Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Governo provoca blecaute na internet

Apesar de alegações em contrário, é quase certo que o governo sírio tenha sido o responsável pelo apagão na quinta-feira (29/11) da semana passada, quando foram desligados virtualmente todos os serviços de internet no país, segundo uma empresa de segurança na web. “Consta que o ministro da Informação sírio teria dito que o governo não bloqueou o acesso à internet, e sim, que o corte ocorreu devido a um cabo ter sido cortado”, escreveu Matthew Prince, diretor-presidente da CloudFare. “De acordo com nossa investigação, parece ser pouco provável ser esse o caso.”

A luta entre os rebeldes e as forças leais ao presidente Bashar al-Assad transformou em caos boa parte de Damasco na sexta-feira (30/11) e não havia acesso aos serviços da internet em boa parte da Síria pelo segundo dia seguido. O aeroporto estava fechado e na sexta-feira os tiroteios mataram outras 31 pessoas, segundo um grupo de oposição que contabiliza as baixas no conflito.

O ministro sírio da Informação disse que “terroristas” – que é como o regime de Assad se refere aos rebeldes, numa guerra sangrenta e contínua – cortaram o cabo, impedindo a comunicação com outros países.

Os rebeldes normalmente usam a web para transmitirem imagens da guerra civil, inclusive daquilo que chamam ataques militares do regime de Assad contra civis. Mas Prince disse que apenas quatro cabos de internet conectam a Síria com o mundo exterior: três deles, por baixo d’água e um quarto, por terra, através da Turquia. “Para que sucedesse um corte afetando todo o país, os quatro cabos teriam que ter sido cortados simultaneamente”, escreveu Pince. “É improvável que isso tenha acontecido.”

Sites sírios estão hospedados em outros países

As conexões caíram em todas as regiões da Síria e o corte começou às 5h26 de quinta-feira, escreveu Prince. O único provedor de serviço de internet na Síria é a empresa estatal Syrian Telecommunications Establishment. Os últimos quatro sites acessados pela CloudFare antes do corte foram de fotos compartilhadas, um site de notícias sírio, uma rede social de orientação muçulmana e um site pornográfico, segundo Prince. “Em outras palavras, o tráfego dos sírios que acessavam a internet momento antes de serem isolados do resto do mundo parece consideravelmente semelhante ao tráfego em qualquer lugar do mundo.”

Analistas digitais da empresa Renesys, que vem monitorando de perto a situação na Síria, informou na sexta-feira (30/11) que uns poucos “bloqueios” que haviam sobrevivido ao blecaute original também, haviam sido retirados. Primeiramente, a Renesys informou que cerca de 90% das conexões de internet na Síria estavam off-line. Um gráfico no site da empresa mostrou que praticamente já não existia serviço algum.

No entanto, os sites do governo sírio haviam continuado acessíveis, pois eles estão hospedados em outros países, inclusive nos Estados Unidos. O The New York Times informou que várias empresas que hospedam sites disseram que trabalharam até tarde naquela quinta-feira para retirar os sites.

Celulares e linhas também não funcionaram

O governo americano tem fornecido “equipamento não-letal” aos rebeldes sírios, inclusive ferramentas de comunicação para evitar os cortes na internet. “O governo sírio vem monitorando (a internet) há anos. Eles vêm usando a internet com assessoria iraniana para localizar ativistas, prendê-los e matá-los”, disse Robert Ford, embaixador americano na Síria em Washington, na quarta-feira.

Entretanto, o gigante digital Google cooperou com um serviço que permite que usuários na Síria mandem mensagens pelo Twitter por meio de um celular. O serviço, Speak2Tweet, foi desenvolvido pelo Google e pelo Twitter há cerca de dois anos, quando o acesso à web foi bloqueado durante o rebelião civil no Egito. “Infelizmente, tivemos informações de que os celulares e as linhas terrestres também não estão funcionando bem”, escreveu a empresa numa mensagem. “Mas os que ainda tiverem a sorte de ter conexão por voz, podem usar o Speak2Tweet simplesmente deixando uma mensagem de voz”. No sábado (1/12), boa parte da internet já havia sido restabelecida no país. Informações de Doug Gross [CNN, 30/11/12].