Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Veja

ELEIÇÕES 2006
Diogo Mainardi

Notícias da Itália

“O caso estourou duas semanas atrás. Os promotores públicos milaneses descobriram que a Telecom Italia tinha um esquema de pagamentos ilegais a autoridades brasileiras. O esquema era simples. A Telecom Italia do Brasil remetia dinheiro a empresas de fachada sediadas nos Estados Unidos e na Inglaterra. A dos Estados Unidos era a Global Security Services. A da Inglaterra era a Business Security Agency. O dinheiro depositado nas contas dessas duas empresas era imediatamente repassado a intermediários brasileiros, que o distribuíam a terceiros.

A Business Security Agency era administrada por Marco Bernardini, consultor da Pirelli e da Telecom Italia. Ele entregou todos os seus documentos bancários à magistratura italiana. Há uma série de pagamentos em favor do advogado Marcelo Ellias: 50.000 dólares em 13 de julho de 2005, 200.000 em 5 de janeiro de 2006, 50.000 em 2 de fevereiro de 2006. De acordo com Angelo Jannone, outro funcionário da Telecom Italia, Marcelo Ellias era o canal usado pela empresa para pagar Luiz Roberto Demarco, aliado da Telecom Italia na batalha contra Daniel Dantas, e parceiro dos petistas que controlavam os fundos de pensão estatais.

Entre 11 de julho de 2005 e 6 de janeiro de 2006, Marco Bernardini deu dinheiro também à J.R. Assessoria e Análise. Em seu depoimento aos promotores públicos, Marco Bernardini disse que esses pagamentos eram redirecionados à cúpula da Polícia Federal. Paulo Lacerda e Zulmar Pimentel, números 1 e 2 da Polícia Federal, devem estar muito atarefados no momento, investigando a origem do dinheiro usado para comprar os Vedoin. Mas quando sobrar um tempinho na agenda eles podem procurar seus colegas italianos.

Outro nome que está sendo investigado pela Justiça milanesa é Alexandre Paes dos Santos. Conhecido como APS, ele é um dos maiores lobistas de Brasília. Foi contratado pela Telecom Italia para prestar assessoria política. Segundo uma fonte citada pela revista Panorama, APS tinha de ser pago clandestinamente porque é cunhado de Eunício Oliveira. Na época dos pagamentos, Eunício Oliveira era o ministro das Comunicações de Lula, responsável direto pela área de interesse da Telecom Italia. Eunício Oliveira acaba de ser eleito deputado federal com mais de 200.000 votos. Lula já espalhou que, em caso de segundo mandato, ele é um forte candidato para presidir a Câmara. É bom saber o que nos espera.

A revista Panorama reconstruiu também um caso denunciado por VEJA: aqueles 3,2 milhões de reais em dinheiro vivo retirados da Telecom Italia em nome de Naji Nahas. Um dos encarregados pelo pagamento conta agora que o dinheiro foi entregue a deputados da base do governo, do PL, membros da Comissão de Ciência e Tecnologia.

Lula se orgulha de seu prestígio internacional. Orgulha-se a ponto de roubar aplausos dirigidos ao secretário-geral da ONU. O caso da Telecom Italia permite dizer que o lulismo realmente ganhou o mundo. Em sua forma mais autêntica: o dinheiro sujo.”



MÍDIA & TECNOLOGIA
Ethevaldo Siqueira

Esta é grande, mesmo

“O futuro está chegando depressa para os televisores. Eventos reunindo produtos eletrônicos, realizados em setembro em Berlim e em Amsterdã, demonstraram que a tecnologia já transformou em realidade avanços que pareciam coisas de ficção. É o caso de gigantescos telões, com qualidade de imagem beirando a perfeição, desenvolvidos pelo instituto alemão Fraunhofer. A versão apresentada nas feiras européias tinha uma tela côncava, com quase 5 metros na diagonal, sobre a qual cinco projetores despejavam jatos de luz que formavam a imagem de alta resolução. A sensação visual do espectador era parecida com a de quem assiste, por exemplo, a um jogo de futebol no estádio. A entidade alemã já realizou exibições em áreas mais amplas, com até 15 metros, utilizando um maior número de projetores. Em menor escala, esse conceito de ‘tela de imersão’ será aplicado futuramente ao home theater – ou a ‘cinemas digitais domésticos’, na expressão mais apropriada de seus criadores. A aplicação desses recursos claramente vai ultrapassar o campo do entretenimento, alcançando também as escolas, os centros de treinamento, os shows de multimídia e a publicidade.

