Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O mestre que se foi

Correspondente, escritor, reitor de duas das mais importantes escolas de jornalismo dos EUA e ganhador de diversos prêmios, pode-se dizer que Elie Abel teve uma vida memorável. O jornalista morreu no dia 22 de julho em um asilo em Rockville, Maryland, em decorrência de pneumonia e complicações de um infarto. Abel tinha 83 anos e sofria do mal de Alzheimer.


Um dos mais importantes personagens do jornalismo americano, nasceu em Montreal, no Canadá, e cursou a Universidade McGill. Fez mestrado em jornalismo em Columbia, em 1942, e começou a carreira no Windsor Star, em Ontário. Trabalhou no Montreal Gazette, no Los Angeles Times e no Detroit News; foi correspondente em Berlim pela North American Newspaper Alliance e pela Overseas News Agency para as Nações Unidas. No meio disso ainda serviu na Força Aérea Canadense durante a II Guerra Mundial.


A partir de 1949, Abel trabalhou por 11 anos no New York Times, onde foi correspondente nacional e internacional. Chefiou as sucursais do jornal em Detroit e Washington e os escritórios em Nova Déli e Belgrado. Na Hungria, a cobertura da revolta popular de 1956 lhe rendeu um prêmio Pulitzer de jornalismo. Mas Abel ficou realmente conhecido pelo público americano como correspondente da rede de TV NBC na década de 1960, no programa de notícias The Huntley-Brinkley Report.


Vida acadêmica


Entre 1970 e 1979, o jornalista ocupou o cargo de reitor da Escola de Jornalismo de Columbia, onde fundou o programa Knight-Bagehot Fellowship, dedicado ao jornalismo econômico e de negócios. Em 1979, foi para a Universidade Stanford, onde lecionou e dirigiu o departamento e programas de Comunicação até 1994.


Seu primeiro livro, The Missile Crisis (A crise dos mísseis), escrito em 1966, foi considerado um dos mais completos documentos sobre a crise dos mísseis em Cuba. Entre seus outros trabalhos estão Roots of Involvement: The U.S. in Asia 1784-1971 (Raízes do envolvimento: os EUA na Ásia), sobre a história por trás da guerra do Vietnã, escrito em 1971 com Marvin Kalb; e as memórias do político Averell Harriman, Special Envoy to Churchill and Stalin, 1941-1946 (Enviado especial para Churchill e Stálin), de 1975, escrito em companhia do próprio Harriman.


Seu último livro, The Shattered Bloc: Behind the Upheaval in Eastern Europe (O bloco despedaçado: por trás da revolta na Europa Oriental), data de 1990. Abel reescreveu diversos capítulos antes da publicação por causa da queda do Muro de Berlim e das mudanças políticas que se seguiram a esse episódio.


Premiado e querido


Entre os prêmios recebidos por ele ao longo de sua carreira, estão dois Overseas Press Club Awards, por cobertura internacional, em 1969, e por documentário para TV, em 1970; e um George Peabody Award por cobertura de rádio, em 1968.


"Ele era bastante conhecido, querido e respeitado mundialmente", disse ao San Francisco Chronicle a ex-professora de jornalismo de Columbia Marion Lewenstein.


Segundo Henry Breitrose, ex-diretor do Departamento de Comunicação de Stanford, Abel insistia para que seus alunos aprendessem a diferença entre jornalismo e taquigrafia. "Ele realmente pressionava os estudantes para que eles fossem cruelmente analíticos. Acreditava que jornalistas deviam adicionar conhecimento às histórias para ajudar o leitor a compreendê-las", contou ele ao Stanford Report.


"Abel era a idéia perfeita que se pode ter de um grande correspondente internacional", afirmou o ex-correspondente da CBS Daniel Schorr, hoje analista da National Public Radio. "Era um bom amigo e uma pessoa adorável, e sua falta será dolorosamente sentida."


[Com informações de AP (23/7/04), Patricia Sullivan (The Washington Post, 24/7/04), Charles Burress (San Francisco Chronicle, 24/7/04) e Lisa Trei (Stanford Report, 24/7/04)]