Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Grande jornalista

Do lado de baixo da América, lamento muito a morte, ocorrida no mês passado, de Alexandre Cockburn (como também de Gore Vidal e, entre nós, de Luiz Fernando Mercadante, na mesma época). Quando do famoso conflito dele com o Village Voice, em 1984,eu morava nos Estados Unidos. Acompanhei a polêmica e fiquei com Cockburn, que foi demitido pela publicação.

O motivo: ele recebeu uma bolsa de um instituto árabe, o que caracterizaria sua parcialidade e falta de independência no trato do conflito do Oriente Médio. Além de atitude antiética, por não ter consultado nem informado os editores do Voice. Só que ele recebeu a bolsa quando já tinha uma posição bem definida sobre o Oriente Médio, manifestada inúmeras vezes. Um instituto israelita não lhe daria essa bolsa. O jornalista não mudou de opinião, antes a reforçou.

Aliás, eu estava nos EUA com uma bolsa americana para escrever um livro sobre o milionário americano Daniel Ludwig e seu projeto megalomaníaco na Amazônia – e não era a favor dele, muito pelo contrário. Acho que o Voice aproveitou o pretexto para se livrar de alguém que já não se enquadrava na linha afluente do semanário.

O Voice era muita coisa boa, mas não era mais alternativo coisa nenhuma. Não conheci pessoalmente Cockburn, mas mantive contato com ele através de sua mulher, Susanna Hecht, grande pesquisadora de Amazônia, com quem escreveu um livro sobre a região, muito bom. Alex seguiu o honrado caminho do pai. E foi além – o que diz bastante sobre seus talentos.

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Ninguém espinafrava tão bem quanto ele– Victor Navasky

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[Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)]