Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Novo site do ‘NYT’ foca em design interativo e publicidade nativa

O apelido do New York Times é The Gray Lady, algo como “A senhora grisalha”. Talvez por isso a mais recente remodelação apresentada, na semana passada (8/1), pelo site do tradicional jornalão americano fundado em 1851 tenha chamado a atenção da imprensa. A última vez que o diário reformulou integralmente sua versão online foi em 2006, quando o iPhone ainda não estava no mercado e o iPad nem pensava em nascer. Ou seja, em sete anos, muito mudou no mundo da tecnologia e na noção de consumo de informação.

O novo site foi concebido tendo o público de aparelhos móveis em mente, agora que cerca de um terço de seu tráfego vem de usuários de smartphones e tablets. “Era importante criarmos um layout interativo, que melhora a apresentação de nosso conteúdo dos desktops maiores até os tablets”, diz Denise Warren, vice-presidente executiva de serviços e produtos digitais do Times.

O planejamento inicial para a reformulação começou em 2011 e envolveu um processo de colaboração entre os vários departamentos do jornal. Segundo Denise, as novidades no design são óbvias para os visitantes. “Remodelamos nossas páginas de artigos e reestilizamos nossa homepage e seções principais a fim de oferecer uma experiência mais atraente e um layout mais limpo ao usuário”, afirma ela.

Ao mesmo tempo, a New York Times Company se preocupou em tentar não afastar os leitores mais fiéis – aqueles que odeiam mudanças. Por isso, o novo design vinha sendo testado internamente há algum tempo e foi sendo ajustado ao longo do caminho. “Reconstruir toda a infraestrutura de um site, que é tão bem-sucedida e tão grande como a nossa, é como mexer no motor enquanto se pilota um avião, por isso queríamos fazê-lo com muito cuidado”, justifica Denise.

“Estamos concentrados em manter nossa identidade”, completa Ian Adelman, diretor de design digital do Times. “É fato que existem elementos que ainda lembram um pouco a versão em papel, mas eu realmente não penso tanto sobre isso quanto penso na identidade [da marca] New York Times”.

Publicidade nativa

O novo sistema permite novos tipos de publicidade, o que é fundamental para veículos como o Times, que vêm sofrendo queda na receita de publicidade digital. No terceiro trimestre de 2013, o faturamento caiu 3,4% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O novo layout apresenta grande abertura para a chamada “publicidade nativa”. São os posts pagos, ou publieditoriais, que assemelham-se a artigos jornalísticos – por isso são chamados “nativos” –, mas na verdade trazem a mensagem de patrocinadores. Para distinguir os publieditoriais dos artigos jornalísticos de verdade, eles são cercados por uma margem azul e precedidos por um aviso de que são “pagos e postados por” empresas de fora. Os textos também são formatados em fonte diferente.

O publisher do Times, Arthur Sulzberger Jr., reconheceu em um memorando divulgado no mês passado que os anúncios que se assemelham a artigos “podem ??ser controversos” entre os jornalistas, mas disse que espera que “a publicidade nativa desempenhe seu papel auxiliando a restaurar a receita de publicidade digital rumo ao crescimento (…), algo que precisamos fazer para apoiar nosso investimento no jornalismo do New York Times”.

Os publieditoriais podem ser conferidos neste link.

Conquistar leitores

Ao mesmo tempo em que tenta melhorar sua receita na publicidade digital, o Times ainda depende da venda de assinaturas. A esperança da empresa é que um site mais rico seja capaz de manter os antigos assinantes satisfeitos, e também de conquistar os novos. “Quanto mais os leitores se envolvem, encontrando um artigo sobre um filme intrigante quando vieram para acompanhar as últimas notícias sobre o Afeganistão, mais provável que renovem suas assinaturas e aceitem reajustes anuais nestes valores”, diz o analista de mídia Ken Doctor, autor do site Newsonomics.

A necessidade de satisfazer a ambos, leitores e anunciantes, pode soar como uma estratégia de mídia hermética, coisa de agência de notícias, mas a crescente base de assinantes do Times indica que a experiência do usuário deve continuar a ser o foco. Além disso, mais pessoas têm acessado o Times online do que optado por sua edição impressa. O site recebe cerca de 1,6 milhão de visitantes únicos por dia, ao passo que a circulação do jornal diário está em torno de 730 mil exemplares.

“Tivemos uma grande oportunidade de redimensionar um pouco a experiência publicitária", diz Denise Warren. “A reação tem sido muito boa. Acho que os anunciantes têm ficado satisfeitos com o que têm visto”.

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