Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Um caso exemplar de ficha nada limpa

Os jornais fazem uma cobertura inconstante das tentativas de candidaturas a cargos públicos por parte de cidadãos com problemas na Justiça. Depois que O Estado de S.Paulo fez a primeira contagem das inscrições bloqueadas em Tribunais Regionais Eleitorais, pipocam eventualmente novos números, e o leitor fica com a impressão de que existem mais candidatos com a ficha suja do que políticos em dia com a Justiça.


Casos exemplares ajudam a entender como funciona a seleção daqueles que vão compor as chapas. Um desses casos exemplares está estampado na edição da Folha de S.Paulo nesta quarta-feira [21/7]. Trata-se do cidadão chamado Selmo Santos, inscrito pelo Partido Democratas entre os mais de 5.700 candidatos a deputado federal.


Segundo a Folha, Santos declarou à Justiça Eleitoral possuir uma participação avaliada em R$ 80 milhões numa instituição de ensino superior, o Centro Universitário Livre do Meio Ambiente, além de imóveis de luxo e uma poupança de R$ 4 milhões. Se isso fosse verdade, ele seria o sexto mais rico na lista dos pretendentes a uma vaga na Câmara dos Deputados.


Estelionato, falsidade ideológica e tráfico de drogas


Acontece que a reportagem descobriu que essa instituição só existe no papel. Além disso, o endereço oficial do suposto milionário é uma casa simples da periferia de São Paulo. A suposta sede da universidade da qual o candidato seria um dos sócios é outra casa, na qual vive uma família que nunca ouviu falar de Selmo Santos ou de sua suposta instituição de ensino.


Em março deste ano, o candidato foi condenado a um ano e dois meses de prisão, em regime semi-aberto, por estelionato. Em 2004, já havia sido preso em flagrante pela Polícia Federal por tráfico de drogas e ainda responde a dois outros processos, por estelionato e falsidade ideológica.


Uma pergunta que não quer calar: por que o sr. Santos, que deveria estar na cadeia, está numa lista de candidatos ao Congresso Nacional?


A Folha de S.Paulo informa que os 31 candidatos do Democratas a deputado federal por São Paulo foram selecionados sob a supervisão do prefeito Gilberto Kassab, que é presidente do diretório estadual do partido.


Outra pergunta, que os jornalistas ainda não fizeram ao prefeito: que qualidades ele viu no sr. Selmo Santos, a ponto de aceitar seu nome na lista do partido Democratas?


Papéis invertidos


Reportagem no Estado de S.Paulo indica que as grandes redes de supermercados estão transformando suas lojas em instalações ecologicamente corretas e investem na educação ambiental dos consumidores.


Além de utilizar sistemas de economia de energia, captação e reaproveitamento de água da chuva, os supermercados aumentam a oferta de produtos orgânicos com certificação socioambiental e oferecem espaços adequados para os clientes descartarem lixo reciclável, óleo de cozinha usado, pilhas, baterias e telefones celulares antigos.


Em muitos casos, as lojas são planejadas ou adaptadas para utilizar ao máximo a luz solar, o ar condicionado gasta menos energia e os carrinhos de metal começam a ser substituidos por outros feitos com garrafas PET recicladas.


Na mesma página do Estadão e em outros jornais, como a Folha de S.Paulo, registra-se o fato de que alguns dos maiores frigoríficos do país anunciam ter deixado de comprar gado de centenas de fazendas localizadas em terras indígenas e unidades de conservação ou perto de áreas recém-desmatadas da Amazônia. Além disso, outras 1.787 propriedades estão sendo investigadas e também poderão ser excluidas da lista de fornecedores de carne bovina.


As duas notícias se juntam ao relatório preliminar sobre o desmatamento na Amazônia, que registra, ainda que com dados parciais, uma queda de 47% no ritmo de derrubada de árvores. Essas reportagens andam na contramão de outras notícias, como a recepção calorosa feita à senadora Kátia Abreu, líder dos ruralistas, pelos líderes petistas do Acre, a terra de Chico Mendes.


Saiu em primeira mão no Blog da Amazônia, assinado pelo jornalista Altino Machado, e foi reproduzido pela edição online da Folha de S.Paulo: Kátia Abreu foi recebida festivamente pelos criadores do conceito da ‘florestania’, a cidadania da floresta, elogiou a pecuária do Acre, a terra de Marina Silva, e ouviu louvores à proposta de desmanche do Código Florestal.


É um verdadeiro samba do caboclo doido.