Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Um projeto esdrúxulo

‘Sustento que nenhuma pessoa que pense e seja culta pode manter-se alheia à política’. Bukharin (1888 – 1937).

A reserva de cotas de vagas para Residência Médica (RM) para nordestinos nas Universidades, da região leste e sul do Brasil, como a que foi proposta e divulgada pelo atual Secretaria Executiva da Comissão de Residência Médica do MEC constitui uma discriminação inaceitável.

Ela quer enquadrar o médico formado por Universidade do Nordeste, a qualquer preço. Não se pode proibir esse médico de prestar concursos para residências médicas, em qualquer estado brasileiro ou no exterior.

Voltar ou não voltar para o seu estado de origem é opção, exclusivamente, pessoal e depende das condições e mercado de trabalho adequado. Obrigar que todos voltem é ato totalitário. Médicos nordestinos não precisam de privilégios, mas de eqüidade e justiça em concursos diversos, já que as discriminações subliminares e, às vezes explícitas, persistem.

Os cursos de medicina das Universidades Federais nordestinas são instrumentos de desenvolvimento loco-regional e têm prestado relevantes serviços e contribuição social.

Vagas em RM se conquista por mérito intelectual, em concursos públicos sérios e imparciais.

A seleção de médicos residentes mediante provas teóricas, não é o melhor método de avaliação, todavia é a forma mais séria e justa, pois exclui a subjetividade humana, a parcialidade, o preconceito e a xenofobia.

As provas práticas, muitas vezes não passam de meras entrevistas excludentes. ‘Aprovas o meu amigo e discípulo hoje, que eu aprovarei o seu amanhã’.

Constranger, humilhar

Esse projeto esdrúxulo de cotas de vagas é uma arapuca aberta; é a simulação do lobo que quer mimetizar o cordeiro. ‘O homem é o lobo do próprio homem’, assim afirmou Thomas Hobbes (1588 – 1679), em seu livro Leviatã.

O MEC deveria sim investir nas Universidades federais do nordeste brasileiro e mantê-las pública e gratuita.

Manter, aperfeiçoar e ampliar as residências médicas quer sejam: federal, estadual e municipal, nessa região geopolítica é imprescindível. De algum modo, as cotas vão constranger, humilhar, baixar a auto-estima e estigmatizar seus beneficiários. Tenho fé em Deus, que vamos conseguir engavetar e/ou destruir tal idéia esdrúxula e acabar com essa fábrica de ilusões.

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Médico cearense, livre-docente; professor adjunto, mestre e doutor da Faculdade de Medicina da UFRJ (pcacarneiro@globo.com)