Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um jornalista de posições firmes e radicais

Cláudio foi um dos meus melhores amigos. Foi, não, continua sendo! Como ele mesmo dizia, “a morte não existe”. Seus heróis eram seu pai e sua mãe. Ele dizia “Um dia vou pra onde eles foram”. Ele não era um religioso no sentido institucional da palavra. Aliás, Jesus nunca instituiu uma religião, formou discípulos e pediu que eles andassem e trabalhassem juntos, em amor e serviço, uns aos outros. Ele nos religou a Deus e, por isso, é o Caminho natural que nos leva a Origem.

Claudinho, para os mais chegados, nasceu em Cambé no dia 10 de agosto de 1954. Filho de uma dona de casa e um trabalhador braçal que, em sua simplicidade, encarnaram os valores cristãos de honra, dignidade e honestidade – que sempre buscaram transmitir a seus filhos, especialmente através de atitudes coerentes ao que criam.

Pé vermelho, o Claudinho! Cresceu em meio aos pneus da Vulcanização Guarany que, num dia frio de junho de 1961, ficou em chamas – como uma fogueira iluminando a cidadezinha. Após um período de crescente prosperidade, o Claudio – com sete anos e seus sete irmãos – passou por anos de “vacas magras”. Foi aluno da Escola Dominical da pequena Igreja Presbiteriana do Brasil, local. O que mais o impactou, dizia, foi o caráter de seu pai, Ermélio E. de Azevedo – neto de imigrantes portugueses e trineto de alemães. Em sua adolescência conquistou vários prêmios como desportista. Guardou diplomas de “Honra ao Mérito” assinados pelo querido professor José Carani. Era santista, mas sem fanatismo.

Críticas aos políticos

Apesar das dificuldades seu Ermélio viu sete de seus filhos cursarem a faculdade e um deles formar-se no curso de Contabilidade – 2° grau. Enquanto vários de seus irmãos tiveram que sair da cidadezinha, em busca de oportunidade de trabalho e estudo, Claudinho, o mais cambeense dos irmãos, ficou ajudando o pai na borracharia da esquina da Inglaterra. Eli, o borracheiro, recebia seus clientes. Apesar de ter feito apenas parte do curso médio, seu Ermélio sempre tinha uma boa palavra para jovens e velhos – querido e lembrado por muitos.

Como alguns de seus colegas de infância e adolescência, Cláudio pensava em cursar Medicina. Porém, era o tipo que não gostava de ficar repetindo. Abandonou a ideia após o primeiro “vestiba”. Partiu para sua verdadeira vocação, fazendo o Curso de Comunicação Social, Jornalismo – na UEL – Universidade Estadual de Londrina.

Seus primeiros ensaios na arte da comunicação de fatos foram no jornal Cambé Noticias, fundado por Santana Ribeiro em 1963. Ali escrevia uma coluna chamada “Cri-Criticando”, cujas cutucadas deixavam os políticos do momento incomodados. Foi o primeiro estudante de jornalismo a abrir espaço, na Prefeitura de Cambé, como assessor de imprensa. No final de seu curso, em 1978, analisando a situação da imprensa na cidade, Cláudio, Sérgio Marqueze e sua turma de classe escreveram em um trabalho acadêmico sobre o papel da imprensa local: “O jornal Cambé Notícias veicula noticias voltadas para interesses políticos e econômicos vinculados à administração pública, sem nenhuma preocupação de motivar seus leitores.”

Os vazios de opinião e informação

Em 1980, já formado, Cláudio foi convidado para trabalhar na TV Coroados, vinculada à Rede Globo, onde foi repórter até 1983. No ano seguinte mudou-se para Curitiba e trabalhou como editor-chefe do Bom Dia Paraná, na TV Paranaense, também vinculada à Globo. Trabalhou como editor de 1984 a 1987.

