Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Omissão da imprensa britânica sobre vazamento é inexplicável

Por que a maior parte da imprensa britânica ignorou uma matéria considerada extremamente importante por jornais nos Estados Unidos e na Europa e, por assim dizer, no resto do mundo? Na segunda-feira (17/6), Edward Snowden – o denunciante da Agência de Segurança Nacional que é considerado o homem mais procurado do mundo – atendeu pela internet a uma sessão de perguntas e respostasatravés do jornal The Guardian.

A mídia norte-americana não deixou passar: o Washington Post, naturalmente (veja o comentário aqui), o New York Timese o Los Angeles Times, e ainda o Wall Street Journal (aqui). E a maioria dos jornais metropolitanos também divulgou. Você poderia dizer que se trata de uma matéria importante nos Estados Unidos, uma vez que Snowden é um cidadão norte-americano que vazou segredos do seu país. Mas foi considerada uma matéria importante também na Europa, no francês Le Monde, no Die Zeitalemão e no Expressensueco. E também fora da Europa – aqui, no Times of India, e no South Africa’s Star. E muito mais.

E isso foi apenas na grande mídia. O pingue-pongue de perguntas e respostas foi amplamente discutido e dissecado na internet – veja Salon.com, Buzzfeede Gigaom, além de muitos outros. Também lhe foram dedicados muitos milhares de tweets.

Por que se omitiram?

No entanto, com exceção do jornal The Independent (aqui), nenhum jornal nacional britânico considerou a matéria digna de cobertura.

Por quê? Os valores da informação jornalística dos jornais britânicos são diferentes dos de outros países? Entraria a matéria em conflito com suas agendas políticas? Seria devido a uma hostilidade com o Guardian? Seria uma crença coletiva, entre os veículos de uma imprensa em grande parte de centro-direita, de que o Guardian vá além dos limites? Essa opinião aparece num texto de Stephen Glover no Daily Mail, no qual ele diz que o jornal se deixa “levar por suas obsessões”, tais como “revelar negligentemente segredos importantes do governo britânico”.

O Mail levanta a bandeira da liberdade de imprensa quando cita o direito público a ter acesso à vida privada de Hugh Grant, mas parece achar inaceitável um jornal informar as pessoas que sua privacidade foi comprometida por seu próprio governo. Mesmo as revelações que Snowden fez ao Guardian – de que agentes da inteligência britânica espionaram delegadosde duas reuniões de cúpula do G2 – passaram pelos radares da maioria dos editores, embora o Timestenha coberto o assunto. No entanto, a maioria dos jornais nem se tocou.

Sinceramente, não compreendo por que jornais que tanto falam na independência em relação ao Estado falharam tão grosseiramente nesta questão. Por que se omitiram?

******

Roy Greenslade é professor de Jornalismo na Universidade de Londres e comentarista de mídia