Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Imprensa é criticada, mas mantém percepção de órgão vigilante

As avaliações públicas do desempenho das organizações de mídia em questões-chave como exatidão, imparcialidade e independência continuam ruins. Mas há um ponto brilhante entre essas posições deprimentes: amplas maiorias continuam dizendo que a imprensa atua como um cão de guarda, impedindo líderes políticos de fazer coisas que não deveriam ser feitas, uma opinião amplamente defendida agora, como nas últimas três décadas.

Na esteira das revelações das atividades governamentais, incluindo o programa de vigilância da Agência de Segurança Nacional e a tomada como alvo de grupos políticos por parte da Receita Federal [nos EUA], quase sete em cada dez pessoas (68%) dizem que a crítica da imprensa impede os líderes de fazer seu trabalho. O apoio ao papel de cão de guarda da mídia subiu dez pontos desde 2011, ainda que outras posições da imprensa tenham mostrado poucos sinais de melhoria.

Maiorias quase equivalentes de republicanos (69%), independentes (69%) e democratas (67%) avaliam as organizações jornalísticas como uma investigação dos líderes políticos e ocorreu uma significativa ascensão nessa opinião em quase todos os grupos demográficos e políticos. Os jovens, em particular, tornaram-se mais passíveis de dizer que as organizações jornalísticas impedem os líderes políticos de fazer coisas que não deveriam ser feitas, uma guinada de opinião que ocorre simultaneamente a um aumento nas preocupações com as liberdades civis.

Afora seu papel como cão de guarda, a imprensa recebe avaliações amplamente negativas por parte do público no que se refere ao desempenho. Dois terços (67%) dizem que os noticiários são frequentemente incorretos e percentagens ainda maiores dizem que as organizações jornalísticas tendem a favorecer um lado (76%) e são muitas vezes influenciadas por pessoas e organizações poderosas (75%). As posições ocupadas pelas organizações jornalísticas decresceram continuamente desde que o Centro de Pequisas Pew começou a levantar dados, em 1985, e muitas das atuais posições situam-se perto dos piores números, registrados em 2011.

A pesquisa sobre mídia do Centro Pew, efetuada de 17 a 21 de julho de 2013 entre 1.480 adultos, registrou que atualmente 50% do público cita a internet como fonte principal para o noticiário nacional e internacional, quando em 2011 era de 43%. A televisão continua sendo a principal fonte para as notícias (69%). Um número bem menor cita os jornais (28%) ou o rádio (23%) como fonte principal. (As pessoas que responderam ao questionário podiam citar até duas fontes.)

O atual panorama da mídia é decididamente diferente daquele de 2001, quando 45% dos entrevistados disseram que os jornais eram a principal fonte para as notícias e apenas 13% citaram a internet. O percentual referente à televisão como fonte de notícias mudou pouco durante o mesmo período de tempo.

Em termos dos atuais noticiários, uma pequena maioria (54%) diz que os jornalistas são mais importantes que no passado porque ajudam a fazer algum sentido em toda a informação disponível, enquanto 38% dizem que os jornalista são menos importantes porque as pessoas podem ter acesso à informação sem sua ajuda.

Os jovens com menos de 30 anos, assim como os mais idosos, dizem que atualmente os jornalistas são mais importantes porque ajudam a dar sentido às notícias e informações. E, nesta questão, a diferença de opiniões é pequena entre as principais fontes de informação. A maioria dos que citam a televisão (59%), o rádio (56%), os jornais (55%) ou a internet (51%) como principal fonte de informação concorda que os jornalistas são mais importantes que no passado para ajudá-los a fazer sentido das notícias e informações disponíveis.

Embora a maioria diga que os jornalistas desempenham um papel importante ao ajudar as pessoas a navegar pelas notícias, sua contribuição para a sociedade em geral é vista como muito menos significativa – principalmente quando comparados com outros profissionais. Uma outra pesquisa recente do Centro Pew registrou que 28% dizem que os jornalistas contribuem “muito” para o bem-estar da sociedade, quando em 2009 esse número era 38%. O público dá maior reconhecimento às contribuições dos militares (78%), dos professores (72%) e dos médicos (66%).