Dá para pegar: versão de tela de computador com imagem em 3D. A tecnologia está madura

É admirável o estágio de desenvolvimento das telas que produzem imagens em três dimensões, ou 3D. Na exposição de Berlim, a IFA 2006, o público parecia magnetizado diante das imagens que, em um pavilhão de quase 1.000 metros quadrados montado pela Philips, saltavam para fora de TVs como holografias de altíssima resolução. A nova tecnologia de 3D em televisão é mais impressionante do que a já utilizada nos cinemas. Mesmo em sua fase experimental, as imagens podem ser vistas em todas as suas dimensões sem o uso de óculos especiais. Como isso funciona? Os efeitos tridimensionais são produzidos numa placa de vidro instalada na frente do monitor de cristal líquido (LCD). Pequenas lentes convexas são colocadas a cada dois pixels – os pontos que formam a imagem na tela. Essas lentes desviam a informação luminosa que chega aos pixels, fazendo com que elas passem de um olho para outro do espectador, criando a sensação de três dimensões. Na televisão e no cinema, a idéia de movimento é assegurada pela retenção das imagens de cada quadro em nossa retina por um décimo de segundo. A ilusão visual de 3D exige a superposição de duas imagens, uma para cada olho. É um truque que a tecnologia usa para enganar o cérebro. Nada de assustador. A conversão de luz em impulsos eletroquímicos, que ocorre nos processos naturais da visão humana, não deixa de ser um truque.

Leite derramado: a Philips já produz TV que cria efeito tridimensional

No equipamento experimental da Philips, as três dimensões são criadas com a ajuda de um chip, o IC3D. Pensando nos mercados corporativo e publicitário, a empresa já havia lançado um aparelho desse tipo com 42 polegadas, mas que só pode ser comprado pelo canal de distribuição da Philips 3D Solutions. O preço é de 20.000 dólares – pouco mais de 40.000 reais. Viabilizar comercialmente a TV tridimensional vai exigir, é claro, que exista conteúdo produzido originalmente para a exibição em 3D. Isso demora. É um ciclo conhecido dos fabricantes de novos padrões. Primeiro vem a tecnologia e, depois, no prazo de três ou cinco anos, a demanda e o lançamento de novos conteúdos estimulam-se mutuamente até que surja um mercado estável para a novidade.

Mais do que entretenimento, a grande tendência da eletrônica de consumo atualmente é atender às demandas das pessoas por novas experiências visuais e sonoras. Essa é a visão dominante dos líderes setoriais, a começar de Rudy Provoost, presidente da área de eletrônica de consumo da Philips holandesa. Disse Provoost a VEJA: ‘Estamos ingressando numa etapa que pode ser definida como a era da nova convergência. O que conta agora são as experiências que se podem proporcionar ao usuário, seja pela TV, seja pelo home theater, por técnicas de iluminação, áudio, vídeo, jogos interativos ou serviços de informação’. Essa nova convergência colocou a indústria eletrônica na corrida para obter o máximo de integração entre todos os tipos de conteúdos e equipamentos. Desse empenho estão nascendo as formas de lazer que em breve estarão tornando a vida das pessoas mais agradável.”



TELEVISÃO
Marcelo Marthe

Sadismo na cozinha

“Logo na abertura do programa Hell’s Kitchen (Cozinha Infernal), em exibição no canal pago GNT desde a semana passada, o chef escocês Gordon Ramsay deixa explícito seu mau gênio. Enquanto os doze aspirantes a cozinheiros que participam da gincana culinária engoliam em seco, Ramsay ia provando os pratos feitos por cada um deles. Depois de dar um bocado num macarrão, ele o cuspiu no chão e decretou: ‘Que porcaria insossa’. Também se enfureceu com uma salada – e a atirou no responsável por sua criação. Hell’s Kitchen leva para a cozinha o mesmo apelo sádico de reality shows como Survivor e O Aprendiz: a diversão está em ver os participantes sofrer. O programa é um fenômeno de audiência na Inglaterra e nos Estados Unidos, onde chega a ficar entre os dez mais vistos da TV, com quase 10 milhões de espectadores. Acrescenta ainda um novo personagem à categoria dos chefs-apresentadores: Ramsay, o cozinheiro mais famoso da Inglaterra. Dono de uma rede de restaurantes badalados (veja quadro), ele cultiva cuidadosamente a imagem de sujeito irascível – traço nada incomum na atividade, frise-se. ‘Não diria que sou agressivo. Só não admito menos do que a perfeição’, disse ele a VEJA.

