Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O aumento da cobertura canina no New York Times

Jill Abramson gosta de cães. Desde que assumiu o cargo de editora-executiva do New York Times, em novembro passado, o número de vezes em que cachorros apareceram nas páginas do diário aumentou 45%. A curiosidade foi descoberta por Ron Howell em artigo publicado na Columbia Journalism Review [23/3/12]. O professor de jornalismo do Brooklyn College fez uma pesquisa no banco de dados do jornal e chegou à conclusão que artigos contendo palavras que tenham “dog” como raiz – podia ser “dogs” ou “doggie”, por exemplo – aumentaram de 230 no período de novembro de 2010 ao fim de fevereiro de 2011 para 337 de novembro de 2011 para o fim de fevereiro de 2012 (os quatro primeiros meses de Jill no comando no diário).

Primeira mulher a comandar o Times, Jill é formada em História e Literatura por Harvard, e entrou no jornal em 1997. Dois anos depois, virou editora em Washington e, em 2003, assumiu o posto de chefe de redação. A jornalista também é autora de um livro sobre cães. The Puppy Diaries: Raising a Dog Named Scout [algo como “O diário do filhote: criando um cão chamado Scout”] é uma crônica do primeiro ano de vida do Labrador de Jill. Scout ficou famoso quando sua dona passou a escrever uma coluna no jornal contando as alegrias e desafios de criar um cachorro, e logo ganhou fãs espalhados pelos EUA. O livro traz as experiências de Jill com cães e questões sobre a criação deles. A jornalista conta ainda como seu antecessor no comando do Times, Bill Keller, suspeitava que ela estava usando seu posto de chefe de redação para priorizar pautas sobre cães. “[Keller] me disse que havia notado um súbito aumento no número de matérias cotadas para a primeira página”, escreve ela.

Obsessão nova-iorquina

Howell diz que também ama cães. Mas acredita que os nova-iorquinos amantes de cães estão passando dos limites em sua obsessão canina. E teme que esta obsessão passe a tomar conta dos jornais. O professor teme, por exemplo, que o espaço que seria dedicado a reportagens relevantes sobre comunidades maginalizadas de Nova York seja dominado pelas pautas sobre cachorros.

Conversando com uma amiga jornalista, Howell ouviu que, de repente, a solução é deixar que esta “cobertura relevante” seja feita pelos jornais locais e blogueiros “que realmente se importam com estas comunidades”. Ele discorda ao ler artigos como o que contava sobre um cão chamado Major, cujos latidos serviram de “música de fundo” em um casamento. Outra matéria, poucos dias antes, falava sobre como os cães que participam de filmes não podem ser comparados com os atores humanos, mas ainda assim dão, muitas vezes, shows de interpretação.

Em uma consulta a um período de quatro meses 15 anos atrás, Howell descobriu apenas 167 referências a cachorros no Times, o que indica um aumento de mais de 100%. Uma pesquisa no Daily News mostrou que a cobertura sobre cães seguiu a mesma nos últimos 15 anos – de 84 a 89 referências, hoje, também em um período de quatro meses. “Um aumento de 45% no precioso espaço do jornal dado a cães é algo significativo”, diz o professor.