro último, às bancas do país afora. Digo do país afora porque estou com a edição de janeiro em mãos, e a comprei aqui em Lages, Santa Catarina, minha terra natal, de onde escrevo esta coluna.

Na capa da Rolling Stone, o rosto de uma celebridade artística; Rodrigo Santoro. Ele é a matéria principal, de capa: ‘Os medos, os desafios e as escolhas. A pressão de ser Rodrigo Santoro’.

Mas não foi por causa do jovem e excelente ator brasileiro que comprei a revista, apesar de gostar de saber, vez por outra, sobre as vidas atribuladas das celebridades. Não tanto sobre a vida da Ivete Sangalo, admito, mas por que não sobre a vida do casal Jolie/Pitt?

Comprei porque no alto da capa, acima do título, anunciava-se uma entrevista exclusiva: ‘Sou inocente; não preciso de títulos; sou o Zé Dirceu’. Entrevista do Zé Dirceu na Rolling Stone, pensei, deve ser mais animada do que na Folha, Veja, Globo, ou Estadão. A entrevista, reconheço, até que está mais para o convencional; menos por culpa dos entrevistadores, e mais pela habilidade do entrevistado, que é desses que fala de guarda mais fechada que o Mike Tyson dos tempos de campeão mundial dos pesos pesados.

Meio decepcionado com a entrevista do ex(?) peso-pesado da política brasileira, comecei a folhear a revista; dei de cara primeiro com uma longa, densa e interessantíssima reportagem – repito, reportagem – assim anunciada: ‘Atraídos por 400 toneladas de ouro espalhadas pelo subsolo da Guiana Francesa, garimpeiros brasileiros cruzam o Oiapoque e invadem ilegalmente o território em busca de um sonho que pode estar acabando. Será este o último grande garimpo brasileiro?’. Seis páginas de um belo texto, muito bem ilustradas por fotos de razoável força documental.

Não desdenhei também outra excelente reportagem, as mesmas seis páginas, também bem ilustradas, sobre como o ‘idealismo, paixão e teimosia movimentam as engrenagens da prolífica indústria dos festivais independentes brasileiros’. Reportagem em total sintonia com a linha editorial central da revista, que me deu também Justin Timberlake e Sylvester Stallone, além das inúmeras matérias curtas sobre personagens e trabalho do pop rock nacional e estrangeiro. Inclusive um perfil de Rick Bonadio, o polêmico e bem sucedido produtor fonográfico que lançou um dia uma heterodoxa banda pop brasileira, chamada Mamonas Assassinas.

Mas, se a Rolling Stone também estampa matérias de comportamento, como a página que li sobre os programas brasileiros de distribuição de medicamentos sem custo a pacientes com aids, o faz com sobriedade, como sóbria é a matéria, com tudo para ser sensacionalista, sobre um caso de pedofilia envolvendo um padre e uma adolescente ocorrido há 21 anos no Maranhão (à época, a jovem tinha 14), e que só agora teve decisão judicial.

O perfil-homenagem a Elis Regina, que morreu 25 anos atrás, em janeiro, tem respeitosas, porém agudas oito páginas. Rolling Stone também não poupa páginas para escrever sobre Hermila Guedes, revelação do cinema brasileiro; sobre Manuela D´Ávila, revelação potencial da política brasileira; como não poupa páginas para nos falar de um ‘novo xamanismo’, vivenciado, em experiência místico-psicodélica, por um dos repórteres da revista.

Não venham, porém, me dizer que Rolling Stone é assim pródiga em texto e profundidade porque é mensal, porque é nova no mercado, porque é voltada para um público cult, culto, elitista e metido a sofisticado!

Rolling Stone pode até durar pouco por aqui.

Mas que é um sopro de inteligência jornalística, isto é! Uma revista originária de uma época de muita energia contestadora, comportamental e política, uma revista que não nasceu apenas para ser vista, mas para ser lida.

Uma revista que pode não ser fantástica, que pode não ser exatamente um show, mas que pode perfeitamente fazer daqui a pouco um belo perfil do Dr. Dráuzio, pois ele tem credenciais suficientes para nos falar com profundidade, se exigido, sobre os desafios do amor, que, nas palavras imorredouras do poeta, nos é eterno enquanto dura.

Murilo César Ramos é jornalista e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília. Coordena na UnB o Laboratório de Políticas de Comunicação e o Grupo Interdisciplinar de Políticas, Direito, Economia e Tecnologias das Comunicações. É sócio da Ecco / Consultoria em Comunicações.’



TELEVISÃO

Márcio Alemão

Tempos confusos, 22/01/07

‘Recebi bem mais de 100 mensagens referentes à coluna do BBB7. É meu costume responder a todos mas, nessa quantidade, o melhor é fazer um agradecimento geral: obrigado e saibam que fiquei feliz com praticamente 100% de concordância com minhas opiniões.

E um dos leitores levantou uma questão interessante: a turma da casa começa a criar fortes laços afetivos após algumas horas de programa. Apenas duas semanas passaram e alguns casais já chegaram a jurar amor eterno, sonharam com uma família, conheceram a decepção do amor, deram um tempo, terminaram tudo, foram às lágrimas e já freqüentam outros edredons.

Falando em lágrimas, lembrei-me da Bispa Sonia Hernandes. Lembrei das primeiras vezes que a vi na TV. Eu a chamava de ‘a pastora perua’. Sempre muito bem vestida, bem maquiada, escolhia locações bucólicas para passar suas mensagens. Eu a via e sentia que havia esperança para todos nós. Ela se balançava à beira de um lago, o sol abençoava a cena, os pássaros gorgeavam em harmonia. Uma pintura quase impressionista.

Sua fama foi aumentando junto com seu prestígio e, segundo as notícias que tenho lido, o vil metal parece ter obnubilado o sol naquele eterno céu de primavera. Em seu novo formato, a Bispa chorava. Jamais consegui revê-la em momento de júbilo. A Bispa pregava e chorava. Devo confessar minha discreta desatenção ao que dizia, sempre. Seriam lágrimas de alegria? Tears of joy? É provável. E agora lá em Miami, apartada de seu rebanho, como estará? Espero que esteja bem e que o martírio lhe fortaleça.

Tempos de dor também ao redor da cratera que se abriu nas obras do metrô em São Paulo. Lamentável e questionável a cobertura de José Datena no primeiro dia do acidente. Como de costume, o tom exagerado parecia anunciar que toda a cidade seria tragada em minutos pois estávamos diante da ‘ponta do iceberg’. Nenhuma afirmação tácita, é claro. Foi mais um reality de mau gosto em nossa TV.

E em momentos reais como esse, sinto que estou muito contaminado pela ficção. Comecei a desejar que tudo aquilo fosse um filme. Que em minutos o staff do governo se reuniria e em segundos decidiria o que fazer, com precisão. Imaginei que equipes especializadas nesse tipo de ocorrência, estivessem elas no Japão, Califórnia, seriam trazidas em aviões, helicópteros e começariam a trabalhar diuturnamente. Sonhei que ao final do dia a tal Van fosse encontrada e todos resgatados com vida.

No final daquel dia vi um bombeiro deixando o local, só, triste, de mãos atadas, inconformado.

Era tudo verdade. Paul Newman, Burt Lancaster ou Silvester Stalone não viriam nos ajudar.

Márcio Alemão é publicitário, roteirista, colunista de gastronomia da revista Carta Capital, síndico de seu prédio, pai, filho e esposo exemplar.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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