Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

WikiLeaks considera filme sobre Assange ‘irresponsável e danoso’

O website WikiLeaks vazou uma versão “amadurecida” do roteiro do filme sobre Julian Assange, O quinto poder (The fifth estate, no original em inglês), acompanhado de um memorando que classifica o longa como “irresponsável, contraprodutivo e danoso”.

O site descreve o filme de Bill Condon, que traz o ator Benedict Cumberbatch como Julian Assange, como “uma obra de ficção disfarçada de realidade”. “A maior parte dos acontecimentos retratados nunca ocorreu, ou as pessoas que aparecem não estavam envolvidas neles”, acrescenta.

A resposta de quatro mil palavras ao filme de Condon também tem como objetivo criticar o que a entidade sem fins lucrativos considera ser o argumento principal do filme: o de que a publicação de documentos confidenciais do Departamento de Estado dos EUA em 2010 pôs em risco a vida de mais de dois mil informantes por todo o mundo. O memorando também subestima a importância de Daniel Domscheit-Berg, que o filme sugere ter sido o braço direito de Assange, além de buscar desmistificar as alegações de que o fundador da organização tinja os cabelos de branco.

Herói ou traidor?

Logo após publicar o roteiro vazado, a entidade postou a seguinte mensagem no Twitter: “Como o WikiLeaks não foi consultado a respeito do filme da Dreamworks/Disney sobre nós, resolvemos oferecer nossa opinião gratuitamente: é ruim.”

Assange tem falado abertamente de suas divergências com o filme, que ele descreve como um “enorme ataque propagandista” a sua organização e a ele próprio. O fundador do website ilustra esta alegação através de uma segunda mensagem postada no Twitter que exibe um poster de divulgação rotulando Assange de “traidor”. (Uma outra usuária do Twitter ressalta, no entanto, que a publicidade completa do longa traz cartazes com as palavras “traidor” e “herói”.)

O filme é baseado em livros de antigos colaboradores com quem o australiano se desentendeu: o ativista tecnológico alemão Daniel Domscheit-Berg e os jornalistas do diário britânico The Guardian Luke Harding e David Leigh.

Condon alega que seu filme espera “explorar as complexidades e desafios da transparência na era da informação e […] estimular e enriquecer os debates já iniciados pelo WikiLeaks”. Porém, o memorando alerta: “Este filme não emerge em um vácuo histórico, mas ocorre dentro de um contexto de contínuos esforços para incriminar o WikiLeaks e Julian Assange por terem exposto as atividades do Pentágono e do Departamento de Estado norte-americano.”

Versões do roteiro

O editor-chefe do website permanece refugiado na embaixada do Equador em Londres, que concedeu asilo político a ele em junho do ano passado, para evitar extradição para a Suécia, onde responderia a acusações por crimes de natureza sexual.

O ativista político rompeu com o Guardian e outros veículos colaboradores em setembro de 2011 após publicar todos os 251 mil telegramas diplomáticos americanos sem qualquer edição, em uma manobra que seus críticos alegam que poderia ter exposto milhares de indivíduos citados nos documentos a detenções, ferimentos e risco de vida. As considerações do website sobre O quinto poder, no entanto, citam a entrevista de Cumberbatch para o Guardian, onde ele revela ter tido receio de que o filme retrataria Assange como um “vilão de histórias em quadrinhos”. O ator britânico declarou durante a entrevista: “Acho que a Disney vai querer arrancar minha cabeça por dizer isso, mas todos concordaram”, porém não há dúvida de que esses comentários se referem a uma das versões iniciais do roteiro.

O WikiLeaks disse ter diversas versões do roteiro, incluindo uma “versão amadurecida, obtida durante as filmagens em 2013”, que é a variante que foi publicada integralmente. A revista americana Vanity Fair teve acesso à primeira exibição do filme no Festival de Toronto e confirmou, ao contrário do que declaram Cumberbatch e Condon, que Assange tem em mãos uma versão bem próxima do resultado final.

O quinto poder, também estrelado por Daniel Bruhl, Laura Linney e Stanley Tucci, será lançado em 11 de outubro no Reino Unido, uma semana depois nos EUA e no dia 7 de novembro na Austrália. No Brasil, o filme estreia no dia 25 de outubro.

Veja o trailer do longa: