Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Veja

MAINARDI vs. LULA
Morremos todos

Diogo Mainardi

‘Quando é que derrubaremos Lula?

A posse do ministro da Defesa, na última quarta-feira, foi o espetáculo mais indecoroso da história política brasileira. Lula ria. Nelson Jobim ria. Tarso Genro ria. Guido Mantega ria. Celso Amorim ria. Juniti Saito ria. Marco Aurélio Garcia ria. Por algum motivo, até mesmo o demitido Waldir Pires ria. Lula provavelmente se regozijava por ter se safado, segundo seus cálculos, de mais uma fria. No caso, os 200 mortos da tragédia da TAM. Ele repetiu despudoradamente, com sua risada, o gesto de escárnio feito por Marco Aurélio Garcia em seu gabinete, no Palácio do Planalto. Que espécie de gente tripudia sobre 200 mortos? Como alguém pode atingir esse grau de pusilanimidade? Se um dos militares presentes naquela sala batesse vigorosamente as botas, Lula e seus ministros com certeza sairiam em disparada, aos gritos, acotovelando-se e pisoteando-se no carpete verde. Eles só sabem cuidar da própria pele e do próprio bolso. Dane-se todo o resto.

Ninguém derrubará Lula. O que vai acontecer conosco é muito pior: um progressivo desmoronamento da sociedade. É sempre complicado tentar apontar o momento em que um país se perde irremediavelmente. Mas, se eu fosse apostar, apostaria todas as fichas que ele ocorreu na posse de Nelson Jobim, na quarta-feira passada. Entre uma tirada de bar e outra, Lula profanou os 200 corpos dando a entender que o desastre poderia servir pelo menos para diminuir as filas da ponte aérea. Uma sociedade resiste a um governo corrupto. Ela resiste também a um presidente incapaz. O que elimina qualquer possibilidade de convívio é o triunfo dessa boçalidade predatória que caracteriza Lula e sua gente. Eles cercaram a cidadela e ficaram esperando que nossas reservas de civilidade acabassem. Elas acabaram. Estamos desarmados e rendidos.

O Brasil é um buraco. Nunca fizemos algo que prestasse. Mas até outro dia ainda tínhamos uma vaga idéia de como nos comportar. E era essa vaga idéia que mantinha o país andando. Andando de lado, mas andando. Uma das regras de comportamento que a gente seguia era manter certa dose de compostura diante da dor pela morte de alguém. Lula violou essa regra. Depois de violá-la, tripudiou mais uma vez, ensinando aos familiares dos mortos do desastre da TAM que ‘é preciso que a gente tenha momentos de descontração para tornar a vida menos sofrível’. Um dia Lula morrerá. Mas nós já teremos morrido antes dele.’

TELEVISÃO
Marcelo Marthe

Mais velozes e mais agitadas

‘Há um mês, a Rede Globo realizou uma pesquisa com donas-de-casa para avaliar por que a novela Paraíso Tropical deu a volta por cima no ibope depois de um início trôpego. Frases como ‘Todos os dias acontece algum fato novo’ ou ‘É uma novela que não tem enrolação’ foram as mais repetidas. A aceleração da narrativa – um dos ajustes determinados pouco depois da estréia pelo diretor artístico da Globo, Mário Lúcio Vaz – mostrou-se crucial para tirar Paraíso Tropical do limbo. Para além da correção de rota, contudo, o caso expõe uma transformação mais profunda. Ao longo das décadas, as tramas das novelas foram se tornando mais velozes e movimentadas. E nunca se levou isso tão longe como agora. Tome-se a farsa montada pela vilã Taís (Alessandra Negrini) para assumir a identidade de sua irmã gêmea. O imbróglio chegará ao fim nesta semana, quando o mocinho Daniel (Fábio Assunção) desvendará o paradeiro de sua insossa amada, Paula. No passado, uma situação como essa poderia dar mote a um melodrama inteiro. Em Paraíso Tropical, não vai durar mais que três semanas. ‘As novelas mudaram’, diz o autor Gilberto Braga. Ele cita um sucesso dos anos 60, O Direito de Nascer, como contraprova: ‘Hoje, o público não suportaria ver o avô do protagonista Albertinho Limonta deitado numa cama por meses, sem dizer que o rapaz era seu neto’.

O ritmo de uma novela tem tudo a ver com o estilo de seu criador, é claro. Pode-se esperar velocidade das tramas de Silvio de Abreu e Gilberto Braga, pois ambos gostam de lidar com a ação e o suspense. O mesmo não se aplica às histórias rurais de Benedito Ruy Barbosa, por exemplo. Mas não é da quantidade de adrenalina que se está falando. O ponto é que as tramas das novelas, de modo geral, se tornaram mais ágeis. Todos os 174 capítulos de Dancin’ Days, que Braga escreveu em 1978 e exibia um andamento acelerado para a época, não renderiam mais que oitenta de Paraíso Tropical. A pedido de VEJA, Mauro Alencar, doutor em telenovelas pela Universidade de São Paulo, fez uma análise estatística de quatro produções da Globo de épocas diferentes. Um dos indicadores consistiu no tempo que uma nova situação leva para ser resolvida dentro da história. Em Selva de Pedra, escrita por Janete Clair nos anos 70, isso podia demorar oitenta capítulos – ou até a novela inteira. Em Paraíso Tropical, a maioria das armações dos vilões Olavo e Taís se resolve em três capítulos.

Se o tempo de resolução dos conflitos diminuiu, a quantidade deles numa mesma trama cresceu. Antigamente, as novelas giravam quase que exclusivamente em torno de seu enredo central. Aos poucos, os núcleos secundários foram se tornando mais numerosos. Demorou, no entanto, para ganharem o realce que têm hoje. Numa novela dos anos 90 como Fera Ferida, cinco subtramas distintas eram mostradas a cada capítulo – média pouco superior à de Selva de Pedra, de vinte anos antes. Manoel Carlos representou uma espécie de intermediário entre esse modelo antigo e as novelas atuais. Em Laços de Família (2000), dramas como o da prostituta Capitu obtiveram tanto destaque quanto a trama principal. O noveleiro se valia de um truque para não atordoar o espectador: jogava os holofotes sobre determinada situação por cerca de dez capítulos, enquanto outras histórias aguardavam sua vez de vir à tona. Paraíso Tropical radicaliza esse procedimento. O co-autor Ricardo Linhares revela que se adotou um método: há sempre três situações em destaque e outras duas sendo aquecidas em banho-maria para se revezar com elas.

Vários fatores explicam por que os folhetins se aceleraram. Um deles é de ordem técnica. Com os equipamentos de hoje, ficou mais fácil gravar e editar muitas cenas. Nos anos 60, uma produção da Globo não tinha mais que quinze atores. Agora, chega-se a empregar mais de 100. O número de cenas por capítulo quadruplicou, assim como o de cenários (para não falar na possibilidade de tomadas externas, que antes eram raridade). É fato também que o ritmo de vida das pessoas mudou – e sua relação com o vídeo foi na mesma direção. Elas têm menos tempo para ficar diante da TV e se exasperam com a sensação de que estão perdendo minutos preciosos com um programa em que nada acontece. As novelas precisam ainda atender ao gosto dos jovens, acostumados à velocidade dos videogames e da internet. ‘As pessoas vivem correndo’, diz Silvio de Abreu. ‘Quando se sentam na frente da televisão, exigem essa mesma velocidade da história que estão acompanhando.’’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Veja

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