A guerra do narcotráfico no México, em que os cartéis brigam entre si e com a polícia, já matou mais de 70 mil pessoas nos últimos seis anos. Entre as vítimas estão dezenas de jornalistas. Recentemente, a autora de um blog pioneiro sobre a guerra do tráfico – o Blog del Narco – informou que deixou o país e que o co-autor do site está desaparecido.
A mulher, que usa o pseudônimo “Lucy”, afirmou que seu colega lhe telefonou no começo de maio e disse apenas a palavra “corra”. Depois disso, ele desapareceu e ela fugiu para os EUA e seguiu para a Espanha, em um lugar não revelado. “Estou tentando pensar positivamente, mas estou assustada que algo terrível possa ter acontecido. ‘Corra’ era o nosso código para quando algo muito errado acontecesse. Nunca havíamos usado antes”, desabafou “Lucy”, afirmando que tentou, sem sucesso, se comunicar com o parceiro por meio de email, telefone, Skype e WhatsApp.
O Blog del Narco é uma sensação na internet que conta a história da guerra do tráfico por meio de imagens gráficas e matérias chocantes que a imprensa nacional não ousa divulgar. Até o mês passado, não se sabia sequer se o autor do blog era homem ou mulher, quando “Lucy” resolveu revelar ao Guardian e ao Texas Observer que era uma mulher e que tinha escrito com um colega o livro Muriendo por la Verdad (Morrendo pela Verdade). Apesar da revelação, ela – que é jornalista – continuou a escrever no blog e seu parceiro, um jovem de 27 anos que vive em uma cidade ao norte do país, cuidava da parte técnica.
O maior medo de “Lucy” é ver seu colega em um vídeo do tipo que geralmente era divulgado no seu blog: esgotado ao ser interrogado, com o olhar atento para a câmera, sabendo que um destino terrível o espera. Em alguns destes vídeos, as vítimas são torturadas e decapitadas diante da câmera. O Blog del Narco ajudou a preencher uma lacuna deixada pelas grandes organizações de mídia, que geralmente não podem divulgar tiroteios, sequestros e fechamentos de estradas.
Ao longo do tempo, o blog ganhou múltiplas fontes, incluindo gangues de drogas, e atraiu mais de três milhões de hits por mês. O site fornece boletins, fotos e vídeos de sequestros, tiroteios, execuções e a descoberta de corpos e também de cabeças, membros e torsos. Alguns críticos alegam que ele servia como plataforma para os cartéis, outros reclamam que ele copiava trechos de fontes sem dar crédito. O blog sofreu diversos ciberataques, e o maior risco para quem ajudava na produção de conteúdo era ser identificado e sequestrado, seja por gangues ou por forças do governo acusadas de abuso e corrupção. Em 2011, um casal que colaborou com material foi capturado, torturado e morto. Um sinal próximo aos corpos dizia que o mesmo aconteceria com blogueiros. Dias depois, outro colaborador foi assassinado e ao lado do corpo foram deixados um teclado e um mouse de computador.
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