Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Uma bandeira ao vento

Copa do Mundo. Futebol, vibração e alegria juntando gentes e gentes. Mesmo os que não são os maiores fãs do esporte devem admitir que ver uma única modalidade agrupando mais países que a ONU é no mínimo interessante, isso sem somar o fato de apenas um campeonato reunir 32 seleções. É mais ibope do que as próprias Olimpíadas.

Como não sou de ferro, me rendi á febre efêmera: torcida nos jogos, via televisão, claro, e olho nas notícias e modinhas pops. Dentre elas, as músicas. Duas canções embalam o momento: Waka Waka e Wavin´ Flag.

Waka Waka é o hit oficial da Copa 2010. Interpretado pela cantora Shakira, o som anima e tem uma coreografia agitada inspirada em danças típicas da África do Sul. ‘Você é um bom soldado, escolha as suas armas’, diz parte da letra, que faz alusão à história guerreira dos africanos. Apesar de acreditar que a música está aí mais para gerar receita do que para qualquer outra coisa, simpatizei com o lema this time for Africa – desta vez é para a África.

Waka Waka à parte, uma certa mega multinacional me surpreendeu com uma bandeira ao vento. Há tempos venho assistindo a comerciais e guardando uns acordes na cabeça. Resolvi parar e procurar a tal música que a Coca-Cola espalhou por aí em versões e versões. Confesso que me surpreendi.

Um desejo antigo e uma realidade recente

Wavin´ Flag trata de questões muito mais densas que uma Copa do Mundo e tem palavras muito mais fortes que um grito de gol em dia de final. Liberdade e luta, essa é a dupla que inspirou o compositor K´Naan. K’Naan, que significa viajante, nasceu na Somália e com um pouco mais de treze anos precisou partir para o Canadá com a família. O jovem uniu a influência da comunidade somali ao hip hop e o resultado foi um estilo que fez jus ao seu nome. A música de K´Naan viajou pelo mundo. O trabalho mais recente, a adaptação de Wavin´Flag para a Copa, trouxe de volta a atenção para a composição que já foi tema de campanhas contra a miséria.

Antes de nos embalarmos ao som de festa mundial, é necessário entender uma mensagem que, talvez pelo clima e pelo marketing acirrado de uma grande marca, não é tão explícita. A canção é grito, é protesto.

O trecho ‘tentam nos controlar, não poderiam nos segurar porque seguimos em frente como Bufallo Soldiers’ relembra os tempos dos soldados negros em tropas norte-americanas na II Guerra Mundial. Palavras de uma África que hoje abre as portas para o mundo mas não desconsidera o passado. Bob Marley também não desconsiderou e cantou sobre os soldados africanos ‘lutando pela chegada, lutando pela sobrevivência’.

Agora é aguardar pelo o que o Brasil vai cantar em 2014. Ritmo, nós temos, só é preciso aliá-lo a vozes que ecoem. A África do Sul já deu o exemplo, nos resta a atitude. Espero que, entre chutes e gols, as pessoas possam ouvir e ver o que de fato está se dizendo e repensem suas canções. Espero que se atentem a um desejo antigo e uma realidade recente de um povo que canta:

‘Quando eu ficar mais velho vou ser mais forte. Me chamarão de liberdade, comouma bandeira ao vento.’

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Estudante de Jornalismo da Universidade Norte do Paraná (Unopar), Londrina, PR