Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A falsa equivalência e a simplificação da cobertura nos EUA

A paralisação dos serviços públicos nos EUA desde o primeiro dia de outubro, depois que congressistas republicanos e democratas não chegaram a um acordo sobre a definição do orçamento do novo ano fiscal, dominou a pauta da mídia americana na semana passada. Muitos veículos, na tentativa de manter uma postura neutra, colocaram a responsabilidade nos dois partidos e tentaram encontrar equivalências entre republicanos e democratas.

Dan Froomkin, da al-Jazira America, analisou a situação da falsa simetria: “A aversão dos meios de comunicação políticos a fazer qualquer coisa que possa ser vista como tomar partido – combinada com sua obsessão com o processo – os levou a obscurecer a verdade na cobertura”. Para Jay Rosen, da NYU, “com a crítica de ‘falsa equivalência’ agora fazendo parte da vida diária do jornalista e a ascensão do ponto de vista de comunicação para o estado online normal, o artifício é mais frágil do que nunca”.

A própria cobertura foi tema de cobertura. David Folkenflik, da NPR, conversou com jornalistas para saber como estão lidando com o problema da falsa equivalência. Kelly McBride, do Instituto Poynter, abordou o assunto de uma perspectiva ética, alegando que jornalistas têm a obrigação de usar uma linguagem o mais clara possível para descrever ações políticas e reiterou a recomendação do fundador do PolitiFact, Bill Adair, de usar especificidade para deter a falsa equivalência. A Columbia Journalism Review pediu a jornalistas para superarem a retórica bipartidária ao cobrir a paralisação em um nível local.

Cobertura parcial

A emissora conservadora Fox News, por sua vez, reproduziu o que o Partido Republicano dizia e queria, mesmo quando se tratava de afirmações bizarras e sem nexo. Com isso, os republicanos acabaram não se dando ao trabalho de construir um argumento coerente. Mesmo sabendo que estavam em uma posição ruim com o público, com pesquisas indicando uma queda de popularidade, políticos republicanos sabiam que podiam contar com os apresentadores dos talk shows alinhados a eles.

Os republicanos querem que qualquer acordo que seja feito inclua o adiamento da obrigatoriedade de que todos os americanos tenham um plano de saúde a partir do ano que vem, como prevê a reforma do setor aprovada pelo Congresso em 2010. O impacto do fechamento do governo está sendo sentido não apenas na economia, mas também no jornalismo. Alguns sites que são cruciais para a obtenção de dados, como o do censo, estão fora do ar. Por sua vez, programas do governo exibidos no exterior, como Voz da América, continuam em funcionamento.

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