Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Governo lança campanha para controlar microblogs

Preocupado com a opinião pública, o governo chinês está investindo – com propaganda e força policial – contra o que chama de boataria online. Desde o mês passado, já foram anunciadas detenções de centenas de usuários de microblogs, sites semelhantes ao Twitter, sob a acusação de espalhar rumores falsos e politicamente prejudiciais. Por semanas, uma enxurrada de comentários na mídia estatal avisou personalidades online populares a tomar cuidado com suas palavras.

Uma das personalidades mais populares, Charles Xue, investidor americano de origem chinesa que escreve com o nome Xuw Manzi, foi preso em agosto por fazer sexo com uma prostituta. Ele foi ostentado para as câmeras de televisão com suas roupas penitenciárias. “Personalidade online Xue Manzi é deposto de seu altar sagrado”, reportou a agência de notícias estatal Xinhua.

Autoridades descrevem sua campanha como uma cirurgia urgente para drenar mentiras tóxicas da internet. Mas críticos dizem que isso é um pretexto para controlar o conteúdo divulgado em microblogs, seja ele honesto ou não. Com mais de 500 milhões de contas registradas, o site Sina Weibo se transformou em um rouco fórum, instantaneamente espalhando notícias e pontos de vista em mensagens breves que podem passar em segredo pelos censores.

“Nós só estamos vendo o começo desta campanha”, disse Xiao Qiang, professor da Universidade da Califórnia e especialista em internet chinesa. “E desta vez eles serão bem mais duros e seus alvos estarão entre as pessoas mais influentes da esfera pública do país”, disse.

A campanha faz parte dos esforços do presidente Xi Jinping para desfazer o avanço de ideias liberais que desafiam o poder do Partido Comunista. Por enquanto, Xue está entre os maiores troféus desta campanha. Canais de televisão chineses filmaram sua prisão e transmitiram sua confissão. Xue possui mais de 12 milhões de fãs em seu perfil. Muitos dos seus seguidores acreditam que a polícia estimulou o ultraje público por causa de suas críticas às autoridades.

Plataforma poderosa

A ascensão dos microblogs deu aos comentaristas proeminentes uma poderosa e potencialmente lucrativa plataforma. O Sina Weibo lista 347 usuários com mais de cinco milhões de fãs cada. Cada um dos cinco maiores usuários possui mais de 50 milhões de seguidores.

A atenção de um desses usuários pode transformar um assunto obscuro, como uma disputa de terras, em tema de discussão nacional. Os tons dos comentários variam entre o repúdio claro e a ironia alusiva, em uma tentativa de passar pelos censores. “Alguns usuários já se tornaram mais influentes do que órgãos da mídia estatal”, ressalta Bill Bishope, que publica um boletim de notícias sobre a internet chinesa.

As autoridades chinesas dizem que as perseguições são voltadas a usuários que criam contas zumbis para espalhar spam ou propagandas prejudiciais a políticos e a empresários. A polícia anunciou a prisão de centenas de pessoas acusadas de espalhar boatos online, dentre eles um adolescente de 16 anos detido por culpar policiais pela morte de um homem.

Mas essas acusações também possuem um propósito político. Muitos boatos tidos como falsos nasceram de pecados de autoridades, como corrupção e escapadas sexuais. “No Weibo, a China aparece como um país maligno”, diz Wang Wen, pesquisador universitário que defende um maior controle sobre esses sites. “Está seriamente afetando a estabilidade social e a governança política”. Já na opinião de Hao Qun, novelista popular no Weibo, a campanha pretende desfazer redes de pessoas da mesma mentalidade cujas ideias podem desafiar o Partido Comunista.

A suprema corte do país e o ministério público emitiram orientações para definir e punir rumores online. As regras dão alguma proteção para cidadãos que acusam autoridades de corrupção, mas também dizem que uma mensagem caluniosa compartilhada mais de 500 vezes ou lida mais que cinco mil vezes pode levar a até três anos de prisão.

“Não acho que essas táticas de intimidação vão funcionar”, afirma Hung Huang, editor de revista com milhões de seguidores no Weibo. “As pessoas vão se calar por um mês e depois voltar. Talvez não as mesmas pessoas, mas outros grupos”.