Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Estilo e engenhosidade explicam sucesso de vendas

Os poucos escritores que têm marcado a literatura mundial nos últimos 100 anos se caracterizam pelo estilo e pela engenhosidade da criação. Esses dois fatores, aliados ao engajamento político e à militância profissional como jornalista que o elevaram à categoria de um observador participante, foram os responsáveis pela projeção planetária de Gabriel García Márquez e impulsionaram a venda de 40 milhões de exemplares da sua obra principal, Cem Anos de Solidão – um recorde mundial que bateu os maiores best sellers já produzidos até hoje.

O que é o realismo fantástico? – é a pergunta que se fazem muitos leitores de Gabo que leem sua obra atraídos por algum mistério da construção narrativa ou pela força de linguagem esboçada em vocábulos-chave.

O realismo, em literatura, foi um gênero literário predominante entre 1850-80.Através dele os escritores impunham em suas narrativas os fatos e as verdades como eram, nus e crus, sem fantasia nem invencionice.

Se de 1920 até o começo dos anos 60 a predominância no gênero literário foi do surrealismo, na literatura mundial já havia alguns traços que indicavam a presença da dialética de Karl Marx – originalmente criada pelo filósofo Husserl –, como já se notabiliza no estilo ímpar do escritor francês Marcel Proust, em sua incrível e monumental série de romances Em busca do tempo perdido.

O mito em torno de si e o mito literário

Ao mitificar-se em seu Cem anos de solidão, com relatos onde sobressaem os olhares surpreendentes do sociólogo e do antropólogo com a transcendência da observação de um psicólogo social que aprofunda as apreciações sociais e humanas, Gabriel García Márquez se debruça sobre o continente latino-americano e os sonhos do seu povo, buscando extrair dele a alma e suas sensações mais profundas, que vão desde a obsessão do coronel Buendía em proteger de todas as formas a virgindade da sua filha – a ponto de trancar a caçola dela com um cadeado para que nenhum homem a estuprasse – até as desventuras de um viajante cujas moedas de ouro foram engolidas por galinhas ao viajar da capital argentina até os Andes no caçuá de duas burras.

Na biografia de Gabriel García Márquez será destacado, entre aqueles que se dispõem a escrevê-la, o cruzamento do mito que criou em vida em torno de si mesmo e sua obra e o próprio mito literário transcendental – o meta-mito. Pois não se sabe onde começa a obra nem onde termina a vida dele, cuja herança tentou transferir às futuras gerações com uma escola de jornalismo que manteve durante quase 20 anos na Espanha.

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Reinaldo Cabral é jornalista