Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Investigação interna revela problemas estruturais da rede

Detalhes desagradáveis do funcionamento da BBC foram divulgados pela rede na semana passada, relacionados a uma investigação interna – o chamado relatório Pollard – sobre os motivos que levaram ao cancelamento de um programa que trataria do caso do veterano apresentador Jimmy Savile, acusado de abuso sexual e pedofilia ao longo de seis décadas. Savile morreu em outubro de 2011, aos 84 anos. Uma edição do programa jornalístico Newsnight com uma investigação sobre o tema, em dezembro do mesmo ano, não foi ao ar – segundo a BBC, por motivos editoriais, e não para proteger a imagem do apresentador.

As mais de três mil páginas de documentos – e-mails, memorandos e transcrições de entrevistas – revelam o cenário de uma organização altamente disfuncional e desequilibrada dividida em facções rivais e abatida por desconfiança, falta de comunicação e disputas destrutivas. As conclusões do relatório foram que há problemas estruturais profundos na rede britânica.

Trechos sigilosos

Não há revelações surpreendentes, mas elas lançam luz sobre o que o jornalista Nick Pollard, que coordenou o relatório, quis dizer com sua crítica contundente. “O relatório demonstra a extensão da infelicidade na estrutura da BBC, a frustração da natureza burocrática da administração e uma pobreza de espírito generalizada”, afirmou John Whittingdale, presidente do Comitê de Mídia e Cultura do Congresso britânico. “O fato de muitas dessas evidências não poderem ser publicadas, porque advogados disseram que poderiam ser consideradas difamatórias, já nos diz muito”, completou, referindo-se ao fato de que alguns documentos foram censurados, aparentemente devido ao temor de que poderiam levar a ações judiciais.

Grande parte do testemunho do apresentador do Newsnight Jeremy Paxman, por exemplo, não pôde ser divulgado. Paxman é conhecido pelo estilo combativo e petulante de entrevistar, e os trechos censurados parecem ter comentários feitos por ele sobre outros funcionários da rede. Na opinião do lorde Alistair McAlpine, ex-tesoureiro do Partido Conservador acusado injustamente de pedofilia em um programa de TV, a emissora não deveria deixar de fora nenhum material. “A BBC não é um serviço secreto, por Deus!”, disparou.

A BBC defende-se. Segundo Tim Davie, diretor-geral interino, “mais de 97% das milhares de páginas foram publicadas”. “Não estamos redigindo ou tirando fora o que é vergonhoso ou desconfortável para a BBC. Simplesmente tiramos material que advogados disseram constituir um risco claro”. Nem ele nem outro funcionário da BBC deram entrevistas sobre o relatório – o que foi criticado pelas emissoras rivais.

Clima de desconfiança

Muito do material foca em quem disse o quê para quem e quando, durante a apuração do Newsnight sobre as acusações contra Savile e durante a decisão subsequente de cancelar a exibição do programa. Mas há também entrevistas genéricas com muitas figuras-chave da rede sobre o que estava errado e como consertar.

O testemunho de lorde Chris Patten, presidente do BBC Trust, é particularmente duro, na medida em que ele descreve o fluxo caótico de informação, a preponderância de funcionários do alto escalão (“a BBC tem mais líderes do que a China”, disse) e a desconfiança geral na rede.

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Inquérito será entregue na semana que vem