Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Uma pesquisa fajuta

Dizer que a pesquisa CNI/Ibope é falsa ou mentirosa, não seria correto. O que ela é, com certeza, é incorreta. Afinal, a pergunta foi: ‘Como você avalia a atuação do governo Lula’ ou ‘O senhor aprova ou desaprova a maneira como o presidente Lula está governando o Brasil’?

Foram entrevistadas 2002 pessoas em 141 cidades ‘por todo o Brasil’. Se, foram feitas as duas perguntas, a pesquisa está confusa, ou foi feito de propósito pra confundir a quem respondeu. Avaliar a atuação do governo Lula é uma coisa, aprovar ou desaprovar a maneira como o governo está sendo conduzido é outra, bem diferente.

Se me fosse perguntado como eu avalio a atuação do governo Lula, responderia que ele tem agido basicamente com correção, procurando dinamizar os problemas e a economia nacional, mas que tem beneficiado somente a certas classes sociais, em detrimento dos mais pobres, que têm se conformado em receber os famigerados ‘cartões fome’.

Agora, se me fosse perguntado se eu aprovo ou desaprovo a maneira como o Lula tem administrado o país, diria que ele é um sem-noção, não tem conhecimento das coisas que acontecem dentro do próprio banheiro privado dele, no Palácio do Planalto, se acerca de gente inescrupulosa e desonesta que tem dilapidado os cofres públicos, envolvida em escândalos a todo o momento, ele se preocupa com problemas econômicos para agradar aos poderosos industriais internacionais, em detrimento dos problemas do povo, dos trabalhadores, dos aposentados, dos desvalidos, que foram suas bases nas campanhas eleitorais. Ele pode até atuar bem no governo, mas a maioria das coisas que deveriam ser feitas para o povo brasileiro não o são, o que nos leva a desaprovar a sua administração.

Os não-entrevistados

Vejamos outra questão. Foram entrevistadas 2002 pessoas em todo o país (em 141 municípios). Ora, isso é um escracho com a opinião pública. Tenho uma família de três pessoas e, dentro dela, a opinião de uma delas não representa a opinião da família – imaginem um país com 170 milhões de pessoas. 2002 não representam nada, absolutamente nada, ainda mais com uma pesquisa totalmente dirigida. Está claro, que 2002 pessoas não podem minimamente expressar a opinião do povo brasileiro. Essas pesquisas são dirigidas e tendenciosas, apenas pra provocar a oposição (?) e para o Lula poder jactar-se de sua popularidade, sem contar que, com isso, pode-se manipular a opinião de paupérrimos e pessoas desinformadas.

Foram ‘visitados’ 141 dos 5.561 municípios brasileiros, o que representa um percentual de 0,039%, das cidades; 2002 pessoas, representam 0,084% da população do nosso país. É uma pesquisa absurda que não representa nada, absolutamente nada. O que ela diz é que, em certos municípios, 0,084% da população gosta do Lula. Tenho certeza que essa pesquisa foi ‘dirigida’.

Podemos ter a certeza de que nas filas dos postos de atendimento do INSS ninguém foi entrevistado, nem nas filas dos hospitais públicos em qualquer cidade do país, nem foi perguntado a nenhum morador de rua, muito menos nos asilos. Esta pesquisa mentirosa não entrevistou ninguém nas barrancas dos rios amazônicos, onde o ribeirinho nem sabe o nome do presidente da República e não tem como sair da mata por ramais mal-cuidados, tendo que viajar dias e dias pelos rios, com seus doentes envolvidos em redes em canoas improvisadas. Não foram entrevistados os nordestinos vítimas da seca no nordeste brasileiro, que vivem porque não morrem, pessoas sofridas e desvalidas, abandonadas pela sorte e pelo governo, que passam fome e sede. Duvido que alguém tenha subido os morros do Rio de Janeiro e perguntando às vítimas de balas perdidas se elas gostam do Lula.

Terceiro mandato

Os recenseadores, com toda certeza, não foram para frente dos presídios, superlotados, entrevistar os parentes dos apenados, não perguntaram a nenhum catador de papel ou aquelas pessoas que vivem nas feiras livres, procurando comida no lixo, para sustentar suas famílias, muito menos entrevistaram alguém nas centenas de quilômetros de congestionamento das avenidas de São Paulo ou no empurra-empurra das estações de ônibus, metrôs e trens.

Esses ‘pesquisadores’ não vieram certamente aos bairros periféricos de Rio Branco, no Acre, onde pessoas moram em milhares de ‘casas’ improvisadas, sem nenhum saneamento básico, sem posto de saúde, sem luz elétrica, tendo que caminhar muito para pegar uma condução, suja e em péssimas condições de conservação, não foram aos seringais, nem às matas onde ‘se ficar o bicho pega, se correr o bicho come’. Garanto que nenhuma das mais de cinqüenta vítimas de morte por dengue no Rio de Janeiro foi entrevistada, nem seus parentes, nem os milhares que estão nas filas esperando por atendimento. É muito improvável que algum integrante do MST e outros órgãos do tipo tenham sido entrevistados. Eu não fui, você não foi, na realidade, acho que ninguém foi. Esta pesquisa é uma pesquisa de gabinete.

Se foram entrevistadas apenas 2002 pessoas, o que custa colocar na internet a lista com o nome das pessoas, com CPF e RG, endereço e telefone, para que possa ser comprovado por qualquer um desconfiado igual a mim? Não há pesquisa alguma, o que há é muita conversa fiada. Quando o governo está muito envolvido em coisas estranhas, vem logo uma pesquisa destas para servir como pano de fundo e cortina de fumaça. É revoltante a gente ter que aturar este tipo de coisa. Gente morrendo de dengue, de frio, de fome, de gripe, o povo brasileiro morando mal, sem trabalho, sem perspectiva de vida, sem esperança, nossos jovens saem das faculdades e não há onde trabalhar, políticos e funcionários públicos fazendo farra com ‘cartões corporativos’, gente se locupletando fartamente à custa do dinheiro público e o presidente se preocupando com sua popularidade.

Podem acreditar, isso é manobra para sugerir, dentro de algum tempo, uma emenda constitucional que permita um terceiro mandato.

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Autônomo e escritor amador; Rio Branco, AC