Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A pequena ‘start-up’ que enfureceu os executivos de TV

“Quantas pessoas aqui adoram sua empresa de TV a cabo?”. A pergunta foi feita recentemente por Chet Kanojia, diretor-presidente da Aereo, uma start-up de TV pela internet, a um auditório. Apenas um homem levantou a mão – e ele trabalhava justamente para uma empresa de TV a cabo.

Kanojia fundou a Aereo em 2010 para lucrar com o ódio que as pessoas têm das contas de TV a cabo. Por 80 dólares por ano (cerca de 160 reais), sua firma permite que assinantes na cidade de Nova York gravem programas ou assistam ao vivo a transmissões pela internet. Cada assinante da Aereo aluga uma antena do tamanho de uma unha, que a empresa guarda num armazém no Brooklyn.

As empresas de televisão odeiam a Aereo. Ela não paga às redes pelo uso dos canais e permite que as pessoas recebam conteúdo sem pagar por aquela porção de canais de onde as empresas de TV a cabo tiram seus lucros. Emissoras processaram a Aereo por violação de direitos autorais e solicitaram à justiça que o serviço fosse fechado (o que foi recusado, por meio de um recurso, no dia 1º de abril). “A Aereo está roubando o nosso sinal”, queixou-se Chase Carey, presidente da News Corporation, que é proprietária da rede de TV Fox. Carey ameaçou que, se a Aereo continuar a atuar, a Fox poderia transformar-se num canal a cabo e cobrar pela transmissão. Haim Saban, presidente da Univision, emissora em língua espanhola, disse o mesmo.

Por que uma empresa que existe há um ano, com um número não revelado de assinantes, preocupa tanto os magnatas da mídia? Seus adversários veem a empresa de Kanojia como um maldito parasita que debocha da lei de direitos autorais e lucra com a distribuição de conteúdo pelo qual não paga. Os apoiadores destacam que se trata de serviços de transmissão não-codificados [free-to-air networks] e dizem que a Aereo projetou uma tecnologia inteligente e legal para dar a seus clientes o que eles querem: a capacidade de assistir a programas ao vivo e gravar por baixo preço em aparelhos que não são televisores.

Estragando a festa

A Aereo começou a mexer com os preços das ações das grandes empresas de mídia. No dia 1º de abril, após uma ordem judicial de interdição ser recusada, os preços das ações de algumas grandes emissoras, como a CBS, despencaram (embora mais tarde tenham se recuperado um pouco). A preocupação é que a Aereo ameace uma fonte de renda valiosa. As cotas de “retransmissão”, que as operadoras a cabo pagam às redes de transmissão para usar seus canais, entre as quatro grandes redes (ABC, NBC, Fox e CBS) irão representar lucros de 1,3 bilhão de dólares (cerca de R$ 2,6 bilhões) em 2013 e podem chegar a 3,5 bilhões de dólares (R$ 7 bilhões) em 2016, segundo previsão de Benjamin Swinburne, do banco Morgan Stanley.

A Aereo poderia estragar a festa. Quando as redes de transmissão tentaram negociar aumentos de suas cotas no passado, elas ameaçaram as operadoras a cabo – como a Time Warner Cable e a Comcast – com blecautes. As operadoras renderam-se. Mas, se os clientes têm a Aereo, a ameaça de um blecaute é menos grave, segundo Rich Greenfield, analista da BTIG Research, uma vez que as pessoas podem assistir a programas da rede pela internet.

Chet Kanojia, um empresário indiano, vendeu sua empresa anterior, que ajudava a localizar anúncios aos telespectadores, à Microsoft, em 2008, por 250 milhões de dólares (cerca de R$ 500 milhões). Antes de lançar a Aereo, ele sabia que tinha uma briga pela frente. Sua empresa tem um financiamento de 64 milhões de dólares (cerca de R$ 125 milhões) de capital de risco – parte dele, inclusive, de Barry Diller, diretor-presidente da IAC que ajudou a lançar a Fox, ao lado de Rupert Murdoch. Por enquanto, a empresa só opera em Nova York, mas pretende alcançar outras 22 cidades americanas este ano. As redes poderiam processá-la nessas cidades, mas podem preferir esperar que seja ouvido seu caso em Nova York, talvez no ano que vem. Com sorte, talvez nessa época o juiz “nos veja como pró-sociais”, diz Diller.

Na dependência dos tribunais

Ninguém sabe quantas pessoas seriam assinantes da Aereo se tivessem a oportunidade. Atualmente, a empresa só oferece canais transmissores e um canal a cabo (Bloomberg TV). Entretanto, no ano que vem poderia começar a pagar para ter outros canais a cabo e acrescentar mais conteúdo. Kanojia antecipa que há muita demanda de espetáculos ao vivo. Muitos serviços, como Netflix e Hulu, oferecem conteúdo online de programação gravada, mas poucos oferecem noticiário e esporte ao vivo.

A Aereo não é a única força perturbadora que atrai processos. As novas tecnologias permitem às empresas fazer coisas que os legisladores nunca imaginaram. O destino da Aereo irá depender, principalmente, se os tribunais considerarem que suas transmissões constituem programas “privados” ou “públicos” (este último é proibido pela lei de direitos autorais). Aí está uma novela judicial que pode se prolongar indefinidamente.