Poderia ter continuado sua carreira como profissional de comunicação na TV Paranaense, porém não quis misturar “alho com bugalho”. Demitiu-se da TV ao aceitar o convite da Secretaria de Estado da Fazenda – cujo secretário era um cambeense recém-chegado à capital. Ocupou a assessoria até 1990. No ano seguinte passou a trabalhar como assessor de imprensa na Secretaria da Agricultura, com Osmar Dias. Foi também assessor na Associação dos Municípios do Paraná, nos anos de 1991/92. Durante os anos de 1992 a 1994 foi assessor na Secretaria do Trabalho e Ação Social. Foi editor executivo da CNT – Central Nacional de Televisão, em 1995. Entre os anos de 1997 a 2000 foi editor do SBT-Paraná, do grupo Pimentel.

Sua posição firme e radical gerava conflitos de interesses. Um bom jornalista sempre enfrenta esse tipo de situação. Seu papel é informar a verdade de forma imparcial ao público. Sua posição, muitas vezes, enfrentou oposição por parte de políticos e empresariado – nessa corda bamba ele teve que se equilibrar de forma a manter sua consciência limpa diante de conflitos, nem sempre harmônicos ou éticos.

A história recente do Brasil, tanto no período do autoritarismo civil-militar como na democracia, relativa, em que vivemos hoje, mostra a importância vital do jornalista na vida de um país. Hoje, com o advento da internet, muitos jornalistas reencontram espaço para suprir vazios de opinião e informação, na grande imprensa. Essa realidade, de certa forma, foi vivenciada por profissionais como o Claudio de Azevedo – especialmente porque conheceu os dois lados da moeda.

A missão de jornalista e ser humano

Durante alguns meses trabalhou como freelancer no programa Globo Rural – foram meses de muita alegria na convivência de profissionais como José Hamilton Ribeiro. Voltando ao Paraná, seu desencanto com a profissão levou-o a trilhar caminhos alternativos. Tentou o rádio jornalismo fundando a DNN – Dia e Noite Notícias, onde foi sócio gerente, até 1996. Fez também um curso de Gestão Ambiental – que passou a se tornar relevante em seu ideário de uma sociedade autossustentável. Queria conciliar jornalismo e meio-ambiente, porém só encontrava portas fechadas para suas ideias. Não conseguindo regressar à chamada grande imprensa, fez vários concursos públicos e, há alguns anos, passou a trabalhar como funcionário concursado na Prefeitura de Pinhais, até seus últimos dias de vida. Durante seu trabalho fez vários cursos de especialização nas áreas de saúde e meio-ambiente.

Teve uma crise em seu ambiente de trabalho, agravada durante poucos dias. Sua saúde física, um pouco debilitada, não suportou o avanço da infecção pulmonar, vindo a falecer no dia 03/05 numa UTI do Hospital Cajuru.

Cláudio de Azevedo foi, antes de tudo, um ser humano capaz de fazer amizades por onde passava. Prova disso foi o grande número de amigos que estava em seu sepultamento: vizinhos de sua chácara, onde viveu durante mais de vinte anos; amigos do bairro, amigos que conquistou nos postos de saúde, onde trabalhou; amigos de infância de Cambé e de Curitiba, parentes de perto e de longe, jornalistas e amigos que conquistou durante sua vida profissional, como no lazer.

Cláudio de Azevedo cumpriu obstinada e intensamente sua missão como jornalista e ser humano que valoriza a vida e preza valores éticos que definem a verdadeira civilização. Era brincalhão com as crianças, procurava seus amigos – mesmo os que nunca o visitavam. Com todas suas lutas e dificuldades foi um pai amoroso e um avô que se derretia de amor pelo seu netinho. Era um cara cuja sensibilidade tem sido rara em nosso tempo de automação e desumanização. Milhares de lágrimas rolaram pelo seu rosto. Era espontâneo, amoroso, polêmico, teimoso, generoso, feliz, alegre, triste, perseverante.

Bravo!

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José Julio de Azevedo é jornalista