Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Veja

TELEVISÃO
Marcelo Marthe

Uma orgia de bobagens

‘No ar nos fins de noite das sextas-feiras, Amor & Sexo propõe-se uma tarefa difícil: falar sobre questões de alcova para o público família que assiste a uma rede aberta como a Globo. ‘Nossa intenção é transmitir informações úteis sem causar constrangimento dentro dos lares’, diz o diretor Ricardo Waddington. E o programa de auditório conduzido por Fernanda Lima não se sai mal nisso. Tópicos apimentados são colocados em pauta de maneira leve. Por exemplo: um simpático casal de idosos entrevista pessoas nas ruas sobre questões como orgasmo feminino e dimensões do órgão sexual masculino. Com essa fórmula, Amor & Sexo tem se mostrado palatável tanto para os adolescentes quanto para seus pais e avós (os dois primeiros programas marcaram 18 pontos no ibope, média satisfatória para a faixa em que é transmitido). Oferecer esse tipo de serviço pode ter sua função, vá lá, social. Mas isso não elimina outra verdade: falar sobre sexo na TV pode ser uma experiência um tanto masturbatória. Há o risco de cair numa abordagem clínica – como ocorre no talk-show Falando de Sexo com Sue Johanson, do GNT, em que a vovó canadense do título desce a minúcias da anatomia para ensinar as vantagens de certa posição sexual. Ou, então, de enveredar pelo puro lugar-comum – e, nesse quesito, Amor & Sexo já deu fartas demonstrações de seu potencial em apenas três semanas de exibição.

Seu principal quadro, o Strip Quiz, é um exemplo. Artistas do elenco da Globo ficam diante de manequins que vão tendo suas roupas arrancadas se o público não acreditar na sinceridade de suas respostas às perguntas lançadas por Fernanda Lima. Ao explicar por que haveria uma suposta aversão feminina a ver filmes pornôs, Claudia Raia teorizou: ‘Na hora do sexo, os homens abrem bem os olhos. As mulheres fecham’. Em outro programa, sua colega Giovanna Antonelli deu sua contribuição ao bestiário, no melhor estilo Augusto Cury: ‘O mais importante é cada um descobrir a felicidade dentro do seu prazer’. A própria apresentadora não deixa por menos. ‘A gente não pode ficar só acusando os homens de não conseguirem fazer a mulher chegar ao orgasmo. Afinal, sapo que não pula não come’, já pontificou Fernanda. Nem a psiquiatra Carmita Abdo, que está ali como especialista que fornece esclarecimentos médicos, resiste a dar seus pitacos. Diante de uma questão clássica (‘tamanho é documento?’), ela ensinou: ‘É preferível um pequenininho brincalhão a um grandão bobalhão’. O afrodi-síaco de Amor & Sexo é o humor involuntário.’

 

INTERNET
Carlos Rydlewski e Leo Branco

A banda larga e seus gargalos no Brasil

‘Desde 2005, a maior parte dos usuários de internet no Brasil já acessa a rede por meio da banda larga. A passagem das conexões discadas para as conexões rápidas representou um grande salto. Ficou para trás um mundo em que a simples mudança de página na web não era apenas um teste de paciência, mas uma aventura – não raro, as ligações caíam. Tornaram-se possíveis ações hoje corriqueiras, como assistir a vídeos ou trocar fotos por e-mail. A experiência cotidiana do brasileiro com a banda larga, no entanto, ainda pode ser frustrante. Um vídeo de três minutos do YouTube costuma levar duas ou três vezes esse tempo para ser visto. E usufruir recursos avançados da internet, como o download de filmes em alta resolução ou a participação em videoconferências, é praticamente impensável. Um estudo recente, encomendado pela empresa de tecnologia Cisco, corrobora essa impressão. O levantamento aferiu a eficácia da banda larga em 42 países. O Brasil ficou em 38º posto, à frente apenas de Chipre, México, China e Índia. ‘Na média, as conexões brasileiras com a web estão num patamar pré-YouTube. Têm cinco anos de defasagem em relação às dos países desenvolvidos’, disse a VEJA o indiano Prashanth Angani, um dos responsáveis pela pesquisa.

Em todo o mundo, técnicos divergem sobre a definição de banda larga. No Brasil, encaixam-se nessa categoria as ligações com velocidade de transferência de dados a partir de 128 kilobits por segundo (Kbps). Na Europa, o mínimo exigido é 256 Kbps. Já a International Telecommunication Union (ITU), a agência das Nações Unidas para as telecomunicações e a radiodifusão, estipula taxas de pelo menos 2 Mbps. Por esse critério, nove em cada dez conexões brasileiras não podem ser consideradas como sendo de banda larga. No entanto, mesmo aqueles que dispõem de serviços que, na teoria, poderiam ser catalogados como rápidos em qualquer lugar do mundo enfrentam dificuldades no país. O diretor de arte Eduardo Ferreira, de 32 anos, é proprietário da NuYoung Creative, uma empresa especializada na criação de sites para grandes com-panhias com vídeos em três dimensões. Ele tem uma conexão de 8 Mbps. Por causa de instabilidades fre-quentes, mantém uma ligação sobressalente de 4 Mbps. ‘Mas, às vezes, nada disso funciona. Como uso arquivos digitais pesados, sou obrigado a gravar tudo em DVDs e mandar meu trabalho para os clientes não pela internet, mas por motoboys’, diz Ferreira.

