Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Os jornalistas como centro da história

Muitas vezes, profissionais de imprensa se tornam parte dos eventos que cobrem. Em artigo no New York Times [22/5/12], Alan Cowell avalia que, apesar de muitas vezes inflarem sua importância, em certos casos – como o escândalo dos grampos telefônicos no Reino Unido – os jornalistas passam a ser o centro de suas histórias.

Há algumas semanas, Rebekah Brooks, ex-editora e ex-executiva-chefe da News International, braço de jornais da News Corporation no Reino Unido, foi acusada, com seu marido e quatro funcionários do grupo, de conspirar para prejudicar o andamento da justiça – uma acusação violenta negada por ela e que pode, tecnicamente, levar à sentença de prisão perpétua.

Dias depois, centenas de amigos, parentes e colegas reuniram-se na Igreja de St. Martin-in-the-Field, na Praça Trafalgar, no centro de Londres, para homenagear Marie Colvin, correspondente americana morta na Síria em fevereiro. Marie trabalhava para o Sunday Times, jornal do grupo de Rupert Murdoch.

No mesmo dia, Ratko Mladic, ex-comandante militar dos sérvios na Bósnia, foi a julgamento diante de um tribunal internacional. Ele enfrenta acusações de crime de guerra e genocídio, do ataque de Sarajevo e do massacre sangrento de oito mil muçulmanos em Srebrenica.

Os três fatos têm em comum três jornalistas que tiveram suas histórias entrelaçadas com a questão de como a justiça é feita – não simplesmente no sentido legal estrito de crime e punição, mas em questões complexas que envolvem a aproximação do profissional de imprensa com as vítimas que ouve e, em alguns casos, engolem sua própria vida.

A jornalista Marlise Simons, que cobre o julgamento de Mladic, conta que sobreviventes dos massacres aproximavam-se dela para contar o que sentiam quando viam imagens dos anos 90, que os levavam de volta a tragédias que os assombram desde então. “Parece uma câmara de tortura para eles. O fato de que as pessoas os estão ouvindo dá algum alívio”, lembra.

Rebekah Brooks, por outro lado, foi a primeira pessoa ligada ao caso dos grampos na News Corp a enfrentar acusações criminais depois de meses de revelações polêmicas sobre o modo como jornalistas apuram suas matérias.

Quando morreu em Homs, na Síria, Marie Colvin tinha acabado de ser entrevistada por emissoras britânicas, onde falou dolorosamente sobre a morte de uma criança. Além de escrever sobre o que se passava no país em conflito, acabou se tornando, ela própria, mais uma vítima da história que contava ao mundo.