Presente na TV desde os anos 50, a culinária é um filão que cresceu e se diversificou com o advento dos canais pagos. Nos Estados Unidos, a Food Network transmite só esse tipo de conteúdo e atinge 65 milhões de espectadores. No Brasil, o GNT e o Discovery Travel & Living dedicam boa parte da programação ao tema. Mas já vão longe os dias em que bastavam um fogão e uma cozinheira com jeitão maternal para montar um programa de sucesso. Hoje, mais do que ensinar receitas, a gastronomia envereda pela seara do comportamento. Algumas atrações ensinam como preparar uma refeição para os amigos. Outras unem o turismo cultural à culinária. É o caso do Sem Reservas, exibido pelo Travel & Living e comandado por Anthony Bourdain – o chef ‘bad boy’ que expôs a vida de sexo, drogas e rock’n’roll dos restaurantes de Nova York no livro Cozinha Confidencial. O americano Bourdain, entretanto, é um estranho no ninho. O maior celeiro de apresentadores do ramo é, por ironia, a Inglaterra, país com uma das piores culinárias (e o termo ‘culinária’, aqui, é uma licença) do mundo. Ramsay divide o topo nesse ramo com os ingleses Jamie Oliver e Nigella Lawson (ambos com programas exibidos no Brasil também pelo GNT).

Oliver ouve música tecno, circula em Londres de lambreta e é amigo de roqueiros conhecidos. O ar moderninho não esconde que ele é um baita mala-sem-alça. Oliver gosta de convidar outros chefs para sua cozinha – mas não para pilotar as panelas, e sim para elogiar as criações do anfitrião. Ah, ele também adora convidar atletas saradões para comer em sua casa. Enquanto fala como uma matraca hiperativa, prepara gororobas e as apresenta como se fossem iguarias. Já fez até uma ‘sobremesa’ que consistia de fatias de panetone mergulhadas em creme de leite e cobertas de açúcar de confeiteiro. É um sujeitinho insuportável. Numa série que mostra sua cruzada politicamente correta pela mudança da merenda escolar inglesa, o discurso engajado é entremeado com cenas que revelam como Oliver, o mártir da boa alimentação, sacrificou sua vida familiar pela causa. Alguém precisava flambar o ego do menino. Os programas de Nigella, por sua vez, até que são engraçados – mas pelo seu espírito trash. A moça ostenta um diploma de letras em Oxford e é filha de um ex-ministro inglês. Diante do fogão, porém, desce do salto. Nigella estapeia os ingredientes, faz pratos ultracalóricos e exibe, a título de propaganda, a silhueta com algumas polegadas a mais de recheio. Também não é um exemplo de higiene. ‘Nojentella’ enfia os dedos na comida e congela os restos de vinho deixados por seus convivas para usá-los depois. Atenção: não o vinho que sobrou no fundo da garrafa, mas o que ficou nos copos, cercado de marcas de batom.

Não há dúvida de que o infernal Gordon Ramsay, formado em culinária francesa e discípulo de Joël Robuchon, tem mais bagagem gastronômica que essa dupla. Sua bandeira também é louvável: estimular a retomada do hábito das refeições em família (dada sua rabugice, é de imaginar o que sua mulher e os quatro filhos passam nessas horas). Ramsay é, acima de tudo, um empreendedor de calibre. Seus restaurantes faturaram 124 milhões de dólares no ano passado, e recentemente ele assinou um contrato de 16 milhões de dólares por três anos com o Channel 4 inglês. Se conseguir pôr na linha os aspirantes a Jamie Oliver e Nigella Lawson que passam por sua hell’s kitchen, porém, o dinheiro será mais do que merecido.

O ‘MALA’

Com visual moderninho e papo politicamente correto, o chef e apresentador Jamie Oliver é um chatonildo. Num ataque de estrelismo, negou-se a ir à mesa de Bill Clinton, em seu restaurante, só porque o ex-presidente, de dieta, pediu uma alteração em seus pratos

O ‘BAD BOY’

Um dos pioneiros na transmutação de chefs em pop stars, o americano Anthony Bourdain roda o mundo em busca de iguarias exóticas no programa Sem Reservas. Recentemente passou por um sufoco: gravava em Beirute quando a cidade foi alvo de bombardeios israelenses

A ‘NOJENTELLA’

Nigella Lawson tem forte (e má) influência sobre os hábitos alimentares dos ingleses. A chef de medidas generosas adora frituras e é, por assim dizer, relaxada. Já lambeu os dedos depois de passá-los numa taça com resto de doce que estava na pia para lavar

O DESTEMPERADO

À frente do programa Hell’s Kitchen, uma gincana de aspirantes a cozinheiro, o chef escocês Gordon Ramsay dá um show de mau humor. Eis uma mostra de seu estilo

QUEM É

Ramsay é dono do único restaurante de Londres com três estrelas no guia Michelin, a distinção máxima da alta gastronomia

REAÇÃO TÍPICA

Ao provar um prato, o chef faz cara feia, joga a comida no chão e ordena: ‘Tente de novo’

IMPLICÂNCIAS

Cabelos desgrenhados, calças folgadas e postura preguiçosa o irritam. Mas, se ele não vai com a cara da pessoa, qualquer detalhe é motivo para xingamento

FRASES FAVORITAS

‘Vamos, mexa esse traseiro’

‘Você é mesmo inútil’

‘Seu burro’”



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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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