Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Grupos neonazistas ganham dinheiro com vídeos no YouTube

Grupos neonazistas descobriram como ganhar dinheiro no YouTube. Eles estão usando o sistema de compartilhamento de receita com publicidade do site para obter pagamentos de empresas – sem o conhecimento ou consentimento delas. Pelo programa AdSense, do Google, membros cadastrados no YouTube que postam vídeos sem proteção de direitos autorais podem receber dinheiro por anúncios que aparecem em um quadro do lado direito dos vídeos.

Alertado disso, o Google – dono do YouTube – removeu os vídeos, mas não há indicação de que tenha ampliado seu sistema de proteção para evitar que eles voltem. Ainda que as regras do YouTube determinem que não são permitidos discursos de ódio – baseados em fatores como raça e etnia, religião, gênero, idade ou orientação sexual –, o site não monitora conteúdo diretamente, e sim confia nos internautas para indicar quando um vídeo é inapropriado. Os vídeos nos canais neonazistas pareciam ter a intenção de conquistar fãs ao incitar ódio contra minorias.

Por meio de seu porta-voz, o Google afirmou que encoraja os internautas a marcar os vídeos que, na opinião deles, violem as regras do YouTube. É possível fazê-lo simplesmente apertando um botão com o desenho de uma bandeirinha embaixo do vídeo. “Nós revisamos rapidamente todos os vídeos marcados, e removemos material que viole nossas normas”, declarou a empresa.

Conteúdo extremista

O problema neste caso é que membros dos grupos neonazistas e seus simpatizantes que assistem ao vídeo não têm nenhuma intenção de marcá-lo como inapropriado, e cada vez que uma destas pessoas vê o vídeo, o grupo é beneficiado pelo programa de compartilhamento de receita. Além disso, os canais do YouTube acabam sendo usados para fornecer links para conteúdo extremista e sites neonazistas, com grupos de discussão e indicações de leitura.

Entre os vídeos estavam alguns ligados ao livro The Turner Diaries, de 1978, considerado “a bíblia da direita racista”, e os diários do supremacista branco Kevin Harpham, sentenciado a 32 anos de prisão no ano passado por plantar uma bomba na rota da passeata em homenagem ao Dia de Martin Luther King, em Washington.

Entre as empresas que tiveram anúncios associados a conteúdo neonazista, estava a Virgin Media. A companhia afirmou que estava em discussão com o Google para tentar estabelecer medidas para evitar que isso ocorra novamente. O jornalista Robert Levine, ex-editor-executivo da revista Billboard que escreve sobre tecnologia e direitos autorais, afirma que há um problema ético a ser tratado. “Eu vi estes vídeos. São perturbadores. Assim como faz o Google como um todo, o YouTube esconde sua irresponsabilidade corporativa atrás da liberdade de expressão. Mas há vezes em que parece mais interessado em sua própria liberdade de vender publicidade”, alfinetou. Informações de JF Derry e Charles Arthur [The Guardian, 21/6/12].