Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os bons tempos da grande reportagem

O jornalista Paulo Francis comentou certa vez, durante uma entrevista, que o jornalismo brasileiro era feito de altíssimos e baixíssimos. E um desses apogeus foi certamente a criação da revista Realidade, em 1966. Para as novas gerações, a Editora Abril acaba de lançar uma edição especial com a história da revista, em comemoração aos 38 anos de seu nascimento. Indispensável à discussão em escolas de Comunicação, a jornalistas e a quem pretende se inteirar da história recente do país.

Por uma década (a experiência se encerrou em 1976), o leitor pôde usufruir o melhor jornalismo que se fazia aqui na época. Realidade explorou à exaustão o que se convencionou chamar de grande reportagem, gênero que teve em repórteres como Joel Silveira um de seus precursores no Brasil.

Colaboradores de elite

Realidade veio a lume numa década de acontecimentos extremos. Lá fora ocorriam conflitos históricos como a Guerra do Vietnã, a rebeldia dos estudantes em Paris, a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, a revolução do flower power etc. No Brasil, tinham início os Anos de Chumbo, com o cerceamento das liberdades civis e todas as conseqüências que adviriam para o país nas décadas seguintes. Nesse contexto explosivo a revista surgiu, vicejou e revolucionou.

Agregando um time de jornalistas de primeira linha, Realidade trouxe ao leitor um Brasil pouco discutido e conhecido. Abordou temas-tabu, a exemplo da reportagem ‘Sou padre e quero casar’, veiculada na edição de setembro de 1966, e colaborou para expor o racismo brasileiro, como na reportagem ‘Existe preconceito de cor no Brasil’, na edição de outubro de 1967. A revista abriu espaço para personagens controvertidos e contestatórios da rígida sociedade de então, como Leila Diniz. Na edição de abril de 1971, a eterna Leila enchia a capa de Realidade com um sorriso matreiro, em foto do não menos lendário David Drew Zingg, colaborador da revista.

Imitada por nascentes publicações, como a Veja, Realidade acabou perdendo a força original e fechou as portas, após ter publicado 120 edições (sempre mensais) e com elas ter abocanhado oito prêmios Esso. Os 17 jornalistas que fizeram a história da revista, tendo à frente nomes como Sérgio de Souza (atual editor da Caros Amigos), Paulo Patarra, Narciso Kalili, Woile Guimarães, Alessandro Porro, Walter Firmo, partiram para outras experiências. Enquanto circulou, Realidade contou com colaboradores como Nelson Rodrigues, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Augusto ou Paulo Francis.

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Estudante de Jornalismo da Universidade Tiradentes (SE) e editor do Balaio de Notícias (www.sergipe.com/balaiodenoticias)