Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Destroçando o destroçado

Vou responder a esse mau caráter [ver “Traídos e traidores“]. Quem passou, combateu e resistiu a tudo que resisti, antes, durante e depois do golpe, não pode dar a impressão de estar com medo. Isso eu tive nas várias vezes em que ia para o Doi-Codi, nas prisões e nos confinamentos.

Já confessei: “Nessas oportunidades tive medo, da mesma forma que tive, quando sendo levado para Fernando de Noronha, meu “aviãozinho” entrou naquela “zona de morte”, onde “caiu” aquele avião da Air France, matando centenas de pessoas”. Quem diz que não tem medo de nada é um covarde, mentiroso, farsante, o Cony reúne as três coisas.

1963, o ano mais tenebroso da história

Era terrível. Os dois grupos que tentavam se aproveitar do golpe eram João Goulart e os generais. Conspiravam diariamente, queriam o poder de qualquer maneira. Os analistas mais competentes e bem informados colocavam o presidente como grande articulador da permanência no Poder. O que ele mesmo confirmou nos comícios de 13 e 28 de Março já de 64. (E vastamente analisado aqui mesmo antes e depois da sua derrubada).

Seis governadores, presidenciáveis em 1965, resistiram de todas as maneiras

Pela própria condição de candidatos, queriam eleição. E nenhum deles estava a favor de Jango. Depois de duas tentativas de intervenção na Guanabara, frustradas e recusadas pelos dois grandes partidos que o apoiavam, PSD-PTB, Jango se voltou contra este repórter.

Minha prisão em 63: planejada, executada de forma golpista

Eu combatia como sempre, denunciava as “maquinações” do vice presidente que assumira com as maluquices de Jânio Quadros. Quando em 21 de Julho desse ano, publiquei uma circular “sigilosa e confidencial” do Ministro da Guerra, Jango chamou-o, mandou que me prendesse e me processasse. Era uma ordem.

Mesmo com prisão de Jango, fui absolvido

Premeditado, o Ministro da Guerra, intimado pelo Presidente do Supremo a dizer quem me prendera, poderia ter respondido simplesmente “que não sabia, ou que eu estava respondendo a um IPM (Inquérito Policial Militar)”. Aí o Supremo não poderia efetuar o julgamento.

Mas o presidente queria o julgamento pelo Supremo. Mandara fazer um levantamento, garantiram que eu seria condenado por 6 a 2. Era o suficiente.

“Basta” e “Fora”

Dois editoriais históricos do Correio da Manhã, um dos mais importantes jornais da época, no qual trabalhava esse covarde do Cony. Eu não cheguei tão longe quanto o Correio da Manhã. A confusão era total, difícil de entender o que acontecia e iria acontecer.

Cony escreve alguns artigos sobre o golpe

Começou no seu estilo fofo, intrigante, falacioso, dava a impressão de que combatia o golpe. Era difícil desvendar o que escrevia. Mas acreditemos que era contra, adulterava sua própria atuação de canalha, fingia que era mesmo combatente.

Nem preso, cassado ou perseguido

Os militares no Poder não se preocupavam com o Cony, o que ele fingia escrever não os atingia. Mas insistia, um dia foi chamado a uma delegacia que ficava perto do jornal. Disseram a ele coisas que o assustaram.

Inesperadamente (para alguns desinformados) parou de escrever. Ficou refugiado no belo prédio da Manchete, (projeto de Oscar Niemeyer) escrevendo artigos para o dono da revista “assinar”. Não foi o único que se escondeu lá. O Correio da Manhã, meses depois, na oposição verdadeira, com Cony já demitido da redação, por irresponsabilidade e conivência acabou fechado.

Sem ser preso ou cassado, recebe alta indenização

Foi dos primeiros a requerer a chamada “indenização-salarial-individual”. O que é isso? A compensação pela cassação, e impedimento de trabalhar e com isso a perda de salários. O calhorda, mau caráter, mentiroso e covarde do Cony não foi cassado, continuou trabalhando altamente remunerado, “ganhou” a mais alta indenização.

Minha participação em 64

Não apoiei e nem combati o golpe nos primeiros 3 ou 4 meses. Pratiquei represália contra aqueles que me prenderam, me julgaram e pediram ao Supremo a minha condenação a 15 anos de prisão. (Enquadrado na Lei de Segurança). Mas fui o único a noticiar diariamente o que acontecia com o general Castelo Branco, indo “tentar, seduzir ou intimidar JK”, na casa do deputado Joaquim Ramos. (Excelente deputado, irmão de Nereu).

Castelo-Juscelino

Primeiro, Castelo foi com o embaixador Negrão de Lima à casa de Joaquim Ramos. Pediu um encontro com Juscelino. O segundo encontro com Amaral Peixoto, presidente do PSD, “que não queria briga com ninguém”, conversou com o futuro “presidente”.

Juscelino e Castelo se encontram

Finalmente, pressionado, JK foi conversar com Castelo, levou o Ministro da Fazenda do seu governo, José Maria Alckmin. Textual de Castelo: “Presidente, não preciso do seu apoio para ser presidente, mas não quero assumir como Chefe do governo Provisório. Pretendo o seu apoio para ser presidente de verdade, meu único objetivo é garantir a eleição de 1965. E o senhor é o maior interessado, é candidato desde que passou a presidência ao senhor Jânio Quadros”.

As dúvidas de Juscelino

O ex-presidente não sabia o que responder, Castelo Branco acrescentou: “Para mostrar minha sinceridade, estou convidando neste momento seu amigo José Maria Alckmin, para ser vice na minha chapa”.

Aceitou, Castelo teve que fazer uma viagem de 72 horas, Alckmin foi dormir num motel no Paraguai, não podia assumir.