A imprensa como cão de guarda

Por mais de três para um, o público acha que a crítica das organizações jornalísticas impede os líderes políticos de fazerem coisas que não deveriam ser feitas (68%), ao invés de impedir que façam seus trabalhos (21%). Além disso, o número de pessoas que dizem que as organizações jornalísticas protegem a democracia é maior (48%) do que aquele das que acham que a prejudica (35%). Em 2011, o público estava dividido: o número dos que achavam que a imprensa protegia a democracia era igual ao dos que achavam que a prejudicava (42%-42%) e um número 10% inferior de cidadãos norte-americanos via a imprensa como um cão de guarda eficiente.

O aumento em relação ao papel da imprensa como cão de guarda foi registrado em quase todos os grupos demográficos. Os jovens, em particular, tornaram-se muito mais passíveis de dizer que a imprensa impede o mau comportamento dos líderes políticos. Em 2011, apenas uma pequena maioria (56%) daqueles com idade entre 18 e 29 anos disse que a imprensa impedia os líderes políticos de fazerem coisas que não deveriam ser feitas; hoje, três quartos dos entrevistados (75%) dizem isso.

Os republicanos, os democratas e os independentes ficaram 10% mais próximos a considerar a imprensa um cão de guarda eficiente. Maiorias quase idênticas de republicanos (69%), independentes (69%) e democratas (67%) dizem que a crítica que as organizações jornalísticas fazem dos líderes políticos impede que eles façam coisas que não deveriam ser feitas.

Opinião crítica

Embora o público dê credibilidade às organizações jornalísticas por seu papel de cães de guarda, também fazem uma avaliação negativa de alguns dos principais aspectos da missão da imprensa. Maiorias esmagadoras manifestam dúvidas sobre a independência das organizações jornalísticas: 76% dizem que elas tendem a favorecer um lado e 75% dizem que são frequentemente influenciadas por pessoas e organizações poderosas.

Nas questões fundamentais de exatidão e transparência, a maioria diz que a imprensa tenta esconder seus erros (71%), ao invés de reconhecê-los (20%), e 67% dizem que as histórias das matérias são frequentemente incorretas, enquanto para apenas 26% as organizações jornalísticas apuram os fatos corretamente. A maioria dos cidadãos norte-americanos descreve as organizações jornalísticas como politicamente tendenciosas em suas reportagens; apenas 30% acreditam que elas se preocupam que suas reportagens não sejam tendenciosas.

Os números não são melhores para a avaliação das matérias jornalísticas. No que se refere a determinar quais as notícias apropriadas para reportagens, um número muito maior de pessoas diz que as organizações jornalísticas priorizam matérias sem importância (65%), e não as mais relevantes (28%). Os números em relação à imprensa pioraram muito desde que o Centro Pew começou suas pesquisas, em 1985. A maioria das posições da imprensa avaliadas nesta pesquisa é igual, ou quase igual, às piores já registradas, em 2011. Em muitos casos, a queda de posições foi dramática. Em 1985, por exemplo, um número maior de pessoas achava que as organizações jornalísticas apuravam os fatos corretamente (55%), enquanto as que diziam que a apuração muitas vezes era incorreta era de 44%. Desde então, verificou-se uma queda de 29 pontos percentuais no número de pessoas que dizem que a imprensa apura os fatos corretamente.

Um dado positivo é que o público mantém o respeito pelo profissionalismo das organizações jornalísticas. Dois terços (67%) dizem que as organizações jornalísticas preocupam-se com a qualidade do trabalho que fazem, enquanto apenas 26% discordam. Além disso, uma margem de 60% a 29% vê as organizações jornalísticas como altamente profissionais.

Divisão partidária na avaliação da imprensa

Assim como em pesquisas sobre mídia anteriores, os republicanos fazem um balanço mais negativo das organizações jornalísticas do que os democratas, registrando uma avaliação crítica de oito das 11 medidas testadas.

Uma área fundamental de discordância partidária é quanto ao papel que a imprensa desempenha numa democracia. Entre os democratas, um número muito maior (59%) acha que a imprensa protege a democracia, e não que a prejudica (27%). Os republicanos, por seu lado, dizem que as organizações jornalísticas prejudicam (46%) e ajudam (43%) a democracia. Uma ampla maioria de democratas (74%) descreve as organizações jornalísticas como altamente profissionais, enquanto os republicanos estão divididos nessa questão – 50% acham que são profissionais e 41% acham que não.

