Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Uma empresa saudável e 100% brasileira

O artigo ‘Discurso nacionalista, negócios nem tanto‘, publicado neste Observatório (25/1/2006), faz uma série de acusações e críticas à Globo, que eu gostaria de contestar.

A Globo é acusada de adotar uma estratégia de defesa da produção audiovisual nacional para conseguir um empréstimo no BNDES. Ora, o jornal O Globo foi fundado em 1925. A TV Globo, em 1965. Conta com 9 mil funcionários na produção de cerca de 2.500 horas de programação de televisão aberta. Exibimos conteúdo brasileiro em 90% do horário nobre, caso ímpar no mundo. Exportamos programação brasileira para 130 países. Compramos, além disso, mais de 2.500 horas de produção para televisão por assinatura, de mais de 100 produtoras nacionais independentes. Participamos, em 1995, da produção de 10 filmes brasileiros. Se isso pode ser considerado estratégia para conseguir um empréstimo, deve ser um caso raro de planejamento com prazo de 70 anos. Cabe observar que a Globo reestruturou sua situação financeira sem pedir nenhum empréstimo ao BNDES. Fez tudo sem nenhuma ajuda do governo, e encontra-se muito bem, obrigada.

Ao contrário do que afirma o artigo, a Globo nunca vendeu nenhuma parcela do seu capital a ninguém, muito menos para grandes grupos estrangeiros. A Net Serviços, empresa de cabo, de capital aberto e controlada pela Globo, teve sempre diversos sócios, inclusive estrangeiros, como a Microsoft. Continua sob controle integral da Globo, que tem total responsabilidade sobre ela. A entrada da Telmex como sócia foi totalmente legal e aprovada pelos orgãos regulatórios.

O jornalista acusa a Globo de ter assinado um ‘contrato de gaveta’ com a Telmex para que a gestão da Net Serviços fosse de fato mexicana. É uma acusação irresponsável (e caluniosa): se isso ocorresse, seria crime, passível de punição pela CVM e Anatel. Com relação à Sky, empresa de televisão paga por satélite, a Globo nunca teve maioria do seu capital. A participação da Globo foi gradativamente reduzida porque decidimos não acompanhar os sucessivos aportes para investimentos. Preferimos concentrar nossos recursos em mídia e produção de conteúdo nacional, nosso negócio há mais de 80 anos.

Ato falho

O jornalista diz ainda que a Globo vendeu alguns de seus ativos nos últimos anos, o que é verdade. Vendeu um hotel. Vendeu uma companhia de seguros. Vendeu sua participação em empresa fabricante de equipamentos de telecomunicações. Vendeu uma empresa de pager. Vendeu uma loja virtual. E manteve seus aportes em mídia e produção de conteúdo. O que quer dizer isso? Apenas que a empresa está mais saudável do que antes, ao dar ênfase às atividades em que é mais competente.

O jornalista pergunta por que a Net Brasil transmite canais estrangeiros. Resposta: não transmite. A Net Brasil, que pertence 100% à Globo, apenas vende programação, não transmite nada. Quem transmite e vende conteúdo ao consumidor são as empresas de televisão por assinatura. Todas elas, sem exceção, transmitem canais estrangeiros. Por quê? Porque o público quer, e porque não são xenófobas. Produzir e transmitir conteúdo brasileiro não que dizer rejeitar produção estrangeira.

Por último, o jornalista questiona ‘por que tantas empresas estratégicas para as telecomunicações brasileiras foram vendidas ao capital estrangeiro’? Se o autor se refere à diminuição da participação da Globo no capital das empresas de cabo e satélite, a resposta já foi dada. Se a questão é quanto ao processo de privatização das empresas de telecomunicações, quando se permitiu que o controle das empresas de telefonia pudesse ficar nas mãos de estrangeiros, a pergunta cabe a quem formulou a política: o governo e os parlamentares.

Repetindo: a Globo continua sendo uma empresa 100% brasileira, e se concentra em produzir e programar conteúdo brasileiro, com evidente sucesso. Num ato falho, o jornalista diz que ‘essas e muitas outras respostas pairam no ar’. E aí ele tem toda razão. As respostas estão aí. Já as perguntas…

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Diretor de Gestão Corporativa das Organizações Globo