O meio mais eficaz de transferência de dados pela internet – e aqui só se está falando da internet ‘com fio’ – são as fibras ópticas. Esses dutos são formados por filamentos de vidro puro. Eles enviam sinais de luz a longa distância, sem perda significativa de intensidade. No Japão, o país mais bem colocado na pesquisa da Cisco, essa tecnologia espalha-se por 42% da rede. É a cobertura mais ampla em todo o planeta. As conexões japonesas são, desde já, consideradas adequadas para o uso da internet em 2012, quando serão comuns a realização de videoconferências com imagens em alta resolução, o manuseio de sistemas completos de automação em residências e redes sociais repletas de filmes e fotos. No Brasil, a fibra óptica não representa nem sequer 1% da rede. Aqui, quem carrega as informações da internet são ainda, em 70% dos casos, os fios de cobre dos sistemas de telefonia fixa. Essa tecnologia é conhecida pela sigla ADSL (linha de assinatura digital assimétrica). Os cabos coaxiais, usados pelas empresas de TV por assinatura, cobrem outros 26% da infraestrutura, e o restante é composto de satélites e rádios. Entre outubro e dezembro do ano passado, o livreiro Edgar Escobar Júnior, de 39 anos, experimentou as maravilhas da internet com fibra óptica. Ele instalou uma conexão de 30 Mbps no sebo que mantinha em São Paulo. ‘O acesso ultrarrápido chamava a atenção dos clientes de alto poder aquisitivo, que sempre faziam boas compras. Com essa banda, eu também encetava negócios com pessoas de todo o mundo, por meio de videoconferências’, conta ele. Em dezembro, o comerciante mudou-se. Como a rede de fibra óptica só está disponível em áreas restritas da capital paulista, ele teve de se conformar com uma conexão de 2 Mbps (que não é ruim para os padrões nacionais). Começaram os problemas: ‘Atualmente, tenho dificuldade de mostrar meu acervo de livros pela web. Gasto quinze vezes mais tempo nessa tarefa. Quero meus 30 Mbps de volta’, diz o livreiro.

A eficiência da internet pelo sistema ADSL é condicionada, sobretudo, pela distância entre a casa do usuário e a central de transmissão de dados da operadora de banda larga. Se esse trajeto superar a marca de 5 quilômetros, a conexão com a rede dificilmente terá boa qualidade, independentemente da velocidade de banda contratada. Nesse sistema, a transferência de informações perde força ao longo do trajeto. Os entraves do sistema a cabo são diferentes.. Nesse caso, o que pesa é o número de pessoas que compartilham da mesma ‘infovia’. Quanto maior o total de usuá-rios pendurados num cabo, pior será a experiência de cada um deles na internet. Além disso, os cabos coaxiais foram idealizados para conduzir as informações num único sentido. Por isso, são bons para baixar arquivos (down-load), mas nem tanto para carregá-los (up-load). No entanto, a circulação de dados em mão dupla é cada vez mais usual – e necessária – na internet.

Em todo o mundo, ampliar continuamente a infraestrutura de rede para acompanhar as mudanças no uso da web é um desafio da indústria das comunicações. Hoje, o que se vê é a circulação cada vez mais intensa de fotos e filmes com alta qualidade de imagem. Em 2006, os vídeos representavam 12% do total de tráfego na internet. Em 2012, atingirão 90%. ‘Nos últimos cinco anos, o número de clientes dos nossos serviços cresceu oito vezes. Parece muito, mas a quantidade de banda que eles consomem aumentou muito mais: setenta vezes’, diz Fabio Bruggioni, diretor de clientes residenciais da Telefônica. Essa explosão de demanda contribuiu para sucessivas panes do Speedy, a banda larga oferecida pela empresa no Brasil. A companhia chegou a ser proibida pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) de comercializar o serviço entre junho e agosto deste ano. Para retomar a oferta, comprometeu-se a aprimorar seus equipamentos (como servidores, que traduzem os endereços dos sites em códigos da internet) e melhorar o atendimento aos clientes.

A importância de investir na infraestrutura da internet não pode ser subestimada. Crescentemente, a capacidade de oferecer ligações velozes com a rede se transforma num fator-chave para a produtividade de um país. Na economia de uma nação, esse item de infraestrutura tende a ganhar a mesma relevância dos portos e aeroportos. ‘Desenvolver a banda larga é o desafio do presente. É algo tão importante quanto foram a expansão da rede elétrica e a construção de estradas em épocas anteriores’, disse Julius Genachowski, presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, em um discurso no mês passado. Advogado, Gena-chows-ki foi um dos articulistas da bem-sucedida estratégia eleitoral de Barack Obama pela web. Um estudo do Banco Mundial divulgado em novembro de 2008 indica que, para cada 10 pontos porcentuais de aumento no uso de internet rápida, há um crescimento de 1,38% do produto interno bruto (PIB) per capita de um país. Ninguém ainda mediu o impacto da difusão da banda larga sobre o FIB de uma nação – a sigla significa felicidade interna bruta, conceito que às vezes é usado por psicólogos e economistas em discussões sobre o bem-estar de uma população. Mas deve ser considerável.’

 

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