Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A informação como ferramenta contra a pseudociência

“Uma onda de misticismo sem precedentes assola o planeta.” Já se passaram mais de dez anos desde que o jornalista científico Cássio Leite Vieira escreveu esta frase, mas a afirmativa ainda é verdadeira. Misticismo e ciência ainda são confundidos. O primeiro ganha mais adeptos a cada dia e o segundo continua sendo mal divulgado e interpretado.

No livro Pequeno manual de divulgação científica: dicas para cientistas e divulgadores de ciência, Vieira afirma que cristais, anjos e duendes ainda ocupam o espaço das ciências nas livrarias e está cada vez mais comum ligar a televisão e encontrar místicos e gurus opinando sobre o destino político, econômico e social das nações. Esta triste tendência também é mostrada pelo cientista norte-americano Carl Sagan em O mundo assombrado pelos demônios, onde ele chama esses falsos profetas e suas falsas profecias de pseudociência.

Para Cássio Vieira, só a ciência, ressaltando suas conquistas e seus limites, é capaz de desmistificar os equívocos e libertar a mente das pessoas que se tornam reféns desses charlatões. Contudo, para que a pseudociência seja combatida, cientistas e tecnólogos devem contribuir para o esclarecimento público compartilhando o conhecimento científico dos fatos.

Uma ciência compreensível e atraente

Nesse contexto, o jornalista ocupa um papel fundamental para que esse debate aconteça. A reportagem especializada em ciência e tecnologia, quando cumpre funções básicas como informar e educar, transmite, complementa e atualiza conhecimentos, atuando sobre a sociedade, colaborando com suas escolhas sócio-políticas, econômicas e culturais. Com isso, evita que falsas descobertas científicas sejam assimiladas pelos meios de comunicação e pela população. Como exemplo, temos a notícia sobre a descoberta de pirâmides de cristal gigantes no fundo do oceano, na região conhecida como Triângulo das Bermudas. No texto, divulgado em diversos sites sobre assuntos místicos, os pesquisadores afirmavam que essas pirâmides poderiam ter alguma relação com a lendária cidade de Atlântida. Depois de muitas especulações, as informações foram desmentidas e ficou comprovado que nem mesmo o nome do cientista citado era verdadeiro.

Assuntos sobre ciência e tecnologia estão ganhando cada vez mais espaço nos meios de comunicação por dois motivos: a crescente aplicação da tecnologia nos processos de produção e trabalho, oferecendo recursos técnicos que alteram a qualidade de vida, além do tradicional conflito entre a crença popular e a ciência. Contudo, para o jornalismo científico desempenhar seu papel com eficácia, é primordial manter o público informado sobre os avanços técnico-científicos, promovendo a substituição de antigas por novas tecnologias. Além disso, é essencial fornecer modelos de pensamento que proporcionem reflexões sobre temas como a vida, o universo e o futuro. Cabe então ao jornalista traduzir o conhecimento científico para informação jornalística, com o máximo de clareza, simplicidade e compreensibilidade, tornando a ciência compreensível e atraente.

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Eduardo Fernando Uliana Barboza é professor de Comunicação Social