Critiquei tudo, Cony, o bravateiro da bravata, altamente remunerado na revista Manchete, num silêncio total. Como sempre.

A Frente Ampla lançada na minha casa

Foram duas reuniões. Nas duas: o ex-ministro da Saúde de Jango, coronel da Aeronáutica, Wilson Fadul, preso e barbaramente torturado. Enio da Silveira, grande figura e tão comunista que colocou no primeiro filho o nome de Miguel Arraes da Silveira. O Brigadeiro Teixeira, líder de maior prestígio na FAB. Flávio Rangel, que saudade, morreu moço, realizou com o Millôr, o espetáculo de maior repercussão daquela época, “Liberdade. Liberdade”.

E Carlos Lacerda, que jamais falara com alguns dos outros, e eles também não. 3 ou 4 horas de conversa admirável e cordialíssima. Depois as reuniões passaram a ser na casa do empresário Alberto Lee, a mais bonita do Rio.

O Manifesto da Frente Ampla

Decidido e redigido, foi lido na redação da Tribuna da Imprensa. Presentes lá em cima e na rua, mais de 200 Jornalistas. Tiramos tudo da redação, ficou um espaço enorme, Carlos Lacerda leu o Manifesto. E começou os encontros com JK e Jango.

Lacerda-Jango em Montevidéu

Eu ia com Lacerda, não tive autorização para sair do Brasil. Não tinha ressentimento nem constrangimento em conversar com quem mandara me prender. Logo que apertou a mão de Lacerda, Jango perguntou: “O Jornalista Helio Fernandes não vinha também?”.

Lacerda explicou, Jango respondeu: “Somos mais de 60 aqui em Montevidéu. Nossa alegria é quando chega a Tribuna da Imprensa, ficamos satisfeitos com a coragem do jornalista, combate duramente a ditadura, e continua no país”.

A prorrogação do mandato

Ainda em 64 e no início de 65, Golbery, já brigadíssimo com Lacerda, começou a articular a prorrogação do tempo de Castelo. Fiquei contra desde o início, escrevi artigos duríssimos contra Castelo. (O de 1967, sem qualquer importância comparados com os que escrevi com ele o mais poderoso presidente. Naturalmente “presidente”). Nenhuma concessão, só não consegui convencer Lacerda que a prorrogação era o fim da eleição de 1965.

1965: a eleição que não houve

Insisti muito com o ainda governador, o doutor Julio Mesquita convencia Lacerda do contrário. Ele tinha mais influência sobre o governador do que eu. Mas escrevi dois artigos que Lacerda comentou, depois que se confirmaram: “O Helio Fernandes adivinha”.

Vou parar por aqui, apenas mostrar como o calhorda, canalha, covarde, bravateiro e mentiroso Cony, é totalmente desinformado.

PS – Além de tudo, Cony não sabia nem sabe de nada. Afirmou que eu fui candidato a senador depois do AI-5 de 1968, pela UDN. Ora, os partidos, incluindo a UDN, foram logo extintos a partir do golpe, criados o MDB e a Arena.

PS2 – Fui candidato a deputado federal pelo MDB, em 1966, tido e havido como o mais votado.

PS3 – A eleição no dia 15 de novembro, fui cassado no dia 12, três dias antes da eleição. Mario Martins, candidato a senador me pediu para participar do comício de encerramento da campanha, no dia seguinte, na PUC.

PS4 – Concordei, cheguei na PUC, o Reitor, Padre Laércio, me esperava na porta. Me disse: “Jornalista, na minha sala estão dois coronéis fardados que dizem que o senhor não pode falar, está cassado”.

PS5 – “Telefonei para meus superiores, que disseram: O senhor não recebe ordens do Exército e sim da Igreja. Se o senhor quiser falar depende do senhor”.

PS6 – “Padre Laércio, se o senhor autoriza já devíamos estar no palanque”. Fiz o discurso mais violento da minha vida.

PS7 – “Fui preso, o único cassado proibido de escrever, dirigir jornal, fiquei três meses longe de tudo”.

PS8 – Quando saí, entrei com Ação na Justiça para recuperar meu direito e minha obrigação de escrever.

PS9 – Por sorte a Ação caiu com o juiz Hamilton Leal, presidente da LEC (Liga Eleitoral Católica), que determinou que eu voltasse a escrever.

PS10 – Como a ditadura estava sendo muito contestada pela Igreja, não quiseram brigar mais, passei a escrever com meu nome. E artigos duros, violentos, incontestáveis.

PS11 – Mais tarde, o Jornalista Antônio Callado, intelectual progressista mas não ativista, foi cassado e também proibido de escrever.

PS12 – Surpresa total no Jornal do Brasil. Já preparavam passaporte, Callado iria para Paris, mandaria material sem assinatura.

PS13 – Logo, logo, Costa e Silva publicou nota oficial: “O jornalista Antônio Callado continua cassado, mas pode escrever”. Apresentei Callado ao famoso e combativo “Capitão Macaco”, ficaram amicíssimos.

PS14 – Me perseguiram e ao jornal de todas as formas que o calhorda do Cony não conhece. Até o fim da ditadura ficou na Manchete, que conseguiu fechar com os outros companheiros de “luxo e grandeza”. Fingindo de herói da Liberdade.

PS15 – Como o mentiroso, farsante e canalha do Cony só “combate” na lama ou debaixo do tapete, é a última vez que escrevo o seu nome. Haja o que houver, deixarei o Cony no subterrâneo do lamaçal, combaterei para cima.

PS16 – Bem para cima e para o alto, lembrando o que já escrevi sobre jornal que “ensandeceu”.

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Helio Fernandes é jornalista