Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

‘El País’ é o terceiro jornal a substituir editor-chefe

O El País, principal diário da Espanha, é o terceiro jornal do país a trocar seu editor-chefe. A saída de Javier Moreno foi anunciada na semana passada, em mais um sinal da crise econômica que afeta a indústria jornalística espanhola, com quedas consideráveis de anunciantes e circulação.

A receita publicitária nos jornais espanhóis despencou 65% desde 2007, ano anterior ao início da crise financeira que atingiu diversos países. Com a Espanha em crise, a imprensa continuou a expor casos de corrupção sistêmica e contas bancárias secretas que minaram a credibilidade de instituições como o governo, a monarquia e o empresariado.

O jornalista Pedro J. Ramírez, que foi demitido recentemente do comando do jornal El Mundo – que ajudou a fundar há 25 anos –, acusa as lideranças políticas e empresariais do país de se aproveitar da crise para ampliar seu controle sobre a imprensa. “Fica claro que o governo e instituições econômicas poderosas estão explorando a crise neste modelo de negócios e a fraqueza dos jornais para tentar controlar mais e mais informações”, afirma ele. “O pluralismo está sofrendo”. O El Mundo sempre seguiu uma linha conservadora, mas isso nunca impediu que cobrisse agressivamente episódios de corrupção, incluindo um caso que envolvia o primeiro-ministro Mariano Rajoy e outro sobre o genro do rei Juan Carlos. Ramírez, que continua como colunista no jornal, diz suspeitar que sua demissão do posto de editor-chefe tenha sido uma retaliação do governo e da monarquia. Os donos do El Mundo citam o declínio da receita como justificativa para a substituição do jornalista.

O terceiro jornal a demitir seu editor-chefe foi o La Vanguardia, com sede em Barcelona, que dispensou José Antich no fim do ano passado. Sob sua liderança, o jornal apoiou o movimento separatista da Catalunha, mas desde então adotou uma posição mais moderada.

Sangue novo

O El País se estabeleceu como o principal jornal da Espanha no fim dos anos 1970, em um período crítico em que o país voltava à democracia após a morte do ditador Francisco Franco. O grupo Prisa, proprietário do diário, vem lutando contra o prejuízo, mesmo depois de ter recebido o equivalente a quase três bilhões de reais de uma firma de investimentos com sede em Nova York. No fim do ano, o grupo finalizou um acordo de refinanciamento com seus bancos, conseguindo mais tempo para repor um valor estimado em 10 bilhões de reais. Em outubro passado, o El País enfrentou uma briga trabalhista ao anunciar planos de cortar um terço de sua equipe.

Moreno, editor-chefe desde 2006, deve continuar no cargo até maio, e depois participará do projeto de expansão latino-americana da companhia. “A indústria de jornais está se tornando cada vez mais complicada e dura por conta de todos os problemas que conhecemos”, pondera. “Eu acho que trazer sangue novo para o cargo não é uma má ideia”.

No lugar de Moreno entrará Antonio Caño, que atua como correspondente em Washington e supervisiona a cobertura da América Latina. Antes do anúncio da troca, Caño se envolveu numa gafe ao enviar por engano, a outros correspondentes, um memorando com um esboço de um novo plano para atingir “novas maiorias”.