Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Sobre a importância do jornalismo investigativo sem fins lucrativos

A organização de notícias investigativas sem fins lucrativos ProPublica publicou recentemente uma grande série sobre os perigos do princípio ativo do Tylenol, o paracetamol. Há muito tempo, o marketing do remédio enfatiza sua segurança, mas os anúncios que alegavam que o Tylenol era o remédio para alívio de dores mais usado em hospitais, por exemplo, mostraram-se perigosamente enganadores. E tanto a empresa farmacêutica que o produz quanto a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) sabiam desses riscos.

Foram necessários dois anos para escrever as reportagens, que reforçam o papel essencial do jornalismo investigativo em fornecer informação pública que pode literalmente salvar vidas. Para ajudar a disseminar as revelações sobre os perigos do remédio, a rádio pública This American Life também divulgou as informações sobre o Tylenol. Durante a última década, mais de 1,5 mil americanos morreram depois de tomar em excesso um remédio conhecido justamente por ser seguro. A FDA sabia, há décadas, da escala do problema, mas falhou em implementar recomendações e alertas.

Desde sua fundação, em 2007, o trabalho da ProPublica com jornalismo investigativo estabeleceu um padrão notável de qualidade sobre uma variedade de temas. A operação da agência é impressionante, tendo em vista que a equipe é de 40 pesssoas – dos quais apenas 23 são repórteres. Hoje, a organização é reconhecida como líder no campo de reportagens investigativas, divulgadas no seu site e aplicativos, como também nos de parceiros de mídia.

Como sobreviver em um momento de crise

A vitalidade de organizações sem fins lucrativos é um trunfo importante nesse momento da indústria jornalística. Em setembro, o Pew Research Center e a Knight Foundation realizaram uma conferência com representantes de sites e seus fundadores, como as fundações Bill and Melinda Gates e MacArthur, para avaliar como as organizações sem fins lucrativos estão se saindo e o que pode ser feito para aumentar o apoio em filantropia, indivíduos e patrocinadores. Em junho, segundo um estudo do Pew, havia 174 sites de notícias sem fins lucrativos nos EUA, desde organizações conhecidas nacionalmente, como ProPublica, Center for Public Integrity e Center for Investigative Reporting, a sites regionais como Texas Tribune e MinnPost.

Com a qualidade das matérias ganhando respeito e prêmios, incluindo o Pulitzer, inevitavelmente o foco está em conseguir recursos para os sites se manterem. No começo, a ProPublica recebia quase a totalidade de seus US$ 30 milhões do casal de empresários Herbert e Marion Sandler, conhecido por suas ações filantrópicas. No ano passado, a contribuição da família representava 38% do orçamento anual, sendo complementada por doações de indivíduos e fundações.

A manutenção da qualidade do trabalho jornalístico custa caro: para a produção da série sobre os riscos do paracetamol foram gastos US$ 750 mil, estimados de maneira conservadora pelo presidente da ProPublica, Richard Tofel, sem considerar os custos das matérias na This American Life.

Pode parecer uma quantia excessiva, diz ele, mas não tem preço se for considerado que a informação pode salvar a vida de um parente ou amigo querido. É preciso que se encontrem meios para financiar reportagens dessa magnitude, defende o jornalista e editor de livros Peter Osnos em artigo na revista The Atlantic. Além das maneiras previsíveis, como o apoio de fundações, conferências patrocinadas e doações, uma alternativa sugerida por Steven Waldman, autor de um estudo de 2011 da Comissão Federal de Comunicações sobre a era da banda larga nas notícias, deve ser levada em consideração. Waldman acredita que as empresas de tecnologia que cresceram em escala e receita a um grau considerável de distribuição de notícias, como Apple, Google, Verizon e AT&T, devem a essas organizações sem fins lucrativos uma parte de seus recursos para mantê-las em funcionamento.

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