Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A nova revista na visão – pessimista – do ex-proprietário

Martin Peretz, que foi editor-chefe e proprietário da revista política americana New Republic de 1974 até 2011, disse não ter reconhecido a antiga publicação em sua nova versão. A New Republic foi comprada por Chris Hughes, confundador do Facebook, no ano passado, e voltou às bancas remodelada este ano. “Não reconheci a revista que costumava ter. Éramos liberais, mas não limitadamente partidários”, afirmou Peretz, acrescentando que a tradição liberal, mas heterodoxa, foi substituída por uma “perspectiva esquerdista” previsível.

Ele criticou o que “nunca havia visto” nos 35 anos em que ficou à frente da revista – desde a capa, que trazia o presidente Barack Obama, até a reportagem principal, intitulada “Pecado original”, escrita por Sam Tanenhaus. O artigo explicava por que o Partido Republicano é e continuará a ser o partido dos brancos. As insinuações de racismo republicano e as simplificações não refletem as tradições intelectuais da revista, acredita o ex-proprietário.

Peretz nunca pensou que a New Republic entrevistaria algum presidente – na entrevista da primeira edição deste ano, Obama reclamava do fato de a mídia apoiar pouco a agenda democrata e ser insuficientemente crítica dos republicanos obstrucionistas. Como Hughes coordenou o setor de mídias sociais da campanha de Obama em 2008, era de se esperar uma certa afinidade democrata.

Para os que gostam de ler sobre relações internacionais, diz Peretz, ainda bem que continua na equipe o editor Leon Wieseltier, “alerta aos pecados e bênçãos dos EUA”. Do contrário, afirma ele, a revista parece ter perdido o interesse no tema.

Histórico denso

Hughes não é do mundo dos fundadores da revista, os liberais Herbert Croly e Walter Lippmann, que tinham a esperança de fomentar nos leitores “pequenas insurreições da mente”. O primeiro e o segundo grupo de editores e escritores tinham gigantes como Felix Frankfurter, Virginia Woolf, Reinhold Niebuhr, Rebecca West, John Maynard Keynes e Edmund Wilson.

Durante os anos 1940, Michael Straight, filho de um dos fundadores da revista (que chegou a ser um espião da KGB enquanto estava na faculdade), assumiu a New Republic. Por um tempo, ele passou o comando para o ex-vice-presidente Henry Wallace. A revista foi vendida nos anos 1950 para um amigo liberal de Los Angeles, que manteve o jornal mais centrado. Peretz e sua ex-mulher compraram a publicação em 1974 e colocaram Michael Kinsley como editor. Na sua gestão, a revista era “politicamente controversa e intectualmente desafiadora”.

Há algo de estranho na visão jornalística de Hughes, acredita Peretz. O novo dono já disse em público que deseja que a revista não seja mais conhecida como liberal, para não tomar apenas um lado de uma questão. Uma expressão desse sentimento é o fato de não serem mais publicados editoriais. Talvez eles não sejam mais necessários, devido aos próprios artigos. A revista parece agora viver em um espaço no qual as “pequenas insurreições da mente” não são bem-vindas, queixa-se o ex-dono.

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