Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Guia indica termos neutros para cobertura sensível

O International Press Institute publicou um guia para jornalistas que cobrem o conflito entre israelenses e palestinos. Intitulado Use With Care [Use com cuidado], ele apresenta termos de descrição neutros e dicas sobre os que não devem ser usados porque podem ofender um dos lados do conflito. O objetivo é que repórteres e editores consigam, ao compreender por que certos termos devem ser evitados, fazer uma cobertura equilibrada.

Entre os verbetes encontrados no guia estão, por exemplo, “terrorista” e “mártir”; há também explicações sobre o uso desnecessário de adjetivos, como em “civis inocentes” ou “manifestação pacífica”; e recomendações sobre o uso de termos geográficos, como Cisjordânia e Jerusalém Leste, em vez de “Judeia e Samaria” e “capital eterna do povo palestino”. O livro indica que “Israel” não deve ser chamado de “entidade sionista” e “estado judaico”. Entende-se que o primeiro termo rejeita a ideia de Estado, e o segundo ignora a história árabe anterior ao Estado de Israel e sugere que israelenses não-judeus não são parte completa do Estado.

Armadilhas

Os autores afirmam que o guia – redigido com a ajuda de seis veteranos de mídia palestinos e israelenses que se mantiveram anônimos – não tem a pretensão de apagar convicções éticas, mas busca listar armadilhas linguísticas que podem ofender ou irritar determinadas audiências. “Palavras são um tema delicado na cobertura diária pela mídia palestina e israelense. Expressões que são consideradas incitamentos em Israel podem ser vistas como patrióticas no lado palestino, e vice versa”, afirmou a organização em defesa da liberdade de imprensa, que tem sede em Viena.

Apesar das boas intenções, no entanto, o livro deve encontrar resistência nas redações. Um artigo em um site pró-palestino até elogiou a coragem da iniciativa, mas argumentou: “Não precisamos de jornalismo ‘objetivo’ (sejá lá o que for isso), mas de jornalismo onde a pauta não seja oculta”. O jornalista Anshel Pfeffer, do jornal israelense Haaretz, foi mais duro: afirmou que se trata de um “glossário inútil”. “Alguém realmente acredita que jornalistas dos dois lados serão convencidos da necessidade de adoção de termos de referência mais imparciais e neutros?”, questionou ele.