Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Organogramas ganham cargos e funções remodelados

Os organogramas das redações sofreram, no últimos anos, alterações significativas por conta das mudanças na economia, nos hábitos dos consumidores, na tecnologia e na colisão entre as mídias tradicionais com as novas plataformas de conteúdo. Antes, era fácil encontrar cargos e responsabilidades divididos de maneira ordenada, em categorias simples e bastante definidas: editor, repórter, revisor, gerente de vendas. Hoje, as pressões da economia e do mercado resultaram em demissões e na reinvenção de papéis e responsabilidades tradicionais.

Há uma década, não havia , em um jornal, postos como os de “jornalista de infográficos”, “gerente de análise de dados” e “diretor de desenvolvimento de audiência”. Os novos cargos são reflexo de como as organizações estão evoluindo.

A relevância dos cargos também é algo que mudou com o tempo. Por exemplo, o posto de “produtor” estava fora das redações há 10 ou 15 anos, mas hoje é alguém que essencialmente cria uma matéria, qualquer que seja a mídia, explica Caroline Little, presidente e CEO da Associação de Jornais dos EUA. “Temos muito mais cargos do que no passado”, diz ela. Caroline avalia que habilidades com gráficos visuais serão de grande importância nos próximos anos. “O espaço online não é limitado, então há a possibilidade de ser mais visual”.

Segundo Melissa Nelson, diretora de negociação coletiva do Newspaper Guild-Communications Workers of America, sindicato de profissionais que trabalham em jornais, hoje a estética desempenha um papel fundamental para o desenvolvimento dos jornais: “Você tem que ter um olho para a edição, e não apenas com palavras, mas com o design, porque os sites são visuais”.

Demissões e mais trabalho

No entanto, nem todas as notícias sobre mudanças nas descrições de cargos são otimistas. Houve muita demissão na última década, o que deixou as redações mais enxutas. Geralmente, aqueles que ficam recebem mais trabalho, muitas vezes assumindo novas responsabilidades. A indústria de jornais pode aprender algumas lições com seus colegas de revistas. Em matéria na Forbes, Jeff Bercovici afirma que a New Republic transformou seus repórteres em “jornalistas canivetes suíço”, esperando até mesmo que eles conquistem novos assinantes.

Já Norman Pearlstine, da Time Inc, deixou várias pessoas perplexas ao desmantelar a delimitação “Igreja e Estado” entre editorial e negócios, citando a necessidade de uma maior cooperação entre os dois campos. Melissa usa o termo “jornalismo mochila” para descrever um fenômeno que vem ganhando força há mais de uma década: repórteres, fotógrafos e editores de texto viram uma coisa só, sob o título de “jornalista”.

Em novembro, Kristen Hare, do Instituto Poynter, informou que o jornal The Atlanta Journal Constitution ia passar a chamar seus fotógrafos de “jornalistas visuais multimídia”, após algumas demissões. À primeira vista, isso parece ter sido um código para “estamos demitindo funcionários para depois pedir aos que ficaram para fazer muito mais”. No entanto, pode ser também uma mensagem alertando que se espera que não só fotógrafos adaptem-se dessa forma, mas toda a indústria. “Essa transição permite que concentremos nosso pessoal e recursos visuais sobre as coisas que mais importam para plataformas digitais e impressas do Atlanta Journal Constitution e envolvamos nosso público através de mídias sociais, aplicativos e outros produtos que podem vir junto”, esclareu a chefe de redação, Monica Richardson.

O impacto da automatização

Curiosamente, ao longo dos anos, vários cargos expandiram-se ou foram criados, mas nenhum foi extinto. “Parece que há muito menos revisores do que antes”, observa Caroline, presidente e CEO da Associação de Jornais dos EUA. “Isso pode ser o resultado do computador e não da internet.” É verdade que o software fez com que o processo de elaboração de uma boa matéria ficasse muito mais fácil do que costumava ser, com erros ortográficos e conflitos gramaticais destacados diretamente na concepção do texto.

Nos bastidores doLos Angeles Times, gurus de banco de dados estão trabalhando com editores para desenvolver algoritmos para automatizar algumas matérias como as de relatos de crime e terremotos, informou o repórter da Mashable Seth Fiegerman. Automatizar não apenas a entrega, mas a criação real de matérias permitirá que jornais cubram mais assuntos com menos recursos. Melissa garantiu que, ainda assim, há habilidades que não serão substituídas. “A edição precisa ser feitas. Fotos ainda precisam ser tiradas”, avalia.

Novos cargos

As mídias sociais também estão influenciando o modo como os jornais e suas equipes estão sendo remodelados. “Gerente de comunidades” é um dos sete cargos de mídia citados por Jasper Jackson no site The Media Briefing. “Essa não é apenas a pessoa que comenta, modera ou administra uma página no Facebook, embora seja uma atividade importante, dado o campo minado que representa”, disse Jackson. “É sobre como moldar a forma como as pessoas interagem com o seu conteúdo e incentivar o público a voltar, ficar mais tempo, e fazer mais.” Gerentes de produto, líderes de estratégia digital e de publicidade digital, especialistas em e-commerce, negociadores de parcerias, e os diretores de escuta – encarregados de criar duas vias de diálogo com o público – também terão demanda, prevê Jackson.

Jornais deveriam ficar de olho no que está acontecendo em outros tipos de publicação e no marketing, onde a palavra “dados” tem aparecido muito em conversas, em reuniões de estratégia e em novas contratações, como a de “diretor de estratégia de dados” (CDOs). Em agosto, a revista Advertising Age informou que a agência de publicidade Ogilvy & Mather tinha acabado de contratar Todd Cull para esse papel dentro de sua organização, e que grandes empresas como Citi e Bank of America, e até mesmo “municípios inovadores como Filadélfia” têm CDOs. “Se eu fosse começar uma redação hoje, acho que gostaria de ter alguém capaz de utilizar o que está disponível, seja fotos, ilustrações, vídeo e áudio, a palavra escrita, e ser capaz de trabalhar usando tudo isso”, opina Caroline.