Em vários outros aspectos, republicanos e democratas fazem uma avaliação negativa da imprensa e apenas diferem quanto à magnitude de suas críticas. Por exemplo, um número de republicanos 16 pontos percentuais maior que o dos democratas diz que as histórias das matérias são frequentemente incorretas, mas essa opinião é compartilhada por uma maioria em ambos os partidos (75% dos republicanos e 59% dos democratas). Do mesmo modo, 73% dos republicanos dizem que as organizações jornalísticas gastam demasiado tempo com matérias sem importância, no que um número menor de democratas (57%) concorda.

Experiência e desafios dos jornalistas

Entre as opiniões amplamente negativas das organizações jornalísticas em geral, o público tem algumas coisas positivas a dizer sobre os próprios jornalistas.

Quase oito em cada 10 pessoas (79%) dizem que é necessário um talento especial e experiência para ser um jornalista, enquanto apenas 19% discordam. Além disso, 65% dizem que atualmente o trabalho do jornalista é mais difícil do que era antes, enquanto 28% dizem que é mais fácil.

Essas opiniões são amplamente compartilhadas nos grupos demográficos. Maiorias comparáveis de republicanos e democratas dizem que é necessário um talento especial para ser jornalista (79% e 82%, respectivamente) e que o jornalismo é hoje mais difícil do que era antes (68% e 70%).

Maioria vê organizações em termos ideológicos

No geral, cerca de sete em cada 10 pessoas (72%) vê as organizações jornalísticas em termos ideológicos. Uma pluralidade de 46% diz que a melhor maneira de descrever as organizações é como liberais, enquanto 26% dizem que são conservadoras. Apenas 19% dizem que as organizações jornalísticas não devem ser descritas como liberais ou conservadoras. A mudança de opinião nesta questão foi pouca nos últimos anos, com uma pluralidade descrevendo continuamente as organizações jornalísticas como liberais e cerca de 25% dizendo que são conservadoras.

A divisão partidária quanto à percepção ideológica das organizações jornalísticas nada tem de surpreendente. Por uma margem de 65% a 17%, mais republicanos veem as organizações jornalísticas como liberais do que como conservadoras. Os democratas, por seu lado, estão divididos: um número quase igual considera a imprensa liberal (36%) ou conservadora (37%). Por uma margem de 47% a 23%, mais independentes dizem que a melhor descrição para as organizações jornalísticas é liberal, e não conservadora. Existe uma modesta diferença de opinião a este respeito dentro do Partido Republicano: 78% dos republicanos, e simpatizantes republicanos, que concordam com o movimento Tea Party descrevem as organizações jornalísticas como liberais, em comparação aos 56% de republicanos que não concordam com o Tea Party.

Consumidores online e offline

Aqueles que citam a internet como principal fonte de notícias têm uma visão mais crítica da imprensa em vários aspectos do que aqueles que não buscam informação online. Os que usam a internet como principal fonte de informação avaliam as organizações jornalísticas como politicamente parciais (65%, contra 26%). Por outro lado, os que não acessam a internet por notícias estão muito mais divididos: 46% dizem que a imprensa é politicamente parcial e 36% discordam. Para uma maioria de 18 pontos percentuais das pessoas que obtêm a maioria das notícias pela internet, a imprensa gasta demasiado tempo com matérias sem importância. Os usuários de internet também têm uma maioria de 17 pontos percentuais ao dizer que as organizações jornalísticas são frequentemente influenciadas por pessoas poderosas, e uma vantagem de 16 pontos percentuais ao dizer que a imprensa tende a favorecer um lado.

Uma exceção a esse padrão é a questão da transparência da imprensa: 78% das pessoas que não usam a internet para informação dizem que a imprensa tenta esconder seus erros. Os que usam a internet como principal fonte de notícias têm uma opinião 10 pontos percentuais menos crítica sobre o assunto (68%).

Menores de 50 anos

Atualmente, a internet é a principal fonte de notícias nacionais e internacionais para as pessoas com menos de 50 anos de idade. No geral, 71% daqueles que têm idade entre 18 e 29 anos citam a internet como principal fonte de informação, um percentual maior do que o dos que citam a televisão (55%). Na faixa entre 30 e 49 anos, 63% dizem que a internet é onde obtêm a maioria das notícias, um aumento de 13 pontos percentuais em relação a 2011 e, pela primeira vez, o percentual desse grupo que cita a internet é equivalente ao percentual que cita a televisão como principal fonte de notícias. (As pessoas entrevistadas podiam citar até duas fontes.)