Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Taxas não salvarão o jornalismo

O editor investigativo do The Guardian, David Leigh, levantou a hipótese de que jornais deveriam ser financiados por uma taxa paga por servidor de internet, porque é por meio dessas taxas que o jornalismo público deveria ser mantido. Muitos foram contra à ideia, pois grandes jornais não são sinônimo de jornalismo.

Na medida em que a mídia tradicional continua a patinar, entretanto, um número de pessoas passou a achar a sugestão de Leigh interessante para salvar o jornalismo e, em especial, os jornais mais importantes do Reino Unido. O único problema para o plano é que ele não é inteligente e tampouco novo. Como alguns especialistas já observaram, a mesma ideia foi levantada no passado como maneira de salvar a indústria de música – e, felizmente, nunca se tornou realidade, comentou Mathew Ingram [GigaOm, 24/9/12].

A proposta de Leigh – de pagamento de duas libras (cerca de R$ 6,5) para cada conta de internet para criar um fundo de investimento do governo – parece tentadora a princípio, mas apresenta várias falhas, incluindo o fato de provavelmente não cumprir o que os que apoiam a ideia querem. Alguns dos proponentes da lei argumentam que ela faz sentido no mercado britânico, que já tem uma estrutura semelhante de pagamento por TV, a fim de subsidiar a BBC.

Publicidade em queda

O que motivou a ideia é algo óbvio: a receita de publicidade impressa, da qual depende a maior parte dos jornais, caiu a uma proporção assustadora nos últimos anos e a queda parece acelerar, em vez de diminuir. Cobranças pelo conteúdo online podem estar colaborando, mas não o suficiente para preencher as perdas. Assim, algumas empresas estão demitindo e, no caso das americanas, até mesmo encerrando as edições impressas.

Editores como Leigh – e colunistas como Roy Greenslade, do Guardian, que defende a ideia de uma taxa de internet – estão preocupados com o efeito que o declínio sem precedentes na indústria jornalística deve ter no jornalismo, que, segundo argumentam, serve a uma proposta pública e não deve ser deixado aos caprichos do mercado. “Quando chegar o dia em que jornais forem forçados a parar de publicarem, será um desastre para a democracia. Os poucos ganhos com publicidade online de sites gratuitos pagarão apenas fração do jornalismo investigativo de alta qualidade que jornais comerciais geral”, opinou Leigh. Nos EUA, David Carr, do New York Times, já levantou preocupações semelhantes sobre o efeito em cidades como Nova Orleans, por exemplo, na qual os jornais diminuíram de tamanho ou pararam de ser publicados.

Há uma série de problemas com relação à taxa de internet, como aponta o jornalista Allan Donald, como o fato de tal plano apoiar um modelo de negócios fundamentalmente quebrado e porque usuários não concordaram com o pagamento. Mas a principal, explica Charlie Beckett, da London School of Economics and Political Science (LSE), é baseada no princípio de que jornalismo – do tipo que mereça o financiamento do governo – seja sinônimo de jornais. Mesmo se isso fosse verdade, em um passado distante, claramente não funciona mais assim.

Tal plano deixaria de lado, portanto, um número grande e crescente de servidores alternativos, de entidades sem fins lucrativos, como a organização sem fins lucrativas londrina Bureau of Investigativ Journalism, a sites de mídia pequenos. Muitos desses veículos alternativos, que estão tentando reinventar o jornalismo na era digital, merecem muito mais financiamento do que grandes jornais que já têm grande parte do mercado. Na realidade, a taxa também contribuiria muito pouco para subsidiar jornalismo de interesse público.